Representações de cultura e costume: O rural, o urbano e o faxinal

AutorAncelmo Schörner - José Adilçon Campigoto
CargoProfessores do Departamento de História da Universidade Estadual Centro-Oeste do Paraná/UNICENTRO
Páginas181-206
REPRESENTREPRESENT
REPRESENTREPRESENT
REPRESENTAÇÕES DE CULAÇÕES DE CUL
AÇÕES DE CULAÇÕES DE CUL
AÇÕES DE CULTURA E COSTUME:TURA E COSTUME:
TURA E COSTUME:TURA E COSTUME:
TURA E COSTUME:
O RURAL, O URBANO E O FO RURAL, O URBANO E O F
O RURAL, O URBANO E O FO RURAL, O URBANO E O F
O RURAL, O URBANO E O FAXINALAXINAL
AXINALAXINAL
AXINAL.
Prof. Dr. Ancelmo Schörner
Prof. Dr, José Adilçon Campigoto1
Resumo: Este artigo é parte de um estudo sobre, aplicações conceituais, e re-
presentações de cultura e de costume abstraídas de escritos referentes às rela-
ções entre: o campo e a cidade, o clima e o comportamento, o ambiente e o
caráter, a história e o desenvolvimento regional. Os textos que serviram como
fontes versam sobre o estado do Paraná, principalmente, a região Centro Sul,
área de abrangência do sistema de faxinais. Nota-se que os escritos das décadas
de 1960-70, quando lideranças políticas estaduais desencadearam diversas ações
no sentido de afirmar as marcas culturais do Estado, incorporam e, às vezes,
radicalizam concepções de cultura e costume adotados pelos sujeitos envolvidos
no movimento de constituição da identidade paranaense, durante as décadas de
1930 e 1940. A tese comum aos dois períodos consiste em que o Paraná é a terra
do progresso, donde a cultura é representada como produto do espaço urbano-
industrial, enquanto o costume é o que se reproduz no ambiente rural. Partimos
da hipótese de que o uso desses termos, numa perspectiva linear e de progresso,
pode implicar a desvalorização das realidades locais e principalmente dos povos
tradicionais.
Palavras-chave: Representação; Costume; Cultura; Faxinal.
Abstract: This article is part of a study about conceptual applications, and
representations of culture and usage abstracted from writings on the relationship
between: rural and urban areas, the climate and behavior, the environment and
nature, history and regional development. The texts that served as sources are
writings on the state of Parana, especially, the Central South area, which contain
the system “faxinais”. Note that the writings of the decades of 1960-70, when
local leaders did several actions in order to assert the state’s cultural identity,
they adopted and sometimes they radicalized notions of culture and usage before
used by the subjects involved in the movement of constitution the identity of Paraná,
during the 1930’s and 1940’s. The view common to both periods is that the Paraná
1 Professores do Departamento de História da Universidade Estadual Centro-Oeste do Paraná/UNI-
CENTRO. E-mail para contato: ancelmo.schorner@terra.com.br e ja.cam.pi@hotmail.com.
182 REVISTA ESBOS Volume 16, Nº 21, pp. 181-206 — UFSC
is the land of the progress, where the culture was represented as a product of the
urban-industrial reality, while the common usage and custom is what is produced
in the rural environment. We start from the hypothesis that the use of these terms,
in a linear and “progressive” perspective, may lead to the depreciation of local
realities and especially of the original people.
Key-words: Representation; Custom; Culture; Faxinal.
Na região Centro-Sul do Paraná, entre as décadas de 1960 e 80, produziu-
se uma série de escritos referentes à realidade regional, em que se associam os
termos cultura e costume a expressões como civilização, cidade, campo, socie-
dade, etnias, povo, desenvolvimento, atraso, educação e barbárie. Dita produção
pode ser considerada como um conjunto de representações que caracterizam os
sujeitos, classificando-os segundo o espaço em que habitam e o conhecimento
que possuem. Na perspectiva aqui adotada, as representações do social são evi-
dências significativas para a escrita da história, uma vez que situam no tempo os
sujeitos que as produzem. Cabe salientar, porém, que não se trata, apenas de
mapear os conceitos utilizados pelos autores, porque então a tarefa se esgotaria
no ato de encontrá-los e relacioná-los às teorias a que pertencem. Tal procedi-
mento será realizado, em parte, visando ampliar a compreensão das fontes, mas
o escopo deste artigo será mais amplo.
Parte-se do pressuposto da teoria das representações de que todo conceito
é uma representação, donde os conceitos relativos ao social podem ser tomados
como representações sociais. No entanto, agregamos que, nem todas as repre-
sentações construídas socialmente implicam as mesmas características dos apa-
ratos conceituais, principalmente, quando consideramos os conceitos, como é o
caso aqui, nos seus aspectos funcionais de descrição, classificação, organização
e antevisão dos fenômenos. As representações de cultura e costume são toma-
das, aqui, como a forma pela qual o vivido é representado no texto.
Podemos pressupor, de início, que tais representações associam-se, de certa
forma, ao movimento historiográfico ocorrido na primeira metade do século XIX,
quando, conforme Pesavento:
O espírito romântico produziu historiadores preocupados em
escrever histórias nacionais, que fossem atrás da captura do
espírito do povo, da alma das nações, que procurassem os
heróis com grandes feitos e que registrassem a saga da cons-
trução de cada Estado, a demonstrar que o germe da identida-
de nacional já estava presente naquele tempo das origens,
com os pais fundadores.2

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