Drummond e a vanguarda do Prata: o re-invencionismo

AutorJoaquín Correa
Páginas56-76
|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 17, n. 28, p. 56-76, 2017|
doi:10.5007/1984-784X.2017v17n28p56 56
DRUMMOND E A VANGUARDA DO PRATA
o re-invencionismo
Joaquín Correa
UFSC / CAPES
RESUMO: Acompanhando o Manifesto Invencionista do grupo Arte Concreto Invención argentino,
Carlos Drummond de Andrade (re)publicou no número 9, de março de 1947, da revista Joaquim, o
seu texto “Invencionismo”, previamente publicado no Correio da Manhã, em dezembro de 1946.
Um Drummond sumamente informado descreveu, ali, o movimento e fez uma série de críticas. Esse
texto, agora, é lido dentro do que aqui chamamos de “constelação Arturo”, as numerosas e várias
derivas do grupo que, em 1944, lançou a revista Arturo, em Buenos Aires, e definiu a vanguarda
não figurativa, abstrata, concreta ou invencionista no Prata. A variante drummondiana ao projeto
seria colocada ali mesmo, na revista Joaquim, e em outra revista contemporânea dela, a revista
Anhembi: o re-invencionismo ou a escrita do retorno, onde repetição e memória se cruzam para
deixar ver o surgimento das possibilidades que a poeira da história foi deixando quase impercep-
tível nos seus vestígios.
PALAVRAS-CHAVE: Carlos Drummond de Andrade; Arturo; Invencionismo.
DRUMMOND AND THE PLATA’S AVANT-GARDE
the re-inve ncionism
ABSTRACT: Accompanying the Argentinian Arte Concreto Invención group and its Manifesto
Invencionista, Carlos Drummond de Andrade (re)published, in the 9th number of the Joaquim mag-
azine, in 1947, the text “Invencionismo”, previously published in Correio da Manhã, in December
1946. A highly informed Drummond described the movement there and made a number of criti-
cisms. This text is read here in what we call the “Arturo constellation”, the numerous and various
derivations of the group that, in 1944, launched the Arturo magazine in Buenos Aires, and defined
the non-figurative, abstract, concrete, or inventionism in the La Plata River. The Drummondian
variant of the project would be placed in Joaquim magazine and in another contemporary mag-
azine, Anhembi magazine: reinvention or writing of the return, where repetition and memory are
intersected to reveal the dust of history was leaving almost imperceptible in its vestiges.
KEYWORDS: Carlos Drummond de Andrade; Arturo; Inventionism.
Joaquín Correa é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Literatura na Universidade Federal
de Santa Catarina.
|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 17, n. 28, p. 56-76, 2017|
doi:10.5007/1984-784X.2017v17n28p56 57
DRUMMOND E A VANGUARDA DO PRATA
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Joaquín Correa
Mas para mim os mais infelizes do mundo
são os que nascem duvidando si são turcos ou gregos…
franceses ou alemães?
Nem se sabe a quem perten-
ce a ilha de Martim Garcia!…
HISTORIA UNIVERSAL EM PEQUENAS SENSAÇÕES
Terras-de-Ninguem!…1
Isso se perguntava, entre uma série de exclamações, Mario de Andrade
no seu “Poema Abulico”, datado em dezembro de 1922 e publicado no últi-
mo número da revista Klaxon, o número 8-9 de dezembro de 1922 e janeiro
de 1923. A situação de entre-lugar ou, quanto menos, de difícil certificação
de uma identidade fixa dessa ilha que fora ocupada e disputada, sucessiva-
mente, por charruas e guaranis, por espanhóis, portugueses e franceses, por
argentinos, uruguaios e brasileiros, e que serviu, depois, como base militar,
cárcere, lazareto e lugar de desterro e onde Sarmiento pensou fundar a sua
Argirópolis, pode nos ser de utilidade para imaginar as derivas da constelação
Arturo, a vanguarda concreta, não figurativa ou invencionista do Prata além
do Prata, no Brasil e para, em última instância, poder nos deter nesse lugar
onde a poética drummondiana excede a representação e devem figura.
ARTURO Revista de Artes Abstractas, como foi seu nome completo, teve
um único número lançado no verão de 1944 em Buenos Aires. Reunindo em
uma constelação até esse momento inédita poemas, reproduções de pinturas
e esculturas e textos críticos ou teóricos buscava-se dar fundamento a um
enunciado básico: presentar e não representar. A invenção artística devia se
transformar em um fato material, tanto no sentido do materialismo histórico
marxista quanto no sentido fático das assim chamadas ciências duras e expe-
rimentais. A aplicação desse princípio significaria, quase que imediatamente,
não só a expulsão de vários dos seus integrantes do Partido Comunista, no
qual estavam filhados naquele momento, mas também a ruptura do movi-
mento em 1946 em duas vertentes: Arte-Concreto Invención e Arte MADI.
1 ANDRADE, Mario de. Poema Abúlico. Klaxon, n. 8-9, p. 15, dez. 1922 – jan. 1923.

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