A Estimativa da Estatura

AutorJorge Paulete Vanrell
Ocupação do AutorMedicina, Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais e Licenciatura Plena em Pedagogia
Páginas579-593

Page 579

Introdução

O noticiário midiático tem realçado, nestas últimas décadas, a importância da Antropologia na identificação de restos humanos em grandes desastres.

É que os estudos antropológicos, embora possam ser feitos em indivíduos vivos e em cadáveres conservados, também podem ser feitos em diferentes estágios de decomposição, em esqueletos completos, em ossos isolados e até mesmo em fragmentos ósseos.

É obvio que, em pessoas vivas e em cadáveres conservados, é menor o grau de dificuldade para se determinar a identidade com segurança. Entretanto, quando se trata de cadáveres em adiantado estado de decomposição, esqueletizados, carbonizados, espostejados ou, ainda, de ossos isolados ou de fragmentos ósseos, o grau de dificuldade é cada vez maior. Não obstante, em todos os casos propagados e explorados pela mídia, um fato é certo: o universo dos indivíduos cuja identidade se pretende descobrir é finito, limitando-se a uma lista de passageiros ou a um rol de pessoas que, reconhecida e certamente, estariam no local do desastre.

Todavia, no cotidiano dos IMLs, ocorre uma situação inversa: a entrega de um amontoado de ossos, geralmente esqueletizados, que, encontrados nas pastagens do campo, em meio a um canavial a ponto de corte, em um pomar de difícil acesso, são encaminhados para que o Setor de Antropologia Forense promova os “exames necessários”.

Nesses casos, como é curial, não se trata de identificar o esqueleto como pertencente a um ou outro indivíduo de uma lista conhecida. Contrariamente, requer-se que o Setor de Antropologia Forense seja capaz de obter o maior número de elementos disponíveis para ver se as características, exibidas pelos restos, são capazes de, uma vez agrupadas, enquadrar-se no perfil de alguém desaparecido ou por alguma razão procurado dentro do Estado ou nos Estados limítrofes. Cumpre não esquecer que, a par de modernizações de

Page 580

primeiro mundo, nosso país ainda convive com práticas criminosas que incluem o homicídio e a ulterior “desova” do cadáver, preferencialmente nos limites de municípios e/ou de Estados vizinhos, de modo, justamente, a dificultar as investigações e a própria identificação.

É justamente essa busca constante que levou a Medicina e a Odontologia Legais a se aliarem para conseguir subsídios, através do desenvolvimento de metodologias para o diagnóstico bastante preciso da identificação de dados biotipológicos. Nos casos de identificação em ossadas, segmentos do esqueleto ou ossos isolados, podem ocorrer dois tipos de investigação.

De um lado, a investigação “não dirigida”, quando não há suspeitos desaparecidos. Do outro lado, a investigação “dirigida”, quando há uma suspeita de que aquela ossada tenha pertencido a determinado indivíduo.

Nos dois tipos de investigação, deve-se buscar o diagnóstico dos dados biotipológicos, começando por aqueles que apresentam menos variáveis: espécie, sexo, fenótipo / cor da pele, idade, estatura e peso.

Em esqueletos completos ou ossos isolados, a determinação da espécie, do sexo, do fenótipo e da idade pode ser feita pela análise de diferentes tipos de ossos, sendo mais utilizados: pelve; crânio / mandíbula; ossos longos (fêmur, tíbia, úmero, rádio); 1ª vértebra cervical (atlas); clavícula, esterno, costelas; calcâneo; metatarsianos etc., como foi visto no capítulo anterior.

Seguindo esse mesmo raciocínio, entre essas avaliações, tradicionalmente a estimativa da estatura baseia-se na medição de ossos longos (úmero, rádio, fêmur e tíbia), e na análise posterior dos dados encontrados, comparando-os com tabelas originadas de estudos específicos, como as de Orfila, Étienne--Rollet, Dupertuis-Hadden, Pearson, entre outras (cf. abaixo).

Todavia, todas essas medições e comparações, conquanto corretas e acertadas para a época e para seus países de origem, falecem de um defeito insanável, que reside no fato da inexistência de idênticas tabelas geradas por estudos específicos para o Brasil.

Considerando que a altura do indivíduo, independentemente do sexo, se relaciona estreitamente com as variações dentro de cada grupo étnico e considerando que o Brasil, em face de sua miscigenação, não apresenta grupos raciais bem definidos, resulta óbvio que não se podem transportar, na

Page 581

íntegra, medições feitas no continente europeu – algumas há mais de um século – e aceitá-las como aplicáveis, diretamente, à nossa população.

Deve-se...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT