O ensino da língua Nheengatu em aldeias urbanas de Manaus

AutorHellen Cristina Picanço Simas, Amanda Ramos Mustafa, Ytanajé Coelho Cardoso
CargoGraduada em Letras. Doutora em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba. Professora da Universidade Federal do Amazonas.). Membro do programa de Pós-graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal do Amazonas. Líder do Núcleo de Estudos de Linguagens da Amazônia (Nel-Amazônia/CNPq. E-mail: india.parintintins@gmail.com - Graduada em...
Páginas396-413
O ENSINO DA LÍNGUA NHEENGATU EM ALDEIAS URBANAS DE MANAUS
Hellen Cristina Picanço Simas
1
Amanda Ramos Mustafa
2
Ytanajé Coelho Cardoso
3
Resumo
O objetivo deste artigo é discutir a maneira como se desenvolve o ensino e aprendizagem da língua nheengatu no Centro
Municipal de Educação Escolar Indígena UkaUmbuesaraWakenaiAnumar ehit (CemeeiWakenai), localizado na comunidade
indígena Parque das Tribos, na cidade de Manaus. Para tanto, utiliza o método de pesquisa de campo, am parado pela
técnica da entrevista semiestruturada. Os resultados apontam que o ensino no CemeeiWakenai se desenvolve em contexto
multiétnico, com alunos de diversas etnias. Conclui que as práticas linguísticas em nheengatu representam para esses
estudantes, indígenas citadinos, a sua reafirmação identitária e uma ferramenta de luta pelos seus direitos.
Palavras-chave: Ensino e aprendizagem. Nheengatu. Parque das Tribos. Reafirmaçãoidentitá ria.
TEACHING THE NHEENGATU LANGUAGE IN MANAUS URBAN VILLAGES
Abstract
The aim of this ar ticle is to discuss how to teach and learn the N heengatu language develops at the Municipal Center for
Indigenous School Education UkaUmbuesaraWaken aiAnumarehit (CemeeiWakenai), located in the indigenous community
Parque das Tribos, in the city of Manaus. The field research method was used, supported by the semi-structured interview
technique. The results demonstrate that teaching at CemeeiWakenai takes place in a multiethnic context, with students of
different ethnicities. It concludes that the linguistic practices in nheengatu represent for the se students, indigenous city
residents, their affirmation of identity and a tool for the fight for their rights.
Keywords: Teaching and learning. Nheengatu. Parque das Tribos. Identity reafirmatio n
.
Artigo recebido em: 06/10/2020 Aprovado em: 27/05/2021
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v25n1p396-413
1
Graduada em Letras. Doutora em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba. Professora da Universidade Federal
do Amazona s.). Membro do programa de Pós-graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal do Amazonas.
Líder do Núcleo de Estudos de Linguagens da Amazônia (Nel-Amazônia/CNPq. E-mail: india.parintintins@gmail.com
2
Graduada em Letras - Habilitação em Líng ua Inglesa. Mestre em Letras e Artes pela Universidade do Estado do
Amazonas. Doutoranda em Edu cação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Un iversidade Federal do
Amazonas (UFAM). Professora de Língua Ing lesa da Secret aria de Estad o de Educação e Desporto (SEDUC/AM).
E-mail: mustafa.amanda@gmail.com
3
Graduado em Letras - Língua Portuguesa. Mestre em Letras e Artes pela Universidade do Estado do Amazonas (U EA).
Doutorando em Educação pelo Programa de Pós -Graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Professor de Língua Portuguesa da Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino (SEDUC/AM). E-
mail: ytanajecardoso@gmail.com
Hellen Cristina Picanço Simas, Amanda Ramos Mustafa e Ytanajé Coelho Cardoso
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1 INTRODUÇÃO
Os indígenas representam uma população cada vez mais presente nas cidades do Brasil,
particularmente nas cidades amazônicas. Mas, ao deixarem seus locais de origem e migrarem para os
centros urbanos, acabam se defrontando com situações de exclusão, marginalização e descaso para
com seus direitos e suas tradições culturais. Essa realidade vem exigindo ações capazes de criar
condições para que esses indivíduos possam preservar seus saberes, práticas e realidades
multilíngues, assim como também seus projetos futuros.
Em 2015, a Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (COPIME)
identificou que cerca de 34 etnias indígenas residem em 51 bairros da cidade de Manaus, sendo elas:
Munduruku, Tikuna,Sateré-Mawé, Desana, Tukano, Miranha, Kaixana, Baré, Kokama, Apurinã, Tuyuka,
Piratapuya, Kamaiurá, Kambeba, Mura,Maraguá, Baniwa,Macuxi, Wanano, Tariano, Bará, Arara [do
Aripuanã], Karapanã, Barasana, Anambé, Deni, Kanamari, Katukina, Kubeo, Kulina, Marubo, Paumari,
Arara do Pará e Manchineri, convivendo com os velhos paradigmas de discriminação e exclusão social.
Vivem em comunidades, ora em convívio com outras etnias, ora não. Contam com a mobilização umas
das outras e com apoio de organizações políticas e civis, na luta para terem seus direitos reconhecidos
ante a sociedade não indígena. Boa parte das comunidades indígenas citadinas aprendem a se
organizar, a construir redes de relações interétnicas que lhes possibilitam sobreviver nos novos
contextos sociais. Convivem com os não indígenas, mesclando seus costumes aos da vida urbana,
sem, contudo, anular suas origens. Uma vez organizadas em associações e cooperativas, se articulam
politicamente para reivindicarem seus direitos, dentre os quais o fortalecimento de suas línguas.Isso
implica dizer que estes sujeitos empregam extremo esforço para manter viva a língua e suas raízes
culturais, em face de todo o hibridismo que os envolve.
É nesse panorama de diversidade e de trocas culturais que se insere o Parque das Tribos,
uma comunidade indígena multiétnica, localizada no bairro Tarumã, Zona Oeste de Manaus,
oficialmente fundada em 18 de abril de 2014, com o assentamento de 280 famílias. Em 2018, o Parque
das Tribos contava com 26 etnias (MUSTAFA, 2018): Apurinã, Baniwa, Barassana, Baré, Dessana,
Hixcariano, Kanamari, Kambeba, Karapanã, Kokama, Kulina, Kuripako, Marubo, Miranha, Munduruku,
Mura, Piratapuia, Sateré-Mawé, Tariano, Tikuna, Tukano, Tuyuka, Wanano, Hupda, Bara e
Tapuio.Neste espaço, os indígenas diligenciam sua organização interna gerida pela coordenação de
líderes que estabelecem planos de ação referentes à legalização do território por eles habitado, a
melhores condições de saneamento básico, de saúde, de educação e afins. No cerne das
preocupações, destaca-se o Centro Municipal de Educação Escolar Indígena Uka Umbuesara Wakenai

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