Estrutura de capital e financial distress em empresas familiares e não familiares brasileiras

AutorEdgar Pamplona - Alice Carolina Ames - Tarcísio Pedro da Silva
CargoDoutorando em Ciências Contábeis e Administração no Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis, PPGCC (FURB), Blumenau/SC, Brasil - Doutoranda em Ciências Contábeis e Administração no Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis, PPGCC (FURB), Blumenau/SC, Brasil - Doutor em Ciências Contábeis e Administração pelo Programa de Pós-Gradua...
Páginas17-32
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Artigo
Original
Artigo
Original
Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 17, n. 44, p. 17-32, jul./set., 2020.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI : https://doi.org/10.5007/2175-8069.2020v17n44p17
Estrutura de capital e financial distress em empresas
familiares e não familiares brasileiras
Capital Structure and financial distress in family and non-family Brazilian companies
Estructura de capital y financial distress en empresas familiares y no familiares brasileñas
Edgar Pamplona*
Doutorando em Ciências Contábeis e Administração no
Programa de Pós-Graduação em
Ciências Contábeis - PPGCC (FURB), Blumenau/SC, Brasil
edgarpamplona@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0002-2579-5458
Alice Carolina Ames
Doutoranda em Ciências Contábeis e Administração no
Programa de Pós-Graduação em
Ciências Contábeis - PPGCC (FURB), Blumenau/SC, Brasil
aliceames@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0002-8287-8831
Tarcísio Pedro da Silva
Doutor em Ciências Contábeis e Administração pelo
Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis - PPGCC (FURB)
Professor do Programa de Pós-Graduação em
Ciências Contábeis - PPGCC (FURB), Blumenau/SC, Brasil
tarcisio@furb.br
https://orcid.org/0000-0002-2370-791X
Endereço do contato principal para correspondência*
Rua Antônio da Veiga, 140 – Sala D202 – Bairro Itoupava Seca, CEP: 89.030-903, Blumenau/SC, Brasil
Resumo
Este estudo tem por objetivo verificar a influência da estrutura de capital no financial distress em empresas
familiares e não familiares brasileiras. Realizou-se pesquisa descritiva, documental e quantitativa. A amostra
abrangeu 137 empresas, sendo 65 familiares e 72 não familiares, analisadas de 2011 a 2017. Observou-se,
por meio de três medidas – endividamento total, de longo prazo e oneroso –, que a estrutura de capital
influencia na probabilidade de financial distress tanto de empresas familiares como de organizações não
familiares. Mais importante, tem-se que estas medidas divergem de sinal tanto entre elas como em função da
gestão e propriedade corporativa (se familiar ou não familiar). Assim, a contribuição deste estudo perpassa
pelo reconhecimento de que gestores, investidores e outras partes interessadas devem observar as medidas
de estrutura de capital de forma distinta para reconhecerem o evento de financial distress e, em função disto,
tomarem decisões assertivas diante de seus interesses subjacentes.
Palavras-chave: Estrutura de capital; Financial distress; Empresas familiares; Empresas não familiares
Abstract
The aim of the study was to verify the influence of capital structure on financial distress in family and non-
family brazilian companies. We conducted a descriptive, documentary and quantitative research. The sample
included 137 companies, of which 65 were family members and 72 were non-family, analyzed from 2011 to
2017. It was observed that, through three measures – total debt, long-term debt and costly debt – the capital
structure influences the probability of financial distress of both family and non-family companies. More
importantly, these measures diverge from each other and according as from management and corporate
ownership (if family or non-family companies). Thus, the contribution of this study stems from the recognition
that managers, investors and other interested parties should observe capital structure measures in a different
way to recognize the event of financial distress and, as a result, make assertive decisions regarding their
underlying interests.
Keywords: Capital structure; Financial distress; Family companies; Non-family companies
Estrutura de capital e financial distress em empresas familiares e não familiares brasileiras
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Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 17, n. 44, p. 17-32, jul./set., 2020.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI : https://doi.org/10.5007/2175-8069.2020v17n44p17
Resumen
Este estudio tiene por objetivo verificar la influencia de la estructura de capital en el financial distress en
empresas familiares y no familiares brasileñas. Se realizó una investigación descriptiva, documental y
cuantitativa. La muestra abarcó 137 empresas, siendo 65 familiares y 72 no familiares, analizadas de 2011 a
2017. Se observó, por medio de tres medidas – endeudamiento total, a largo plazo y oneroso –, que la
estructura de capital influye en la probabilidad de fi nancial distr ess tanto de empresas familiares como de
organizaciones no familiares. Más importante, se tiene que estas medidas difieren de señal tanto entre ellas
como en función de la gestión y propiedad corporativa (si es familiar o no familiar). Así, la contribución de este
estudio atraviesa el reconocimiento de que gestores, inversores y otras partes interesadas deben observar
las medidas de estructura de capital de forma distinta para reconocer el evento de financial d istress y, en
función de ello, tomar decisiones asertivas ante sus intereses subyacentes.
