Efeitos da transferência de tecnologia de Universidades Norte Americana e Brasileiras no capital humano ténico e científico
Autor | Daniela Althoff Philippi, Emerson Antonio Maccari |
Páginas | 86-101 |
Daniela Altho Philippi • Emerson Antonio Maccari
R C A
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
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RESUMO
A Transferência de Tecnologia Universidade-Empresas (TT U-E)
é adotada como estratégia de inovação aberta. Destaca-se o
de Ecácia Contingente, que possibilita a descrição de TTs e
seus efeitos, como no capital humano, técnico e cientíco.
Contudo, a cultivar, um dos meios de TT de grande valor social
e econômico, não é citada no modelo. O objetivo da pesquisa
foi vericar os efeitos no capital humano, técnico e cientíco de
processos de TT-UE de cultivares no Brasil e nos EUA. Adotou-se
o estudo multi-casos, com pesquisa documental e entrevistas
com agentes (universidades) e receptores (organizações) no
segundo semestre de 2014, e análise cruzada. Revelaram-se
diferenças nos contextos nacionais de inovação e que o estudo
do capital humano técnico e cientíco deve se estender à cria-
ção de redes de conhecimento e à habilidade de comunicação
entre academia e organizações, contribuindo, pois, para maior
percepção dos efeitos da TT U-E, especialmente de cultivares.
Palavras-chave: transferência de tecnologia. Universidades.
capital humano técnico e cientíco.
ABSTRACT
The University-Enterprise Technology Transfer (U-E TT) is adop-
ted as a strategy of open innovation. The Eective Contingent
type is highlighted, as it allows the description of TTs and their
eects on the human, scientic and technical capital. However,
the cultivar, a TT with great social and economic value, is not
mentioned in the model. This study investigated the eects of
processes of E-U TT of cultivars on human, scientic and tech-
nical capital in Brazil and in the United States. The multi-case
study was adopted with documentary research and interviews
with agents (universities) and receivers (organizations) in the
second semester of 2014 as well as the cross-analysis. The
results show dierences in innovation in the national contexts.
The study of human, scientic and technical capital should
extend to the creation of knowledge networks and the ability
of communication between the academy and organizations,
contributing to greater perception of the eects of E-U TT,
especially of cultivars.
Keywords: technology transfer. Universities. scientic and
technical human capital.
EFEITOS DA TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA DE
UNIVERSIDADES NORTE AMERICANA E BRASILEIRA
NO CAPITAL HUMANO TÉCNICO E CIENTÍFICO
Effects of Technology Transfer from American and Brazilian
Universities on the Scientific and Technical Human Capital
Daniela Altho Philippi
Doutora em Administração pela Universidade Nove de Julho
(UNINOVE). Professora Adjunta da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul (UFMS). Cuiabá, MS. Brasil.
e-mail: daniela.philippi@ufms.br
Emerson Antonio Maccari
Doutor em Administração pela USP (2008) com Estágio Doutoral na
University of Massachusetts Amherst (USA). Diretor e Professor do
Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA - UNINOVE).
São Paulo, SP. Brasil. e-mail: emersonmaccari@gmail.com
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2018 V20n51p86
Recebido em: 15/02/2017
Revisado em: 08/07/2018
Aceito em: 17/07/2018
Efeitos da Transferência de Tecnologia de Universidades Norte Americana e Brasileira no Capital Humano Técnico e Cientíco
Revista de Ciências da Administração • v. 20, n. 51, p. 86-101, Novembro. 2018 87
R C A
1 INTRODUÇÃO
A busca do conhecimento por parte das organi-
zações em instituições de pesquisa ou universidades
tem sido crescentemente enfatizada como objeto de
estudo e na prática, no desenvolvimento de inovações
que beneciem ambos e a sociedade. A importância
de interações entre universidade e empresas para a
inovação está presente no surgimento de conceitos
sistematizados como os de Sistema Nacional de
Inovação (SNI) (FREEMAN, 1995; LUNDVALL,
1992), modelo da Triple Helix (ETZKOWITZ, 2011;
ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000; ETZKOWITZ,
2002), inovação aberta (CHESBROUGH, 2003) e têm
promovido, ao longo dos anos, a transferência de
tecnologia entre universidade e empresa (TT U-E).
