Desindustrialização e doença holandesa

AutorAndré Leonardo Meerholz
Páginas7-47
Capítulo 1
DESINDUSTRIALIZAÇ‹O E DOENÇA
HOLANDESA
1.1 INDÐSTRIA E DESENVOLVIMENTO ECONłMICO
O grau de desenvolvimento de determinada sociedade se relaciona dire
tamente ao padrão de vida proporcionado aos seus cidadãos O progresso
econômico é resultado da associação de uma série de fatores como incremento
contínuo da produtividade dos fatores de produção grau de avanço tecnoló
gico estabilidade regulatória acesso a bens e serviços p’blicos essenciais ao
exercício da cidadania todos eles convergindo para a expansão do produto da
economia Quanto mais avançado for o estágio em que estes fatores se encon
trem maiores serão as oportunidades para fomento de melhores condições
de vida àqueles que se encontrem inseridos nesta sociedade
Contudo o desenvolvimento econômico não é fruto do acaso Como
apontam MARCON) e ROC(A referenciando o histórico ensinamento de
PREB)S( e FURTADO o desenvolvimento é fundamentalmente um processo
de transformação estrutural Daí porque sua consecução ocorre ao longo
do tempo Muito além de um fato tratase de um processo em que o esforço
voltado para a modernização da economia resulta em profundas modiica
ções no aparato produtivo Os distintos segmentos econômicos são remo
delados Métodos que até então prevaleciam são substituídos por novas
técnicas de produção Os arranjos de custos se alteram pela nova alocação de
fatores de produção Em síntese as estruturas produtivas até então vigentes
cedem espaço e são gradualmente superadas pelo processo de moderni
zação que se impõe sobre a economia
Neste processo de transformação estrutural a industrialização possui
papel de destaque A ind’stria é considerada pela literatura econômica
MARCON) Nelson e ROC(A Marcos Taxa de câmbio comércio exterior e desindustrialização precoce
 o caso brasileiro Economia e Sociedade Campinas v  N’mero Especial dez  p 
8 P-SAL: O MODELO REGULATÓRIO E A NEUTRALIZAÇÃO DA DOENÇA HOLANDESA
como fonte primordial de progresso dado seu imenso potencial de criação
de novos produtos e técnicas de produção aos encadeamentos para frente
ou para trás que dela decorrem bem como pela qualidade do peril de
empregos gerados neste segmento E como parte do processo de trans
formação a industrialização se desenvolve ao longo do tempo por uma
conjunção encadeada de fatores Neste ponto é inevitável a l’cida expli
cação de FURTADO acercas das etapas deste processo
Em uma primeira fase elevamse os coeicientes de exportação e impor
tação as estruturas produtivas especializamse para a exportação e o
sistema como um todo fazse mais rígido Concomitantemente a evolução
da demanda modernização traduzse em crescimento mais que propor
cional dos produtos da ind’stria moderna que são supridos do exterior
O multiplicador interno do emprego realimenta o processo de moderni
zação na medida em que é uma simples prolongação das transformações
induzidas do exterior A partir do momento em que surgem diiculdades
para avançar pelo caminho da especialização exterior multiplicamse as
tensões ao nível da balança de pagamentos Essas tensões reorientam as
transformações estruturais no sentido da estabilização ou declínio do
coeiciente de importações o que somente pode ser obtido mediante a
diversiicação do sistema produtivo em função do mercado interno Essa
diversiicação é a industrialização
Os bens industrializados tendem a se favorecer da elasticidaderenda
positiva que sobre eles recai )sto ocorre porque na medida em que o nível
de renda disponível aos consumidores se torna mais elevado parcela da
renda tende a se direcionar a demanda por bens de maior soisticação Ao
setor de bens manufaturados compete à tarefa de satisfazer esta demanda
latente visto ser aquele em que se re’nem as condições de promoção de
novas técnicas produtivas e de desenvolvimento de novos produtos que
permitam receber esta nova parcela de renda disponível dos consumidores
Da continuidade destas interações se cria o ambiente propício para o cres
cimento de longo prazo e a consequente transformação da estrutura produ
tiva da economia
Daí porque a presença de um setor industrial moderno e capilarizado
se relaciona diretamente ao nível de desenvolvimento econômico de um
país Como observa FURTADO nos países que alcançaram um elevado nível
FURTADO Celso Pequena Introdução ao Desenvolvimento – Enfoque Interdisciplinar São Paulo Nacional
 p 
CAPÍTULO 1 – DESINDUSTRIALIZAÇÃO E DOENÇA HOLANDESA 9
de acumulação o sistema industrial é competitivo em praticamente todos
os seus segmentos
Neste contexto a questão da produtividade assume posição central
Por ela é possível obter uma expansão da oferta de bens em serviços sem
o aumento proporcional do emprego dos fatores de produção ex capital
trabalho A ideia reside em produzir mais com o mesmo Caso esta relação
esteja em descompasso ou seja um cenário em que o aumento dos custos
de produção esteja desacompanhado de um aumento de produtividade
criase o ambiente propício para o desencadeamento da inlação de oferta
Um mero exemplo ilustra com clareza a hipótese Considerando uma
economia com baixa mobilidade do fator de produção trabalho concluise
que para determinada segmento há uma disponibilidade especíica de mão
de obra Caso a demanda por ela esteja calibrada com a sua disponibilidade
os custos de sua aquisição pelo empresário ocorrerão dentro de um mercado
equilibrado Todavia caso a demanda se eleve a mão de obra disponível se
torna escassa Da concorrência entre os empresários se elevaria os salá
rios de contratação e consequentemente os custos de produção caso se
mantenha inalterado o fator de produtividade desta mão de obra dentro
do processo produtivo
A relação proposta remete ao trabalho elaborado por KALDOR autor a
quem se atribui preponderância estabeleceu a relação direta entre o cresci
mento da produtividade e do produto da economia e o comportamento do
segmento industrial O autor propõe modelo dinâmico relacionando o cres
cimento populacional com o equilíbrio do crescimento econômico Segundo
o autor a consistência desta relação se condiciona ao comportamento dos
seguintes fatores i a taxa máxima de crescimento populacional e ii a
taxa de progresso técnico que causa uma certa porcentagem de aumento
da produtividade pelo que população e capital per capita permanecem
constantes
As interações entre estas variáveis indicam que o aumento da renda no
país depende do aumento da produtividade dos fatores de produção e ao
mesmo tempo de um incremento populacional em menor grau para que
o crescimento per capita da produção seja positivo ao inal do processo
FURTADO Celso Não à recessão e ao desemprego Rio de Janeiro Paz e Terra  p 
KALDOR Nicholas A Model of Economic Growth The Economic Journal v  n  dez  p 
Tradução nossa

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