O Ensino de Sociologia no Uruguai: uma análise a partir das narrativas dos professores

AutorAmurabi Oliveira
CargoDoutor em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisador do CNPq. E-mail: amurabi_cs@hotmail.com
Páginas261-279
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2019v18n41p261/
261261 – 279
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O Ensino de Sociologia no Uruguai:
uma análise a partir das narrativas
dos professores
Amurabi Oliveira1
Resumo
Este trabalho examina o ensino de Sociologia no Uruguai considerando tanto as peculiaridades em
termos de sistema educativo, como também, e principalmente, as avaliações realizadas por pro-
fessores de Sociologia. Metodologicamente o trabalho baseia-se em entrevistas semiestruturadas
realizadas em Montevidéu, com ênfase nas trajetórias dos agentes e em suas disposições sociais
incorporadas. Observa-se que os professores uruguaios consolidam uma identidade docente ainda
em sua formação inicial; porém, há um evidente recorte geracional entre aqueles que realizaram a
formação antes e depois de 2008. Também foi encontrada como característica uma forte posição
“antimanualista” dos professores de sociologia uruguaios, reforçada pela tendência de combina-
rem diferentes metodologias de ensino em suas práticas.
Palavras-chave: Ensino de Sociologia. Professores de Sociologia. Sociologia na América Latina.
Sociologia no Uruguai.
Introdução
Em que pese o incremento da produção acadêmica nos últimos anos
(CAREGNATO; CORDEIRO, 2014; BODART; CIGALES, 2017;
HANDFAS, 2017), ainda são poucos trabalhos que se propõem a rea-
lizar uma análise comparativa entre a realidade do ensino de sociologia
em distintos contextos nacionais (Oliveira, 2014), algumas exceções são os
1 Doutor em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Professor da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC). Pesquisador do CNPq. E-mail: amurabi_cs@hotmail.com
O Ensino de Sociologia no Uruguai: uma análise a partir das narrativas dos professores | Amurabi Oliveira
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trabalhos de Leithauser e Weber (2010) e Maçaira (2017), autores que, a
partir de enfoques diferentes, realizam uma primeira aproximação compa-
rativa entre as realidades do Brasil com países como Alemanha e França.
Visando a contribuir para esta discussão, proponho-me neste trabalho rea-
lizar uma análise acerca do ensino de sociologia no Uruguai, partindo da
avaliação dos professores que atuam na educação básica, trazendo com isso
alguns elementos comparativos com o caso brasileiro.
Uma análise comparativa a rigor demandaria um exame do desen-
volvimento sócio-histórico da sociologia nos diferentes contextos nacio-
nais, assim como dos distintos arranjos existentes com relação ao sistema
educativo nos dois países, especialmente com relação ao Ensino Médio
(educação secundária, no caso uruguaio). Todavia, isso não implica ar-
mar que não haja a possibilidade de indicar pontos em comuns em termos
de trajetórias da disciplina nos dois países, condicionadas pela conjuntura
sociopolítica de cada país.
As distintas histórias que as ciências sociais são amiúde mutuamente
desconhecidas entre os países da América Latina, especialmente quando se
considera a história da sociologia como componente curricular escolar. Foge
do foco e do escopo deste trabalho realizar uma retomada dessa história do
ensino de sociologia no Brasil2; todavia, é interessante ressaltar alguns pontos
substancialmente diversos que encontramos nos dois países aqui analisados.
Se no caso brasileiro a sociologia permanece ausente no período da di-
tadura militar3, o que contrastou com o incremento no número de cur-
sos de graduação em Ciências Sociais (LIEDKE FILHO, 2005), por ou-
tro lado, no Uruguai a sociologia é implementada nos currículos escolares
justamente no período ditatorial, havendo de forma concomitante um
2 Para um maior aprofundamento por parte do leitor desse debate vide os trabalhos de: Silva, Alves Neto e
Vicente, 2010; Moraes, 2011; Meucci, 2015; Oliveira, 2013.
3 Interessante perceber que diferentemente do que apontam alguns trabalhos na área, a extinção do ensino
de sociologia no currículo escolar não foi provado pela ditadura militar iniciada em 1964, uma vez que sua
exclusão se deu ainda em 1942 com a chamada Reforma Capanema, que extinguiu os cursos complementares
nos quais a sociologia estava alocada (Oliveira, 2013). Sem embargo, não se pode negar que a disciplina
permaneceu ausente dos currículos escolares, ainda que categorias, teorias e autores da sociologia tenham
continuado a circular na realidade escolar de forma residual por meio de outras disciplinas escolares, tais
como os chamados “estudos sociais”.

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