Diferenças de expectativas em auditoria no Brasil

AutorFernando Rocha Pereira, Renata Turola Takamatsu, Laura Edith Taboada Pinheiro
CargoDoutorando em Controladoria e Contabilidade (UFMG), Belo Horizonte/MG, Brasil - Doutora em Controladoria e Contabilidade FEA (USP), Professora do Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em Controladoria e Contabilidade do Departamento de Ciências Contábeis (UFMG), Belo Horizonte/MG, Brasil - Doutora em Contabilidade e Finanças pela Universidad de ...
Páginas56-71
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Artigo
Original
Artigo
Original
Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 18, n. 48, p. 56-71, jul./set., 2021.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8069.2021. e74656
Diferenças de expectativas em auditoria no Brasil
Audit expectation gaps in Brazil
Diferencias de expectativas en auditoría en Brasil
Fernando Rocha Pereira
Doutorando em Controladoria e Contabilidade (UFMG),
Belo Horizonte/MG, Brasil
fernando.contabil@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0002-6784-8677
Renata Turola Takamatsu*
Doutora em Controladoria e Contabilidade FEA (USP)
Professora do Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em
Controladoria e Contabilidade do Departamento de Ciências Contábeis
(UFMG), Belo Horizonte/MG, Brasil
rettakamatsu@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-0422-9895
Laura Edith Taboada Pinheiro
Doutora em Contabilidade e Finanças pela Universidad de Zaragoza
Professora do Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em
Controladoria e Contabilidade do Departamento de Ciências Contábeis
(UFMG), Belo Horizonte/MG, Brasil
ltaboada@face.ufmg.br
https://orcid.org/0000-0002-4511-7208
Endereço do contato principal para correspondência*
Av. Antônio Carlos, 6627, CEP: 31270-901 - Belo Horizonte/MG, Brasi l
Resumo
O trabalho examinou a situação das diferenças de expectativas de auditoria após a revisão das normas
internacionais, que culminaram na aplicação do formato atualizado do Relatório dos Auditores no Brasil, no
ano de 2017. Questionários aplicados resultaram em 185 respostas válidas para análises. O nível de
exigência dos usuários da contabilidade em relação aos deveres dos auditores, captado pela proxy Índice de
Expectativa (IE), foi calculado com base na metodologia desenvolvida por Porter (1993) e adaptado por
Litjens, Buuren & Vergoossen (2015), que abrange: i) gap de razoabilidade, (ii) gap de desempenho dos
auditores e (iii) gap de pades. O teste de Mann-Whitney revelou a perpetuação de evidências empíricas
acerca das diferenças de expectativas documentadas nas últimas décadas. Assim, demonstrou-se que,
mesmo analisando a percepção de auditores e usuários após a alteração da norma, que trouxe melhorias
significativas ao relatório, diferenças de expectativas ainda podem ser detectadas. Testes adicionais
indicaram que não foram encontradas diferenças significativas do índice de expectativas entre gêneros e
diferentes níveis de utilização do relatório de auditoria.
Palavras-chave: Diferenças de expectativas em auditoria; Relatório dos auditores; Novo relatório dos
auditores
Abstract
This paper examined the situation of audit expectations gaps after the review of international standards, which
culminated in the application of the updated format of the Auditors’ Report in Brazil, in 2017. Questionnaires
applied resulted in 185 valid responses for analysis. The level of requirement of accounting users in relation
to the duties of auditors, captured by the Expectation Index (EI) proxy, was calculated based on the
methodology developed by Porter (1993) and adapted by Litjens, Buuren & Vergoossen (2015),
encompassing: i) reasonableness gap, (ii) auditor performance gap and (iii) standards gap. The Mann-Whitney
test revealed the perpetuation of empirical evidence about the differences in expectations documented in
recent decades. Thus, it was shown that, even analyzing the perception of auditors and users after changing
the standard, which brought significant improvements to the report, expectation gaps can still be detected.
Additional tests indicated that no significant differences were found in the expectations index between genders
and different levels of use of the audit report.
Keywords: Audit expectation gaps; Auditors’ report; New auditors report
Fernando Rocha Pe reira, Renata Turola Takamats u, Laura Edith Taboada Pinheiro
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Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 18, n. 48, p. 56-71, jul./set., 2021.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8069.2021. e74656
Resumen
El trabajo examinó la situación de las diferencias en las expectativas de auditoría después de la revisión de
las normas internacionales que culminó con la aplicación del formato actualizado del Informe de los Auditores
en Brasil en 2017. Los cuestionarios, aplicados en dos congresos nacionales y disponibles electrónicamente,
dieron como resultado 185 respuestas válidas para analizar. El nivel de demanda de los usuarios de la
contabilidad en relación con los deberes de los auditores, capturado por el Índice de Expectativas (IE), se
calculó con base en la metodología desarrollada por Porter (1993), que cubre: i) brecha de razonabilidad, (ii)
brecha de desempeño de los auditores y (iii) brecha de estándares. Mann-Whitney reveló la perpetuación de
la evidencia empírica sobre las diferencias en expectativas documentadas en las últimas décadas. Así, se
demostró que aun analizando la percepción de auditores y usuarios tras el cambio de norma, que trajo mejoras
significativas al informe, aún se pueden detectar diferencias en las expectativas. Pruebas adicionales
indicaron que no hubo diferencias significativas en el índice de expectativas entr e los géneros y los diferentes
niveles de uso del informe de auditoría.
