Editorial: Dilemas e desafios postos à Pós-graduação brasileira

AutorMariangela Belfiore Wanderley
CargoDoutorado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Professora do Departamento de Política e Gestão Social da Faculdade de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
Páginas139-141
EDITORIAL
R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 2, p. 139-141, maio/ago. 2017 ISSN 1982-0259
Dilemas e desafios postos à Pós-Graduação brasileira
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Nada mais oportuno do que abrir o debate sobre a Pós-Graduação no âmbito do Serviço Social, num
contexto especialmente crítico da educação brasileira, decorrente de uma crise econômica – que é parte
constitutiva do movimento do capital (BEHRING, 2010) - ampliada por uma profunda e prolongada crise
política e ética em nosso país.
Os vários artigos que compõem este número da Revista Katálysis nos brindam com importantes e
fecundas análises acerca dos dilemas postos para a educação superior brasileira, com a finalidade de desvelar
os desafios inerentes à formação pós-graduada e, mais especificamente, para a área do Serviço Social.
Como política pública, a educação vive uma profunda contradição que se coloca entre os interesses do
capital e aqueles dos trabalhadores quanto ao acesso, criação e socialização do conhecimento (IAMAMOTO,
2014). A formalização da Pós-Graduação brasileira tem pouco mais de 50 anos. Deu-se pelo Parecer MEC/
CFE n. 977/1965 (conhecido como Parecer Sucupira), podendo ser considerada jovem se comparada a outros
países da América do Norte e da Europa que, aliás, inspiraram o modelo brasileiro de ensino superior.
A educação pós-graduada brasileira tem sido considerada, internacionalmente, como um caso de suces-
so, com grande destaque para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
sobretudo no que tange à avaliação, e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), no apoio à pesquisa, como sujeitos fundamentais desse sucesso.
O Plano Nacional de Educação 2014-2024 – que se auto define como instrumento de planejamento do
nosso Estado democrático de direito – orientador da execução e do aprimoramento de políticas públicas do
setor, apresenta em sua meta 14 a elevação gradual do número de matrículas na pós-graduação stricto sensu,
indicando dentre as suas estratégias, a ampliação de financiamento aos programas e aos estudantes. No
entanto, para que essa e outras metas sejam alcançadas, são muitos os desafios que se colocam para a pós-
graduação brasileira, dentre os quais destacamos dois deles: as desigualdades sociais, marca nefasta presente
desde as origens remotas de nosso país e que dificultam a inclusão no ensino superior de nossos jovens,
especialmente aqueles oriundos da classe trabalhadora e de segmentos étnico-raciais, como negros e indíge-
nas; políticas que expressam projetos societários diversos que disputam a concepção, a expansão, o acesso à
educação de qualidade para todos.
A pesquisa, alicerce da educação pós-graduada, necessita de investimentos. O financiamento da pesqui-
sa é outro fator que influencia diretamente a qualidade da formação e os resultados dela decorrentes. Pesqui-
sas que resultem em conhecimentos que possam ter significado para a sociedade, exigem autonomia das
universidades e dos seus pesquisadores. A quem a ciência deve servir num país como o nosso, em que tantas
mazelas sociais, econômicas e éticas decorrem da disputa por projetos sociais distintos, expressos por projetos
de classes para a sociedade?
A mercantilização da educação superior privada é uma realidade que vem se ampliando a largos passos.
A perversa discussão da privatização da educação superior pública, ganha espaço e se inicia pela discussão da
pós-graduação lato sensu e se alastrará envolvendo a graduação e pós-graduação stricto sensu. Estas são as
tendências da reconfiguração da educação superior, que já se iniciou nos outros níveis da educação brasileira
e que parece se distanciar cada vez mais das demandas sociais e ético-políticas para o setor.
São tantos os limites socioeconômicos da expansão da educação superior pública e privada. Amaral
(2016), em artigo sobre a educação superior brasileira, com base em estatísticas oficiais, demonstra
haver indícios de que a população está atingindo um limite que impossibilita às famílias o financiamento da
educação superior de seus membros, tanto em instituições públicas como privadas, pois a questão não se
reduz ao acesso uma vez que a permanência dos estudantes nos cursos superiores representa um custo
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1982-02592017v20n2p139

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