A DIMENSÃO POLÍTICA DAS VESTES DE BABADO E AMOR: VIOLÊNCIAS E RESISTÊNCIAS

AutorBaga de Bagaceira Souza Campos, Renata Pitombo Cidreira
Páginas90-111
90 GÊNERO | Niterói | v. 21 | n. 1 | p. 90-111 | 2. sem 2020
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A DIMENSÃO POLÍTICA DAS VESTES DE BABADO E AMOR:
VIOLÊNCIAS E RESISTÊNCIAS
Baga de Bagaceira Souza Campos1 (in memoriam)
Renata Pitombo Cidreira2
Resumo: Este trabalho traz inquietações que visam compreender a dimensão
política das vestes de Babado e Amor, corpos queers. Na relação entre seus
corpos vestimentados e as cidades de Cachoeira e São Félix, interior da
Bahia, buscamos abordar aspectos sensivelmente políticos a partir de uma
discussão em que imperam os processos de violência e resistência envolvidos
em suas estéticas adornadamente desobedientes. A metodologia aplicada foi
revisão bibliográfica dos estudos pós-estruturalistas e da produção de imagens
enquanto ferramentas perceptivas da potência midiática do vestir.
Palavras-chave: Vestes; Violência; Resistência; Política; Sensível.
Abstract: This paper analyzes the political dimension of Babado and Amor’s
clothes, queer bodies. In the relationship between their dressed bodies and the
cities of Cachoeira and São Félix in the countryside of Bahia, we address the
politically sensitive aspects of a discussion in which the processes of violence
and resistance prevail in their disobedient aesthetics. The applied methodology
was based on a bibliographic review in the field of post-structuralist studies and
in the production of images as a perceptual tool to what is being engendered
as a media power of fashion.
Keywords: Clothes; Violence; Resistance; Policy; Sensitive.
1 Doutorando em Cultura e Sociedade, Universidade Federal da Bahia, Brasil.
E-mail: bagadebagaceira1992@gmail.com. Orcid: 0000-0001-9427-1511
2 Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas, Universidade Federal do Recôncavo
da Bahia, Brasil. E-mail: pitomboc@yahoo.com.br. Orcid: 0000-0002-1281-623X
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GÊNERO | Niterói | v. 21 | n. 1 | p. 90-111 | 2. sem 2020
Introdução
Todos os viados merecem respeito.
Eles lutam pelo seu direito.
A gente já nasceu gritando.
Pai Amor, 2018
Este artigo é parte de uma pesquisa realizada durante o mestrado, entre
2018 e 2019, com as cidadãs das cidades de São Félix-BA e Cachoeira-BA,
respectivamente Tikal Babado e Pai Amor. O nosso corpus empírico, repre-
sentado aqui por Babado e Amor – como assim as chamaremos – se insere
a partir de um debate pujante às questões que envolvem os processos de
resistência do corpo e as violências acometidas. Babado e Amor são corpos
negros e o que chamaríamos de dissidentes de gênero e sexualidades ideais,
as queers, as desobedientes, que adornam seus corpos na contramão dos
ditos modos corretos de se vestir.
O que pretendemos apresentar enquanto dimensão política das vestes
neste trabalho são questionamentos envolvendo as investidas violentas e as
maneiras como Babado e Amor resistem ao adornar-se. Refletimos aqui
sobre o desejo transformador possibilitado por suas vestes no fazer atuante
e político de seu ritmo sociocomunicacional e vestimentado, assumindo nas
imagens produzidas durante a pesquisa uma estética contra-hegemônica e
que potencializa a análise das experiências de suas expressões adornadas.
Trataremos Babado e Amor a partir dos aspectos que envolvem a atuação
política das vestes, bem como nas performances que dizem respeito às suas
sexualidades e gêneros, tidas como degeneradas; refletiremos, portanto,
sobre a relevância dos argumentos desconstrutivos da potência relacionada
ao sujeito queer. Nessa relação se envolvem os modos de se pensar sua ação
resistiva, em conjunto com ideais normativos do meio social e da sua pró-
pria existência vestimentada queer dentro dos espaços.
É importante destacar o perfil potencializador que suas vestimentas pro-
vocam em suas identidades queer, causando estranhamentos e produzindo
resistências. Ainda é certo dizer que a violência da qual sofrem diz respeito
ao modo como emprestam seus corpos adornados nesse jogo social em que
o risco que encaram as atinge de forma unilateral. Assim,propomos abordar
uma relação entre as violências que sofrem e as resistências que engendram
pelo modo como se vestem, afirmando que este embate impulsionado por
suas vestimentas se encontra numa dinâmica desigual de violência.

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