Editorial

AutorKátia Maheirie
CargoEditora Geral
Páginas1-3
1
Revista de Ciências HUMANAS, Florianópolis, v. 49, n. 2, 1-3, jul-dez 2015
Editorial
Produção cientíca no consenso/dissenso: breves questões
Diante de crescentes ondas de conservadorismo no cenário nacional e no
mundo, urge pensarmos mais atentamente no que se chama de “ssuras” ou
“quebras” em um sensível partilhado (RANCIÈRE, 2012) e tornado pratica-
mente hegemônico neste campo. Em uma sociedade na qual o consenso impe-
ra como forma de organização política, os espaços de dissenso são considera-
dos como equívocos, atrasos, ações que caracterizam a volta ao primitivismo
ou aberrações que a natureza não aprovaria. Em síntese, o dissenso é um erro
na perspectiva da ordem que estabelece os lugares e funções dos corpos, das
crenças, da cor, as etnias, das subjetividades.
Ora, se na perspectiva do normativo o dissenso é um erro, o correto seria,
então, o consenso. Mas para mantê-lo ou conquistá-lo faz-se necessário silen-
ciar, invisibilizar, esconder e/ou eliminar os que contra ele se rebelam. Este
é um dos pontos nodais das práticas de intolerância que temos assistido nos
últimos tempos em diferentes pontos deste mundo.
Faz-se importante, assim, que a ciência possa dar espaço a investigações
que possibilitem a problematização de questões tidas como naturais e consen-
suais para que, por meio de uma forma especíca de “ssura” no tecido nor-
mativo, possa compreender as experiências no campo do político. Em conse-
quência, faz-se fundamental a divulgação, a visibilidade deste conhecimento,
para que se possa realizar amplos debates, a partir de uma lógica agonística,
no campo do saber.
É neste “espírito” que publicamos o número 2 do volume 49 deste pe-
riódico cientíco, no compromisso de visibilizar formas de ocupação do
espaço público, práticas de reparação de danos por meio de políticas pú-
blicas e outras pesquisas que possibilitam olhares acerca dos recursos de
enfrentamento a desigualdade, a qual se coloca na base de múltiplas formas
de sofrimento humano.
Abrimos o número com o artigo “Ortega y Gasset: Universidade e Ciên-
cia”, José Mauricio de Carvalho e Mauro S. de C. Tomaz, defendem que a
análise orteguiana, apesar de ter pontos comuns com a análise realizada por

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