EDUARDO GRAÇA, de Nova York

Por um Natal alternativo nas ilhas do norteNova York já respira Natal. Flocos de neve falsa caem nas vitrines de lojas da cidade, vendedores recitam sem parar o politicamente correto "feliz feriado" e árvores iluminadas transportam moradores e turistas para uma cidade-fantasia, em que carruagens cobertas se movimentam pela força de felizes renas, e não pelo esforço dos maltratados cavalos amontoados na avenida Central Park South. Mas o esbarrão de uma senhora de forte sotaque texano tentando passar à minha frente na escada para o segundo andar da loja de brinquedos FAO Schwarz me desperta do transe e resmungo, em voz alta, que não aguento mais José Feliciano berrando "Feliz Navidad/feliz Navidad/prospero año y felicidad".Não, o espírito de Ebenezer Scrooge não baixou no colunista, mas é preciso entender que Feliciano está para Nova York como a Simone de "Então é Natal" para quem não se refugia em potentes fones de ouvido em tempo integral no fim de ano brasileiro. Depois de oito anos na cidade querida, os prazeres da temporada natalina se escondem agora em detalhes, sabores, cheiros e lugares que nem sempre são os mais obviamente relacionados à festa de luz que atrai turistas e sacoleiros para Manhattan. É claro que ainda é possível se divertir no rinque de gelo do Rockefeller Center emendando com um tradicional show das Rockettes no Radio City Hall. Ou de encarar uma corrida de carruagem do hotel para conferir o New York City Ballet apresentando mais uma vez o "Quebra-Nozes" de George Balanchine. Mas há mais, tão mais...Começo o sábado frio buscando o aroma das castanhas tostadas da Quinta Avenida, nas imediações do Museu de Arte Moderna (MoMA). Comê-las - cada saquinho sai por US$ 4, mas tente parar na primeira leva - é um ritual que fica ainda mais sublime se acompanhado das imagens que compõem a ótima "New Photography", que todos os anos oferece um painel das novidades da área. Este ano, as obras parecem girar em torno da cada vez mais nebulosa relação da fotografia com o real, e minhas imagens favoritas são as fotos voyeurísticas de Deana Lawson, fiel discípula de Nan Goldin. A narrativa das imagens escolhidas pela artista do Brooklyn se revela nos corpos de seus modelos, por ela batizados de "família imaginária", posto que são, apesar da insinuação de intimidade, completos estranhos. Ao contrário do Oi Futuro, que cancelou recentemente a exposição de Nan Goldin, o MoMA apresenta com alegria as imagens de Lawson, inclusive a de uma família de...

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