Editorial.
| Autor | Silva, Ana Paula Procópio da |
| Cargo | REVISTA EM PAUTA - Editorial |
Este segundo numero do dossie Questao etnico-racial e antirracismo tem uma diferenca temporal relativamente breve em relacao ao anterior. Contudo, esses poucos meses demarcam um abismo de tempo, em funcao do que tem sido vivenciado no contexto da pandemia mundial de Covid-19, causada pela propagacao do virus SARS-CoV-2 ou Novo Coronavirus. Uma realidade que nao somente produz repercussoes de ordem biomedica e epidemiologica em escala global, mas que reproduz e exibe cruamente as iniquidades ja presentes na vida de amplos segmentos sociais antes da pandemia. Sem vacinas ou medicamentos especificos, ate o momento, as medidas de distanciamento social e de isolamento configuram as recomendacoes basicas da Organizacao Mundial de Saude - OMS para a contencao da circulacao do virus e reducao do contagio. A despeito das orientacoes a crise sanitaria avanca. No mundo, sao mais de 10.500.000 infectados, com mais de 500.000 mortes. No Brasil, sao mais de 1. 500.00 de casos confirmados e mais de 60.000 pessoas perderam suas vidas. Um quadro que precisa ser visto para alem de uma fatalidade neutra em sua trajetoria de parasitar aleatoriamente organismos humanos. A circulacao do virus nao e democratica. Ainda que possa atingir todas as pessoas, indiscriminadamente, as possibilidades de aderir as orientacoes da OMS sao desiguais. A capacidade de protecao e as chances de recuperacao frente a ameaca biologica reproduzem as condicoes sociais injustas. A crise pandemica, acirra e escancara contradicoes estruturais da organizacao social capitalista. Nessa direcao, os numeros da mortalidade de populacoes negras por Covid-19 repetem os dados de desigualdades de mortes entre populacoes negras e brancas anteriores a pandemia. Nao menos relevante, o descontrolado alargamento da contaminacao tem afetado severamente os povos indigenas. Segundo a Articulacao dos Povos Indigenas do Brasil (APIB), em levantamento realizado recentemente pelo seu Comite Nacional pela Vida e Memoria Indigena, mais de 6 mil indigenas foram infectados pela doenca e 315 morreram, totalizando 108 povos atingidos diretamente.
Em meio a pandemia, no dia 25 de maio de 2020, nos Estados Unidos, o assassinato de George Floyd por um policial que permaneceu ajoelhado sobre o seu pescoco durante oito minutos e quarenta e seis segundos, deliberadamente impedindo-o de respirar, mostrou que o "novo normal" nao se resume a velha indiferenca. Atraves da tecnologia, as imagens do homicidio, "viralizaram" e contagiaram as pessoas ao redor do mundo para sair as ruas contra o racismo e o fascismo, afirmando que "VIDAS NEGRAS IMPORTAM". No Brasil, poucos dias antes, o...
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