Do alinhamento e autonomia ao engajamento e contenção: o repensar das relações bilaterais Brasil-Estados Unidos

AutorCristina Soreanu Pecequilo
CargoProfessora de Relações Internacionais da UNIFESP
Páginas92-114
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2014v21n32p92
DO ALINHAMENTO E AUTONOMIA AO
ENGAJAMENTO E CONTENÇÃO: O REPENSAR DAS
RELAÇÕES BILATERAIS BRASIL-ESTADOS UNIDOS
FROM ALIGNMENT AND AUTONOMY TO ENGAGEMENT
AND COINTAINMENT: RETHINKING BRAZIL-US
BILATERAL RELATIONS
Cristina Soreanu Pecequilo1
Resumo: Ao longo da história da diplomacia brasileira, as relações bilaterais
Brasil-Estados Unidos evoluíram de forma sólida, mas não isenta de
controvérsias. A oposição alinhamento e autonomia expressa estas contradições
muitas vezes reduzindo as alternativas de política externa do Brasil a uma
visão de cooperação ou conito com os norte-americanos. Todavia, esta é uma
abordagem simplista que não avalia a pauta estratégica dos Estados Unidos ou
compreende suas interações com as potências regionais. Além disso, oferece
uma percepção reducionista dos recursos de poder brasileiros, que defende
um papel de baixo perl no equilíbrio de poder mundial. O objetivo deste
artigo é apresentar uma análise mais realista e pragmática destas relações,
tendo como ponto de partida o olhar norte-americano sobre o Brasil em
termos de engajamento e contenção, demonstrando a importância de que o
país se posicione de forma autônoma no sistema internacional.
Palavras Chave: Política Externa Brasileira; Política Externa dos Estados
Unidos; Relações Bilaterais
*Professora de Relações Internacionais da UNIFESP, Pesquisadora do CNPq, NERINT/
UFRGS, UnB, UNIFESP/UFABC. Este artigo é baseado nas pesquisas desenvolvidas no
âmbito do projeto “Os Estados Unidos e as nações emergentes: contenção e/ou engajamento?
O caso do Brasil”, nanciado pelo CNPq (Bolsa PQ- 2). E-mail: crispece@gmail.com
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Revista Esboços, Florianópolis, v. 21, n. 32, p. 92-114, out. 2015.
Abstract: Considering the evolution of Brazilian diplomatic history, Brazil-
US bilateral relations presented the consolidation of a solid framework, that
is still involved in debates. The polarization of choices between tactics of
alignment and autonomy towards this partner express these contradictions, and
several times it leads to a limitation on Brazilian foreign policy alternatives,
that is reduced to the analysis of how some choices would lead either to
cooperation with the US. However, this is a very simple approach that does
not properly evaluate US strategic agenda or understands its interactions with
regional powers. Moreover, it offers a reductionist perception of Brazilian
power resources that argues in favor of a low prole behavior in the world´s
balance of power. The goal of this article is to present a more realist and
pragmatic analysis of this relations, considering US perception of Brazil
regarding its engagement or containment, pointing out that Brazil needs to
sustain an autonomous stance in the international system.
Key Words: Brazilian Foreign Policy; US Foreign Policy; Bilateral Relations
INTRODUÇÃO
Tradicionalmente, pensar as relações bilaterais Brasil-Estados Unidos
leva à análise das alternâncias entre as políticas nacionais de alinhamento
e autonomia diante da potência hegemônica. Tais alternâncias são bastante
conhecidas em sua evolução histórica, assim como os conceitos de barganha
e subordinação que delas derivam dependendo da opção brasileira naquele
recorte temporal. O conteúdo deste debate revela o peso dos Estados
Unidos para a sociedade, economia, política e cultura nacionais, capaz de
transformar esta nação hegemônica, muitas vezes, no referencial em torno do
qual se dene o interesse nacional. Denição esta, que é, por princípio, tanto
estrutural, quanto negativa, uma vez que tende a estreitar e uniformizar o
cálculo estratégico do país à questão de como os Estados Unidos reagirá (ou
não) a determinada agenda de relações internacionais.
Um exame detalhado deste cálculo e uniformização, que se polariza
entre vantagens ou prejuízos que o Brasil teria diante dos Estados Unidos,
demonstra que se encontra ausente desta equação um de seus mais importantes
componentes: a relação bilateral Estados Unidos-Brasil. Não se trata aqui de
um jogo de palavras, que apenas inverte os nomes dos países, mas sim a
constatação de que é preciso pensar o outro. Do lado brasileiro, porém, pouco
se pensa os Estados Unidos. Ou seja, a denição da relação bilateral na maioria
das vezes não considera a forma como os Estados Unidos percebem o Brasil
em sua pauta estratégica. Além disso, estas avaliações não levam em conta
como os norte-americanos denem seu intercâmbio com potências regionais,
e a percepção do entorno geopolítico e geoeconômico destas potências, e de

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