Dos episódios de racismo cotidiano à tomada de consciência da negritude

AutorClebiane Silva
CargoDoutoranda em Estado e Sociedade, Universidade Federal do Sul da Bahia, Brasil
Páginas321-325
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GÊNERO | Niterói | v. 22 | n. 2 | p. 321-325 | 1. sem 2022
RESENHA
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DOS EPISÓDIOS DE RACISMO COTIDIANO À TOMADA DE
CONSCIÊNCIA DA NEGRITUDE
Kilomba, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano.
Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
Clebiane Santos da Silva e Silva1
A partir de testemunhos de mulheres negras, numa escrita que emerge
de um ato político, Grada Kilomba (2019) propõe, para além de uma refle-
xão que poderia se limitar a espaços acadêmicos (já que o livro é também
sua tese de doutorado), uma discussão acerca da atemporalidade do racismo
enquanto projeto engendrado nas teias do colonialismo, destacando suas
manifestações nos eventos ordinários da vida cotidiana.
Há que se dizer do caráter transformador e transgressor-emancipador
da autora ao deixar claro, já na introdução, que ela será quem escreve a sua
própria história e não aquela cuja história será descrita por outra pessoa; ela
será a oposição absoluta do que o projeto colonialista predeterminou, ao
deslocar-se de objeto de pesquisa para sujeito dela.
Em uma produção cuidadosa, plena de intencionalidade e atenta à
informatividade do texto, Kilomba, a todo momento, colabora com a
aceitabilidade do público leitor ao integrá-lo às motivações da escrita e às
opções metodológicas que guiaram o trabalho. A autora também demons-
tra sua preocupação em trazer para a linguagem utilizada a urgência de
novas terminologias que desmontem o que ela designa como linguagem
colonial. Poressa razão, a edição brasileira traz uma carta da autora, antes
da introdução, com observações e problematizações inerentes a termos da
língua portuguesa. A palavra negra/o, por exemplo, deriva da palavra latina
para a cor preta, niger. Entretanto, após o início do que Kilomba chama de
expansão marítima portuguesa (para não usar a expressão “descobrimen-
tos”) a palavra passou a ser usada nas relações de poder entre a Europa
e a África e aplicada aos africanos para definir seu lugar de inferioridade.
1 Doutoranda em Estado e Sociedade, Universidade Federal do Sul da Bahia, Brasil. E-mail:
silvaesilvaclebiane94@gmail.com. Orcid: 0000-0001-7385-1779
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