Delírios Imediatistas Federais e a Reforma Administrativa

AutorWilly Cruz Moura
CargoAluno de graduação do Curso de Direito da UnB(6o semestre)

A reforma administrativa apregoa aos quatro cantos do país que objetiva o fim de um ciclo vicioso formado ao longo dos anos pela mentalidade canhestra tanto dos administradores quanto dos servidores. Pois bem, tão errônea e viciosa quanto o estado atual da máquina administrativa é a filosofia das reformas pretendidas pelo governo federal.

A começar pelos maiores atingidos de toda esta estória: os próprios funcionários públicos (servidores, segundo os mais preciosistas professores de cursinhos preparatórios para concursos). São vistos por todos que não ocupam tais cargos como espertalhões mamando nas tetas do erário, recebendo um salário em troca da prestação de serviços preguiçosos e de necessidade duvidosa. As garantias que os ditos privilegiados recebem seriam uma transposição para o varejão das regalias que juízes e membros do Ministério Público possuem.

A verdade é que a opinião pública se esquece dos técnicos legislativos debruçados horas a fio em um trabalho interminável, dos assessores de Ministros tão estressados com as pilhas de processos quanto os próprios. Esquece-se que estes assessores têm parcela essencial em todos os projetos de lei, pareceres, despachos e relatórios de decisões judiciais. Sim, estamos nos prendendo aos cargos técnicos de atividade fim. Pois bem, há ainda os digitadores cultivando uma tendinite futuramente irreversível, na mesma escala em que o cigarro nos proporciona uma morte lenta, os assistentes judiciários furando e costurando as capas dos processos, os taquígrafos não podendo titubear uma vírgula enquanto os magistrados e políticos falam verborragicamente ignorando sua existência. Todos estes últimos, diga-se mais que de passagem, presos na labuta por um salário incapaz de sustentar um filho que seja com dignidade. Todos estes servidores, em conjunto, ouvindo mídia e opinião pública tecendo comentários e piadinhas no gênero paletó-guardado-no-encosto-da-cadeira. Antes tivessem dinheiro para comprar um paletó que fosse.

A reforma administrativa pinta a já comentada imagem de servidores vilões. O que há de errado em triplicar o salário com uma função gratificada? Há, por exemplo, servidores do executivo que realmente fazem isto e mesmo assim não percebem mais de mil reais mensais. Não param os responsáveis pela administração pública para pensar que, para começar, é o ridículo salário o real vilão pela apregoada preguiça da máquina administrativa. Que incentivo que um auxiliar judiciário tem para fazer seu...

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