Palabras clave: Diferencias de expectativas en auditoría; Informe de los auditores; Nuevo informe de
auditoría
1 Introdução
A auditoria independente tem a função de atestar a confiabilidade das informações financeiras das
entidades (Mafra, Cavalcanti & Penha, 2017). No advento da profissão, auditores eram contratados para
examinar todas as transações das companhias e opinar com precisão sobre a existência ou não de fraudes
(Boyd, Boyd & Boyd, 2001). Com o crescimento das empresas e surgimento de operações cada vez mais
complexas, como transações envolvendo leasing e derivativos, os exames dos auditores passaram a ser
realizados por amostragens e opiniões emitidas com objetivo de assegurar a razoabilidade das
demonstrações financeiras, de acordo com seus aspectos relevantes (Fonseca, Nunes & Santana, 2016).
Apesar da adaptação do papel do auditor ao contexto globalizado, ainda persistem litígios entre
sociedade e auditores, amplificados por escândalos financeiros abarcando companhias brasileiras de grande
porte, como Sadia, Aracruz, Banco Santos, Banco Panamericano e, mais recentemente, Petrobras,
Odebrecht e J&F (Castro, Amaral & Guerreiro, 2019). Os esndalos evidenciam que os usuários das
demonstrações contábeis podem esperar resultados diferentes dos trabalhos dos auditores em comparação
ao que estes realizam (Almeida, 2004). Esses descompassos destacaram as discussões acerca da
integridade das atividades do auditor independente e da eficácia do relatório de auditoria (Mock, Bédard,
Coram, Davis, Espahbodi & Warne, 2013).
Divergências nas expectativas em relação aos deveres dos auditores, entre auditores e demais
usuários das demonstrações contábeis, caracterizam a denominada Audit Expectation Gap (AEG ), tr aduzi das
como Diferenças de Expectativas em Auditoria (DEA) (Sterzeck, 2017). Sua composição pode ser
desmembrada pelas seguintes parcelas:
Diferença de Razoabilidade - descompasso entre as responsabilidades que a sociedade espera
dos auditores e o que é razoável esperar pelos seus trabalhos de acordo com as normas e leis;
Padrões Deficientes - diferença entre as responsabilidades razoáveis esperadas pela sociedade
e as responsabilidades determinadas pelas normas;
Desempenho Deficiente - diferença entre o desempenho que o auditor deveria atender, de
acordo com as normas, e o desempenho percebido pela sociedade (Porter, 1993).
No conjunto das diferenças de expectativas em auditoria, existem também lacunas de informação e
comunicação entre os auditores e não-auditores (demais usuários do relatório) (Turner et al., 2010; IAASB;
2011; Mock et a l., 2013 ; Li tjen s, B uur en & V erg ooss en, 201 5). A lac una de informação pode ser compreendida
como a diferença entre o que os não-auditores desejam receber de informação e o que está disponível para
eles através do relatório (IAASB, 2011), enquanto a lacuna de comunicação representa a diferença entre o
que os não-auditores compreendem e o que é comunicado pelos auditores (Mock et al., 2013).
Devido a constante insatisfação do mercado em relação ao desempenho dos auditores (Cordos &
Fulop, 2015; Defond & Zhang, 2014; Kamau, 2013; Salehi, 2011), ampliada por sucessivos escândalos
financeiros (Enron, 2001; Worldcom, 2002; Xerox, 2002) em conjunto com a percepção dos padrões
deficientes (Porter & Gowthorpe, 2004) foram conduzidas revisões das Normas Internacionais de Auditoria
(ISAs) para atingir, de forma geral, maior transparência e objetividade. De acordo com o IAASB, as revisões
seguiam os seguintes propósitos: identificar e esclarecer nas ISAs os propósitos gerais do auditor; estipular
um objetivo para cada ISA e as obrigações do auditor com relação a cada objetivo; esclarecer as obrigações
impostas ao auditor e a linguagem utilizada; reduzir a possibilidade de ambiguidade sobre as exigências do
auditor a serem atingidas; melhorar a leitura e entendimento sobre as ISAs. A minuta de exposição das novas
normas de relatório foi apresentada em 25 de julho de 2013, no documento denominado “Reporting on Audited
Financial Statements: Proposed New e Revised Internationa l Standards on Auditing(IAASB, 2013). Em 2017,
as novas normas do Relatório dos Auditores no Brasil foram implantadas.

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