Entende-se a TT U-E como a passagem de conhe-
cimentos gerados pela universidade a empresas que
proporciona inovação e maior capacidade tecnológica
(CLOSS; FERREIRA, 2012) e se rma como estratégia
de desenvolvimento tecnológico e econômico no al-
cance de diferencial competitivo no mercado.
Contudo, no Brasil, em comparação com países
mais desenvolvidos, como os EUA, tal prática é con-
siderada recente, o que se verica em indicadores e
leis especícas. Indicadores de inovação dos países,
particularmente os voltados a esta interação como
propulsora da inovação, apontam o Brasil em 54° lugar
dentre 144 países, em comparação com o 2° dos EUA,
conforme o World Economic Forum (WEF, 2015).
Como estímulos à TT U-E, no âmbito legal bra-
sileiro destacam-se as Leis de Propriedade Intelectual,
em 1996, a de Inovação, em 2004 (CORRÊA, 2007;
GOMES et al. 2011) e a Lei n º 13.243, de 11 de janeiro
de 2016, que promoveu a atualização do marco legal
da ciência, tecnologia e inovação (MDIC, 2017).
Enquanto que nos EUA, com notória antecipa-
ção, a Lei Bayh-Dole, em 1980 (MOWERY; SAMPAT,
2005; SIEGEL; WALDMAN; LINK, 2003; MOWERY
et al., 2001; JENSEN; THURSBY, 2001; HENDER-
SON; JAFFE; TRAJTENBERG, 1998).
O resultado de fatores como a burocracia exces-
siva e os baixos investimentos para as pesquisas na
maior parte das universidades brasileiras é o registro
de poucas patentes, indicador comumente utilizado
para medir o nível de inovação tecnológica, apesar da
inovação se consolidar, efetivamente, quando inserida
no mercado. As universidades brasileiras formam
doutores, mas as pesquisas geram poucas patentes e
inovação tecnológica (SENADO, 2012).
Dentre os benefícios da TT U-E na literatu-
ra estão os apresentados por Bozeman (2000) no
‘Modelo de Ecácia Contingente de Transferência
de Tecnologia’, modelo expressivo nos estudos de
TT U-E dada a grande quantidade de citações do
seu artigo seminal em recente busca sobre o tema
com a utilização do Web of Science. No modelo, por
intermédio de critérios de ecácia, o autor faz alusão
a benefícios da TT como os econômicos, os merca-
dológicos, os de custo de oportunidade, os políticos
e os de capital humano técnico e cientíco. O autor
também menciona objetos da TT U-E sem, contudo,
incluir cultivar que, segundo o Ministério da Agri-
cultura, Pecuária e Abastecimento brasileiro (MAPA,
2016), corresponde ao resultado de melhoramento em
variedade de planta diferenciando a das demais em
sua coloração, porte, resistência a doenças.
A cultivar, modalidade especíca de proprie-
dade intelectual, recentemente formalizada no
Brasil (AVIANI, 2011), apresenta relevância social
(ROCHA, 2011) e econômica pela possibilidade,
segundo o United States Department of Agriculture
– Agricultural Marketing Service (USDA, 2015), de
maior produtividade agrícola, na melhor adaptação
às mudanças climáticas e na maior efetividade no
controle de pestes e de doenças, alinhando-se ao
crescimento populacional mundial.
Bozeman, Dietz e Gaughan (1999), Rappa e
Debackere (1992), Autio e Laamanen (1995), Lynn,
Reddy e Aram (1996) e Bidault e Fischer (1994),
Bozeman e Rogers (1998) destacam a importância
de estudos sobre o capital humano técnico cientíco
em TTs, um dos critérios de ecácia do modelo de
Bozeman (2000), que, segundo o próprio autor, nem
sempre enfatizado em pesquisas.
Desta maneira, buscou-se o estudo do capital
humano técnico cientíco em TTs e, sabendo-se da
lacuna na literatura de TT U-E com a aplicação do
modelo de Bozeman em cultivares, a pesquisa ora
apresentada envolveu cultivares, que passaram por
processos de TTs bem sucedidos, em países com
evidentes diferenças no desenvolvimento tecnológico
(Brasil e EUA).
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