Palabras clave: Estructura de capital; Financial distres s; Empresas familiares; Empresas no familiares
1 Introdução
A partir da discussão em relação às crises financeiras que assolam todo o mundo e a competitividade
acirrada entre os mercados, observa-se as empresas cada vez mais vulneráveis a falência, sendo isto motivo
de preocupação no âmbito corporativo. Pesquisadores e responsáveis por políticas têm enfatizado a
necessidade de reformas, buscando soluções mais ágeis, claras e econômicas a fim de minimizar turbulências
financeiras para as organizações, sendo estas também conhecidas por financial distress. Busca-se promover
um ambiente sinérgico para práticas saudáveis em relação as dívidas corporativas, fatores de confiança e
taxa de sobrevivência mais alta para as empresas (NIGAM; BOUGHANMI, 2017).
O financial distress é visto de maneira custosa, pois impulsiona as empresas a tomarem decisões que
podem afetar seus detentores de capital e/ou partes interessadas, induzindo, ainda, os concorrentes de
maneira a aproveitar a situação para aumentar a participação no mercado, o que maximiza, por consequência,
o sofrimento da organização angustiada financeiramente (OPLER; TITMAN, 1994). Com efeito, f inancial
distress pode ser visto, portanto, como um estágio de declínio corporativo que tende a anteceder eventos
relacionados à falência ou a liquidação corporativa (PLATT; PLATT, 2002).
Como resposta ao financial distress, as empresas tendem a optar pela reestruturação de seus ativos
e passivos, em que ações como a venda de bens, união com outras sociedades, diminuição nas despesas,
reestruturação de dívidas, entre outras decisões são necessárias (ASQUITH; GERTNER; SCHARFSTEIN,
1994). A este respeito, destaca-se que a reestruturação financeira é vista como uma maneira de reformular a
estrutura de capital de uma organização a fim de diminuir a aflição perante juros e reembolsos da dívida,
sendo a emissão de ações uma alternativa usualmente importante para empresas que enfrentam o financial
distress (SUDARSANAM; LAI, 2001).
Em referência a tal fenômeno, é perceptível que a estrutura de capital é um potencial fator relevante
em relação ao financial distress das organizações. Salehi, Lofti e Farhangdoust (2017) relatam que as
dificuldades financeiras incluem custos de agenciamento da dívida e custos de falência. Para Ataünal e
Aybars (2017), quando a probabilidade de dificuldades financeiras é baixa, as organizações tendem a preferir
aumento da alavancagem para usufruir das vantagens fiscais da dívida. Em contrapartida, por vezes, observa-
se que empresas lucrativas operam, ao longo do tempo, com baixos índices de endividamento (ATAÜNAL;
AYBARS, 2017). Tais perspectivas remetem as principais teorias de estrutura de capital, sendo a trade-off e
a pecking-order.
Logo, com conhecimento que a estrutura de capital pode impactar o desempenho corporativo e o
valor de mercado da empresa e, ainda, tendo-se as teorias trade-off e pecking-or der a fim de compreender a
forma como as organizações captam recursos, espera-se que a estrutura de capital tenha potencial de
determinar o financi al distress corporativo. Empiricamente, no contexto norte-americano, Opler e Titman
(1994) verificaram que indústrias em financial distress possuíam predominantemente alta alavancagem
(OPLER; TITMAN, 1994), tendendo, portanto, as empresas que preferem o financiamento interno, consonante
com a pecking-order theory, serem mais estáveis financeiramente.
O clássico estudo de Opler e Titman (1994) impulsionou o desenvolvimento, em maior escala, de
pesquisas acerca do tema, que permanecem foco até a contemporaneidade. Neste cenário, destaque pode
ser dado a estudos internacionais recentes como de Kisman e Krisandi (2019) na Indonésia, Lucky e Michael
(2019) na Nigéria e Abdioğlu (2019) na Turquia, em que se nota, adicionalmente, a extensão de pesquisas
deste tipo também a nações em desenvolvimento. No Brasil, o tema específico e seus similares ganhou
notoriedade apenas nos últimos anos, com destaque para Bezerra, Lagioia e Pereira (2019) e Lunardi, Bilk e
Rodrigues Junior (2020).
Outro aspecto que pode interferir no fenômeno observado é a propriedade e a gestão da organização.
Empresas familiares apresentam maior aversão ao risco (ANDERSON; DURU; REEB, 2012), o que deve
impactar no nível de alavancagem da empresa. Precisamente, organizações do tipo familiar tendem a preferir
proporção inferior de capital de terceiros comparativamente a empresas não familiares, visando estarem
menos propensas ao risco de embaraço financeiro. Logo, torna-se primordial entender de forma separada
como a estrutura de capital influencia no financial distress de empresas familiares e não familiares.

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