Estímulo e competitividade na geração termelétrica: uma política de sinais trocados

AutorMarcello Oliveira
Ocupação do AutorAdvogado no Rio de Janeiro; Sócio do escritório Fisher, Bandeira, Oliveira, Advogados; Diretor-Tesoureiro da OAB/RJ
Páginas468-485
468 Temas RelevanTes no DiReiTo De eneRgia eléTRica
1 Muitas coMplexidades, uMa realidade
O Plano Decenal de Expansão de Energia constitui um esforço heroico
do Ministério de Minas e Energia no planejamento dos próximos
passos que o País deve dar em busca de seu progresso econômico e
social. Conciliar desenvolvimento da atividade produtiva, bem-estar
da população e preservação do meio ambiente é das tarefas mais
árduas do Estado. Quiçá, a de maior complexidade.
Todo planejamento é exercício de futurologia, é a tentativa de
enxergar com as lentes do conhecimento humano, social e tecnoló-
gico como deve caminhar a humanidade, como garantir, ao mesmo
tempo, segurança alimentar, segurança energética, saúde pública,
felicidade e esperança a milhões de brasileiros.
Um novo racionamento de energia elétrica, um gargalo na
produção ou um escoamento do petróleo e do gás natural pode gerar
desabastecimento em cadeia. É tragédia certa. O racionamento de
2001 deixará, por muitos anos, uma palpável sensação do baque
sofrido por nossa negligência. No momento atual de ascensão do País,
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agudas e intermináveis de nações outrora vistas como portos seguros
de investimento, um novo desabastecimento seria impensável.
Por outro lado, a corrida desenfreada pela produção de energia,
sem uma prévia ação de racionalização e planejamento das fontes
e convergência de uma política de valorização do parque industrial
brasileiro, leva-nos a impasses. Aguça o apetite por riscos desco-
nhecidos, incluindo pelo incremento de atividades potencialmente
nocivas ao meio ambiente, aumentando a ocorrência de acidentes.
Torna o País umbilicalmente dependente do mercado externo de
transformação e produção de bens. Resolve o nosso presente, mas
deixa um passivo contingente enorme para as próximas gerações.
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mental enfrentá-lo a partir de uma ampla discussão com os grupos
de interesse da sociedade. Pior é querer contemporizá-lo, agradar a
gregos e troianos, a ambientalistas e desenvolvimentistas, preservando-
-se uma falsa dicotomia, como se a sobrevivência dos ambientalistas
não dependesse do desenvolvimento e a dos desenvolvimentistas não
dependesse do meio ambiente.
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Daí que, para falarmos de real desenvolvimento sustentável, não
necessariamente se seguem as soluções mais fáceis. Para ir além da
solução de caráter eminentemente eleitoral, devemos sim, decidir
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planejamento que privilegie a contenção e a redução de danos futuros.
Ilusão é achar que num planeta de 7 bilhões de seres humanos,
com o padrão de consumo apregoado e propagandeado pelos países
desenvolvidos para manter seus ritmos de crescimento, as interven-
ções humanas e a nossa própria subsistência não irão gerar danos
ao ambiente. É querer passar o elefante pela fechadura (é preferível
abrir uma porta bem grande, mas preservar a parede). Uma de nossas
missões é tentar tornar essa convivência menos traumática, inclusive
para preservar o futuro da nossa espécie.
Portanto, é no enfretamento das questões mais graves que
chegaremos a um ponto médio nesse discurso. Como tem dito o
economista Sergio Besserman em palestras, a Terra irá recuperar-
-se, nós é que não.
Aqueles mais antenados para os temas do setor energético
conhecem o drama e as perplexidades cotidianas. É quase como um
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das ações executadas ao longo dos últimos 20 anos, desde ao menos
a edição da Lei nº 9.074 de 1995. Nem se fale das incongruências
entre o plano original da Coopers & Lybrand para a reestruturação
do setor elétrico brasileiro e as características do nosso mercado e
da nossa matriz. Nossas dúvidas referem-se a temas atuais. Vejamos
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nos sucessivos planejamentos.
Se queremos explorar e produzir no pré-sal e este importa
igualmente na extração do gás associado, como explicar que o Plano
Decenal de Expansão de Energia 2020 ignore qualquer expansão da
geração termelétrica a gás entre os anos de 2014 e 2020?
1
Para onde
vai o gás natural cuja produção deve, no mínimo, duplicar nesses
anos (sem contar com as perspectivas de descobertas onshore)? Todo
para a indústria?
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