A relação esporte-homofobia sob o olhar interdisciplinar

AutorWagner Xavier Camargo
CargoDoutorando do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, (UFSC). Pesquisador em Programa Sanduíche na Freie Universität von Berlin (Alemanha).
Páginas207-213

Page 207

Por: Wagner Xavier de Camargo

Doutorando do Programa de PósGraduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, (UFSC). Pesquisador em Programa Sanduíche na “Freie Universität von Berlin” (Alemanha). Email: wxcamargo@gmail.com

ANDERSON, Eric. In the Game: gay athletes and the cult of masculinity. New York: State University of New York Press, 2005. 208 p.

Em tempos de “escândalos” frequentes no mundo esportivo heterossexual, onde jogadores de futebol “saem do armário” e se assumem publicamente homossexuais, o livro de Eric Anderson tornase referência central para pensar a problemática esportehomofobia. Sob os holofotes da psicologia e da sociologia, o autor se utiliza também do background no mundo esportivo como exatleta e extécnico a fim de entretecer sua análise. A obra é dividida em dez capítulos, e à exceção do último, todos possuem como introito estórias de atletas, entrevistados por ele durante cinco anos.

Isto posto, resta dizer que o livro é um constructo erigido num campo de forças, em que se situam a paixão e a decepção ao esporte, do ponto de vista do autor/protagonista. Embebido em sua história, ao mesmo tempo convencional (de todo e qualquer atleta) e especial (por ser homossexual e no closet esportivo), Anderson exercita o árduo esforço do distanciamento de sua condição para desvelar dilemas do mundo do esporte relacionados a (homo)ssexualidades e (homo)fobias, na paradoxalidade entre um “euatleta” e um “eu-gay”, figuras distintas mas igualmente seres desejantes. Ao passo que o autor revelanos o culto à masculinidade, sua produção e reprodutibilidade a escalas infinitas no cenário esportivo heteronormativo, apontanos possibilidades de fuga, saídas de um labirinto construído na esteira da modernidade.

Obra licenciada com uma Licença Creative Commons - AtribuiçãoUso NãoComercialNão a obras derivadas 3.0 Unported .

RESENHA:

Page 208

Portanto, de modo bastante articulado na introdução, o autor resgata o cenário da campanha presidencial americana de 1992 quando o debate sobre “gays nas forças armadas” estava no topo da agenda política (como está, inclusive, ainda atualmente) , a fim de discutir a homofobia na sociedade e problematiza: se há gays (ou se imagina que existam) nas forças armadas, porque não haveria em outras instituições similares, como por exemplo, nos esportes. Portanto, se a suposição está correta, nesses também estarão contidos problemas vividos na sociedade, tanto em relação às (homo)ssexualidades, às políticas do don’t ask, don’t tell (não pergunto, não responda) presentes nas forças armadas , quanto às regras rígidas da masculinidade (hegemônica). Dessa forma, no capítulo 1 inicia com um “aquecimento básico” relativo ao tema, onde discutirá a conexão entre o esporte e a homofobia. A questão da ortodoxia das formas de masculinidade é tão forte e disseminada no âmbito esportivo que, aparentemente, imaginase anulada a possibilidade de coexitência de atletas gays nesse espaço. Contudo, eles lá estão, e tal fato desafia nossa compreensão. Para o autor, a arena esportiva permanence como uma das “maiores instituições segregadores de gênero das culturas ocidentais” (p. 14) e, paradoxalmente, os corpos jovens, torneados, sexualizados e altamente masculinizados provocam estímulos homoeróticos em esportistas, que independente de suas orientações sexuais, sentemse atraídos1. Portanto, a homofobia no esporte emerge para anular o homoerotismo e, quando se torna extrema, previne o “ataque heterossexual” sobre seus prazeres autoestigmatizados.

Em seguida, num dos momentoschaves de discussões teóricas (capítulo 2), traz a contribuição de conceituais sociológicos, que examinarão a construção da masculinidade heterosexual e como o binômio de dominação/opressão participaria desse processo2. O autor busca compreender porque os gays mantêm a estrutura masculinista na instituição esportiva. Um fator fundamental que provoca isso é a cultura. Nela não apenas valores são inculcados (por exemplo, na escola secundária e na universidade as características atléticas são mais importantes do que as

Page 209

acadêmicas), como os processos hegemônicos, que capacitaram o esporte a reproduzir atributos sociais valorativos/depreciativos, operam com o aval da própria cultura. Interessante constatar que a hegemonia masculina do esporte (como valor necessário para “homens”) é tão persuasiva que passa despercebida pelo exame crítico daqueles que são oprimidos por ela, dentre os quais estão...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT