Desafios da universidade pública na hipermodernidade

AutorCarla Gandini Giani Martelli
CargoProfessora Doutora do Departamento de Antropologia, Política e Filosofia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP
Páginas151-177
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2013v14n104p151
Desafios da universidade pública brasileira na hipermodernidade
Challenges of brazilian public university in the hypermodernity
Carla Gandini Giani Martelli1
Resumo
Este artigo parte do pressuposto de que os dilemas e desafios por que passa a
universidade pública brasileira são resultados de um processo mais amplo que
atinge toda a sociedade: o Brasil tem que lidar com problemas específicos derivados
de seu processo de modernização, ao mesmo tempo em que está pressionado pelos
novos desafios que advém do processo de globalização hipermoderna. Num diálogo
com a bibliografia especializada, o artigo tem como objetivo mostrar como essa
imbricação moderno/hipermoderno coloca a universidade pública brasileira diante de
demandas cada vez mais complexas e diversificadas.
Palavras-chave: Universidade pública. Globalização. Hipermodernidade. Processo
de Bolonha.
Abstract
This article supposes that the Brazilian public university has dilemmas and
challenges due to a more complex process that affects the whole society: Brazil has
to deal with specific problems of its modernization process, at the same time that it is
under pressure by the new challenges that are resulted from the globalization
process. Based on a specialized literature, the aim of this article is to show how this
interweaving modern/hypermodern process is challenging Brazilian public university
toward more and more complex and diversified demands.
Key words: Public University. Globalization. Hypermodernity. Bologna process.
1. A novidade da globalização hipermoderna
Não há como negar a importância que o tema da globalização assume para a
compreensão da época moderna atual. Das exaustivas discussões a respeito do
tema, conclui-se que não há consenso sobre o caráter de novidade da globalização
atual. Muitos autores afirmam que a globalização sempre existiu, sobretudo, desde
os primórdios do capitalismo, como um sistema mundial e mundializador. As grandes
navegações dos séculos XV e XVI aparecem como marco importante da
globalização, pensada a partir da crescente integração econômica, política e cultural
1 Professora Doutora do Departamento de Antropologia, Política e Filosofia da Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP. E-mail: cmartelli@fclar.unesp.br.
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não Adaptada.
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.14, n.104, p.151-177, jan/jun 2013
das nações. E desde então, muitas denominações apareceram para marcar as
várias fases do capitalismo.2
Para além desse debate sobre a originalidade ou não do termo globalização,
o que interessa evidenciar é a percepção de que “cada época é singularmente
mundial” e que “se é verdade que sempre tivemos globalização capitalista, também
é verdade que nunca tivemos uma globalização como a atual” (NOGUEIRA, 2005, p.
22-23).
Parte-se, portanto, da perspectiva de que estamos vivendo uma nova etapa
da modernização, na qual características anunciadas na primeira modernidade - da
era industrial são radicalizadas. A sociedade globalizada atual radicalizou e
intensificou vários aspectos anunciados na modernidade e, paradoxalmente,
impingiu-lhe novas características. Estamos, portanto, vivendo a segunda
modernidade da era do conhecimento. Partindo de diferentes abordagens, vários
autores conferem à sociedade atual um caráter de “novidade”. Reconhecem que os
componentes típicos do projeto moderno permanecem ativos, mas se aprofundam e
se ampliam, ou seja, o projeto moderno não se esgotou, mas foi reorganizado sob
uma nova cultura material. Giddens (1991) fala em “Modernidade Tardia”, Beck
(1997), em “Modernidade Reflexiva” ou em “Segunda Modernidade”, Lipovetsky
(2004) fala em “Hipermodernidade”, Bauman (2001) fala em “Modernidade Líquida”,
para citar alguns exemplos.
A novidade dessa fase do capitalismo se deu graças ao desenvolvimento das
tecnologias da informação, as quais permitiram, como em nenhum outro momento
da história, derrubar fronteiras espaço-temporais por meio de conexões planetárias,
em tempo real. Para muitos autores, portanto, a inovação da tecnologia da
informação é o ponto central para explicação das transformações que ocorreram no
mundo, pois que, ao transformar nossa cultura material, penetra todas as esferas da
atividade humana. Seria um processo historicamente novo, porque somente nas
últimas décadas do século XX se constituiu um sistema tecnológico
telecomunicações, sistemas de informação interativos e transporte de alta
velocidade em âmbito mundial, para pessoas e mercadorias que tornou possível a
2 Singer fala em globalização negativa ou desglobalização de 1930-45, globalização dirigida ou
keynesiana, de 1945-73, globalização neolibera l, de 1973, em diante. Cf. SINGER, P. Desafios com
que se defrontam as grandes cidades bras ileiras. IN: SOARES, J.A; CACCIA-BAVA, S. Os desafios
da Gestão Municipal Democrática. São Paulo: Cortez, 2002.

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