O ENLACE ENTRE GÊNERO, ETNIA E CLASSE SOCIAL

AutorAngela Maria Moura Costa Prates, Dienifer Aparecida Lopes
Páginas275-299
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GÊNERO | Niterói | v. 20 | n. 2 | p. 275-299 | 1. sem 2020
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O ENLACE ENTRE GÊNERO, ETNIA E CLASSE SOCIAL
Angela Maria Moura Costa Prates1
Dienifer Aparecida Lopes2
Resumo: O objetivo deste artigo é analisar as conexões entre gênero, etnia
e classe social, seus reflexos e contribuições para a desigualdade entre
homens e mulheres. Na metodologia foi utilizada a revisão de literatura e
pesquisa documental, bem como uma abordagem qualitativa e quantitativa.
Apresentou-se uma discussão teórica das categorias gênero, classe social e
etnia. Em seguida, há uma discussão sobre os papéis sociais, demonstrando,
através dos dados coletados, a desigualdade de gênero e sua interface com
etnia e classe social. Assim, percebeu-se que as categorias gênero, etnia e
classe social juntas influenciam as escolhas, decisões e a posição social das
mulheres na sociedade.
Palavras-chave: nero; etnia; classe social.
Abstract: This paper analyzes the relation between gender, ethnic and social
class, its reflections and contributions for inequality between men and
women. For the methodology, a literature review and documentary research
was conducted under a qualitative and quantitative approach. The categories
gender, social class and ethnicity are discussed together with social roles,
and gender inequality and its interface towards ethnic and social class is also
presented. The results show that these categories in conjunction influence the
choices, decisions and social position of women in society.
Keywords: Gender; ethnic; social class.
Introdução
As relações de gênero pautam-se numa herança do sistema patriarcal,
que é baseado em uma cultura machista e sexista que perpassa historica-
mente a sociedade, reafirmando o posicionamento de dominação mascu-
lina e submissão feminina. Nesse contexto, este artigo tem como objetivo
1 Doutora em Serviço Social, Universidade Estadual do Centro-Oeste, Brasil. E-mail: pratesammc@gmail.com.
Orcid: 0000-0003-0594-6463
2 Graduanda em Serviço Social, Universidade Estadual do Centro-Oeste, Brasil. E-mail: dheny_lopes@live.com.
Orcid: 0000-0002-9450-3607
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analisar as conexões entre gênero, etnia e classe social e seus reflexos e
contribuições para a desigualdade entre homens e mulheres.
Como procedimento metodológico utilizamos uma abordagem qua-
litativa e quantitativa, entendendo que ambas são complementares
(MARTINELLI, 1999). Utiliza-se também a revisão de literatura e de pes-
quisa documental para mostrar a desigualdade de gênero e sua relação com
etnia e classe social.
Nesse sentido, discutem-se as categorias gênero, etnia e classe social,
que se desenvolvem ao longo da história, e quais particularidades elas apre-
sentam em cada momento. Desmistificam-se, assim, os papéis sociais cul-
turalmente atribuídos a homens e mulheres. Compreende-se a desigual-
dade de gênero e sua interface com etnia e classe social através dos dados
coletados e, a partir disso, elencam-se como categorias de análise o modelo
familiar, domicílios chefiados por mulheres, cursos superiores com maior e
menor prestígio social, acesso à educação, mercado de trabalho e violência.
Gênero, etnia e classe social
A população brasileira foi colonizada por uma elite branca que tentou
de todas as maneiras impor sua cultura como dominante, explorando não
somente as riquezas desta terra, como também seus habitantes nativos,
depois os negros que aqui chegaram, trazidos de África apinhados em
navios negreiros, e mais tarde imigrantes de diversos países. É importante
salientar que os negros foram arrancados de suas terras, de suas famílias,
escravizados e brutalmente violentados. Suas crenças e costumes foram
desprezados e menosprezados. Uma consequência disso é o preconceito
racial que a população negra sofre diariamente no Brasil (SILVA, 2014).
Durante o período da escravidão, homens e mulheres nessa condi-
ção sofriam praticamente os mesmos castigos, com a diferença de que as
mulheres, além de chicoteamentos e punições, sofriam também a violência
sexual, que era uma prática constante. As escravas eram vistas como objeto
de satisfação sexual dos seus senhores, pois a “violação era uma arma de
dominação, uma arma de repressão, cujo maior objetivo era extinguir a
vontade das mulheres escravas em resistir, e nesse processo, desmorali-
zar os seus homens” (DAVIS, 2013, p.25). Pode-se perceber que durante
o período da escravidão os papéis delimitados para homens e mulheres
variam de acordo com a cor da sua pele. À mulher branca é destinado o
papel de esposa e mãe, ocupada com os cuidados da casa e o bem-estar dos

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