DIFERENCIAIS DE RENDIMENTOS POR GÊNERO E RAÇA NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO

AutorDébora Chaves Meireles, Jorge Luiz Mariano da Silva
Páginas73-95
GÊNERO|Niterói|v.20|n.1| 73|2. sem.2019
DIFERENCIAIS DE RENDIMENTOS POR GÊNERO E
RAÇA NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO
Débora Chaves Meireles1
Jorge Luiz Mariano da Silva2
Resumo: O objetivo deste estudo é analisar o diferencial de rendimen-
tos por gênero e raça no mercado de trabalho brasileiro. Utilizou-se, na
metodologia, o procedimento de Heckman (1979) e a decomposição de
Oaxaca-Blinder (1973) conjuntamente com as informações da Pesquisa Na-
cional por Amostra de Domicílio (PNAD), realizado pelo Instituto Brasi-
leiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2009. Os resultados
encontrados mostraram que os homens brancos apresentam maiores ren-
dimentos em relação as mulheres brancas e não-brancas, por terem maio-
res dotações em educação e maiores chances de participarem do mercado de
trabalho. Inclusive, constatou-se discriminação racial no mercado de trabalho.
Palavras-Chave: Raça; Heckman; Decomposição Oaxaca-Blinder.
Abstract: The objective of this study is to analyze the income dierential
by gender and race in the Brazilian labor market. The methodology used was
the Heckman procedure (1979) and the decomposition of Oaxaca-Blin-
der (1973) together with the information from the Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílio (PNAD), conducted by the Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), in 2009. The results found showed that
white men have higher incomes than white and non-white women, becau-
se they have higher educational endowments and are more likely to partici-
pate in the labor market. Including racial discrimination in the labor market.
Keywords: Race; Heckman; Oaxaca-Blinder decomposition.
Introdução
O No contexto histórico, a má distribuição de renda no Brasil, apresenta in-
dícios desde o início da colonização, sendo persistente até hoje. A política de con-
centração de terras caracterizou-se pela formação de grandes latifúndios, atrelado
também ao modelo agrário exportador dos produtos primários. No século XIX, a
1 Doutora em economia pela UFJF e Professora substituta da Faculdade de Economia pela Universidade Federal
de Juiz de Fora. E-mail: deborameireles88@gmail.com
2 Doutor em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco. Professor Titular do departamento de econo-
mia pela Universidade Federal do Paraíba. E-mail: jdalmariano@gmail.com
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distribuição desigual de riqueza, somou-se ao retrato da sociedade escravocrata,
contribuindo para a perpetuação da desigualdade de renda por raça no País.
A evolução da desigualdade de renda por raça no Brasil não é muito vigorante.
Conforme Furtado (2007) e Theodoro (2008) advertem, que o racismo, nasce
com a escravidão e consolida-se com o fim da abolição. Porém, o fim do sistema
de escravidão fez com que a questão da mão-de-obra no País se agravasse e
necessitasse de uma solução, e uma das justificativas quanto a isto, foi a substi-
tuição do trabalho escravo para o trabalho livre. Atenta-se que, a promoção do
trabalho livre na economia ao invés de melhorar as condições de oportunidades
dos negros acabou caracterizando a força de trabalho como “excedente”, ou
seja, a entrada da população negra apenas no setor de subsistência – pequenos
serviços e agricultura -, e em atividades ditas mal remuneradas.
Destaca-se que o processo imigratório europeu foi um dos obstáculos para
a oferta de mão-de-obra dos negros no mercado de trabalho, em que este úl-
timo era concebido como um entrave a acumulação de capital nacional, pois
caracterizava a população negra, em condições subalternas e limitada a inclusão
social e econômica. Assim, o mercado de trabalho expressa a desigualdade de
renda por raça a partir das medidas discriminatórias, e acaba por colocar os
não-brancos em desvantagem com os brancos.
A opção pelo “branqueamento” demográfico causado pela imigração do tra-
balhador europeu, no ano de 1930, justificaria o desaparecimento da variável raça
no discurso político, do desenvolvimento do país, e reforçaria o panorama do país,
composto por uma realidade de desigualdade de renda por diferentes grupos ra-
ciais sendo explicada apenas pela situação cultural e social, exceto pelo seu sta-
tus biológico. Na década de 1940, surge uma interpretação da situação racial, a
partir da dispersão da visão de democracia racial; e no ano de 1950, estabelece
este debate em âmbito nacional. Entretanto, no final da década de 1970, os pes-
quisadores apresentam reflexões sobre a temática da desigualdade e mobilidade
de ordem social, em que os estereótipos e as discriminações deixaram de impres-
sionar apenas o Movimento Negro (JACCOUD, 2008). Bento (2000) afirma
que, nas décadas de 1980 e 1990, a situação dos negros na sociedade brasileira,
foi moldada pelas novas forças de ação política e anti-racismo, proporcionando
assim lutas contra a opressão e discriminação existentes. Ainda assim, no século
XXI, em vez de melhorar, o problema da velha estrutura permaneceu, predomi-
nando, assim, para a elevada concentração de renda.
Dado esse quadro de fragilidade histórico e social, em relação aos diferenciais
de rendimentos por raça, segundo Henriques (2001), o país apresentou signi-
ficativas transformações econômicas, considerando que a taxa de participação
dos negros na parcela da População Economicamente Ativa (PEA) é superior
aos dos brancos, em que observa-se a necessidade do grupo em maioria esta-
rem inserido no mercado de trabalho, devido ao alto nível de pobreza existente.
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