Editorial

AutorJoaci Cunha - Ângela Borges
Páginas1-1
449
Cadernos do CEAS, Salvador, n. 238, p. 449, 2016.
EDITORIAL
Esta edição especial Criminologia crítica e questão racial retoma a tradição dos
Cadernos do CEAS de reverberar a luta contra a discriminação, o preconceito e o
racismo, desta feita colocando o dedo em chagas secularmente abertas da sociedade
brasileira, a saber, o direito penal e seu sistema prisional, a segurança pública e a
política antidrogas, todas elas manifestações concretas do estado de beligerância
permanente contra os negros, pobres e excluídos da terra, dos meios de produção e de
políticas públicas de qualidade. Essas feridas explicitam a natureza socialmente
perversa do sistema socioeconômico e o caráter de dominação social e racial do seu
arcabouço jurídico penal, que indubitavelmente projeta-se contra os negros e pobres das
periferias urbanas e rurais de Norte a Sul deste país.
Centrada nos estudos sociológicos relacionados ao crime, a base empírica dos artigos
aqui publicados evidencia o que todos percebem cotidianamente, a máquina judicial-
penal concentra sua ação destacadamente sobre os negros. Mas, como entender essa
constatação? Por que isso continua a ocorrer? Por que se naturaliza socialmente essa
aberração no Brasil? Na tradição dos Cadernos, talvez, a base argumentativa para
apresentar uma resposta inicial a tais questões buscasse apoio nas elaborações de
Florestan Fernandes, Otávio Ianni, Eric Williams, Robin Blackburns, para citar algumas
referências anti-capitalistas da teoria crítica ou do marxismo. Mas esse não é o caso
desse número especial.
Na perspectiva teórica da edição especial Criminologia crítica e a questão racial o
elemento analítico fundamental para se compreender a realidade antes mencionada é o
racismo. Nesse sentido, ao contrário de focar a reprodução das desigualdades raciais
(poderíamos acrescentar também as de gênero, geração etc.), como elemento central da
engrenagem socioeconômica brasileira, a abordagem analítica aqui adotada prioriza o
aspecto cultural e ideológico representado pela noção de racismo, cuja força heurística
possibilita, na compreensão dos seus autores, a adequada compreensão da realidade
social-racial construída em quase 400 anos de escravidão no país.
Por fim, deve ser dito, que as breves observações conceituais a respeito da edição
especial que ora publicamos desejam, apenas, ressaltar o caráter plural e democrático
dos Cadernos, abertos às abordagens críticas de matizes variados, buscando a reflexão
livre e criativa dos nossos colaboradores e leitores.
Boa leitura.
Os editores
Joaci Cunha e Ângela Borges

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