Donald Trump: a resposta norte-americana aos efeitos desestabilizadores da globalização do capital

AutorCorival Alves do Carmo
CargoProfessor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de Sergipe. Mestre em Economia pela Unicamp
Páginas410-430
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DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2017v24n38p410
Donald Trump: a resposta norte-americana
aos efeitos desestabilizadores da globalização do capital
Donald Trump: the American response
to the destabilizing eects of the globalization of capital
Corival Alves do Carmo1
Resumo: O processo de integração da economia mundial liderado pelos
Estados Unidos gerou efeitos dúbios para o país. Enquanto, as empresas norte-
americanas ampliaram a presença e o domínio sobre a economia mundial,
houve uma deterioração do mercado de trabalho nos EUA e das condições de
vida da classe média, o que gerou um ressentimento em relação à Wall Street
depois da crise de 2008 e também questionamentos sobre os benefícios da
inserção na economia mundial para os EUA. O objetivo do artigo, então, é
analisar como esse contexto favoreceu a ascensão de Trump e suas propostas
para rever algumas das características do liberalismo que pautaram a política
econômica externa dos EUA desde o nal da Segunda Guerra Mundial.
Palavras-chave: Trump, declínio norte-americano, ascensão da China.
Abstract: The process of integrating the world economy led by the United
States has had dubious eects on the country. While US corporations expanded
their presence and dominance over the world economy, there was a deterioration
of the US labor market and middle-class living conditions, which generated
resentment of Wall Street after the crisis of 2008 and also questions about the
benets of insertion into the world economy for the US. The purpose of this
paper is to examine how this context favored Trump’s rise and his proposals to
review some of the characteristics of liberalism that guided US foreign policy
since the end of World War II.
Keywords: Trump, US decline, China’s rise.
Artigo
411
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 410-430, dez. 2017.
Introdução
As eleições de 2016 nos Estados Unidos evidenciaram as contradições
presentes no processo de globalização do capital e as tensões sociais e políticas
daí decorrentes. A partir de espectros políticos bastante distintos, tanto Bernie
Sanders como Donald Trump buscaram apoio nos setores marginalizados
pelo processo de internacionalização do capital norte-americano e pela
integração capitalista em escala mundial e tentaram colocar em Hillary Clinton
a pecha de representante dos interesses da elite globalista. A liberalização
e a desregulamentação comerciais e nanceiras em escala global desde os
anos 1970 promoveram uma reorganização das cadeias produtivas mundiais
alterando os loci dos processos industriais, o direcionamento dos uxos
comerciais e aumentaram a escala e o papel da acumulação nanceira.
Os Estados Unidos são o epicentro de onde se desencadeiam esses
processos, que de um lado, reforçaram a posição do país como emissor
da moeda, centro financeiro e tecnológico, e, de outro, permitiram um
enfraquecimento relativo do setor industrial com o deslocamento do capital para
a Ásia e o México, que acabam por alterar a estrutura do comércio internacional.
O resultado é uma divisão dentro dos Estados Unidos entre os setores
econômicos mais fortemente vinculados às bases econômicas nacionais e pouco
competitivos internacionalmente, e os setores articulados globalmente, que tem
por referência o mercado mundial. Se esta divisão causa tensões e conito no
âmbito empresarial gerando demandas políticas bastante divergentes, o efeito
sobre a sociedade é ainda mais complexo ao aprofundar a desigualdade de
renda entre os trabalhadores dos setores dinâmicos e internacionalizados e os
setores de menor competitividade internacional e baixa produtividade. Ainda
quando o desemprego seja baixo, a qualidade dos empregos se deterioraram
em função das oscilações de salários, jornadas de trabalho, entre outros.
Donald Trump obviamente não faz parte dos perdedores da globalização
nem como indivíduo nem pelas suas atividades empresariais. Entretanto, foi
capaz de incorporar o discurso crítico e nacionalista em relação ao processo de
globalização para alavancar sua carreira política. A posição política e econômica
de Trump é bastante contraditória, converge com a posição tradicional do
Partido Republicano em relação à demanda por redução de impostos, mas
defende o aumento dos investimentos governamentais em infraestrutura, e é
crítico dos processos de liberalização comercial por entender que os Estados
Unidos estão perdendo neste processo ao abrir o seu mercado aos concorrentes
estrangeiros e não haver a reciprocidade esperada por parte dos parceiros. A falta
de coerência interna no discurso de Trump diculta suas relações com o Partido
Republicano, mas coloca obstáculos também para a operacionalização de suas
propostas, e para que seu governo alcance resultados internos satisfatórios.
Nesse sentido, a presidência de Trump deve aumentar a instabilidade
econômica e nanceira internacional, porque as diculdades para se denir o

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