Editorial: Antonio Gramsci

Páginas9-10
EDITORIAL
R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 1, p. 09-10, jan./abr. 2017
Antonio Gramsci
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2017 é o ano em que se comemoram algumas datas importantes: 80 anos da morte de Antonio Gramsci,
100 anos da Revolução russa, 50 anos do assassinato de Che Guevara, 20 anos do falecimento de Paulo Freire.
Conectado com esse legado histórico, o número da prestigiosa Revista Katálysis apresenta conteúdos que se
erguem contra o estado de exceção imposto no Brasil com o intuito de sepultar, mais uma vez, as lutas pelos
avanços da democracia e a socialização do poder econômico, político e cultural. E, de fato, ao mesmo tempo
em que se inspiram no extraordinário pensamento derivado dos embates populares travados no século 20, os
autores dos artigos contidos nas páginas a seguir não tiram os olhos das candentes problemáticas contemporâ-
neas, particularmente, da crise que assola o Brasil nesses últimos anos.
Resultado de pesquisas de um considerável grupo de estudiosas(os), as reflexões aqui propostas não
poderiam ser mais atuais e oportunas em um dos períodos mais cruciais da história do Brasil, talvez, a maior
prova de fogo para a nossa jovem e mutilada democracia. Por isso, as análises que versam sobre a democracia
e as preocupações a respeito do seu futuro aparecem claramente visíveis em diversos artigos e figuram como
pano de fundo nos demais. Fernando Gaudereto Lamas e Ednéia Alves de Oliveira situam devidamente a
questão da democracia na atual ordem sócio metabólica do capital e no quadro do acirramento da luta de
classe. Mostram que a sua configuração está relegada ao mero discurso retórico e à fraseologia burguesa e
que se tornou refém de um capitalismo cada vez mais devastador e concentrado em manipular as instituições
políticas e o imaginário coletivo para assegurar sua hegemonia e esvaziar qualquer tentativa de construção da
soberania popular. À luz do referencial teórico de Gramsci e dos debates em torno da democracia, também
Emilie Faedo Della Giustina e Danuta Estrufika Cantóia Luiz traçam um quadro complexo e crítico do contexto
nacional, percorrendo o período que vai da redemocratização do Brasil até as jornadas de 2013.
Em tempos sombrios como o nosso, Douglas Ribeiro Barboza e Jacqueline Aline Botelho Lima Barboza
não poderiam ter sido mais certeiros com o texto Sociedade regulada e do radicalismo democrático, re-
construindo o campo teórico do marxismo efetuado por Gramsci e mostrando que, para solucionar a grave
crise que afeta o Brasil e o mundo, o caminho a percorrer é a criação de uma sociedade (auto)regulada onde
a divisão entre governantes e governados é superada pelo protagonismo e a organização política das classes
subalternas. Nesta mesma direção, a radicalidade política do conceito de ‘libertação, a concepção interdisciplinar
e a práxis político-pedagógica dos oprimidos que carrega, inclusive, uma educação ambiental crítica, são resga-
tadas por César Augusto Costa e Carlos Frederico Loureiro no artigo sobre Paulo Freire, o indispensável
educador do inédito viável e dos caminhos para uma pedagogia revolucionária.
Conectadas ao tema da democracia surgem questões relativas à função dos intelectuais, à cultura, ao
racismo, à homofobia e às inúmeras batalhas moleculares que as classes desapropriadas travam na história
cotidiana na conquista de seus direitos e no reconhecimento das múltiplas subjetividades sociais e políticas.
Neste sentido, ao reconstruir a análise política de Gramsci sobre a função dos intelectuais, da cultura e das
classes subalternas na Itália, Daniela Xavier Haj Mussi coloca a questão crucial e atual do desempenho dos
intelectuais orgânicos nas lutas de resistência frente ao projeto de contrarreforma em curso no Brasil. Sensibi-
lidade similar encontra-se também no texto Trabalho socioeducativo no Serviço Social à luz de Gramsci:
o intelectual orgânico, de Adriana Giaqueto Jacinto, que evidencia a contribuição do pensamento de Gramsci
na análise das relações entre política e cultura e na práxis educativa do assistente social na realidade popular
brasileira. Em sintonia com essas questões, no inusitado artigo Contribuições gramscianas sobre raça,
identidade cultural e velhice na perspectiva de Stuart Hall, de Elaine Lima da Silva e Juceli Aparecida da
Silva, abrem um campo de reflexão sobre fenômenos cada vez mais difundidos no Brasil. Abordando, também,
um tema pouco estudado no âmbito do marxismo, Serviço Social e homofobia: a construção de um debate

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