Evolução da consciência desenvolvimentista: da Cepal à Escola de Campinas

AutorFabio Padua dos Santos
Páginas119-135
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8085.2017v20n2p119/
119
Rev. Text. Econ., Florianópolis, v. 20 n. 2, p. 119 135, ago/dez. 2017 ISS N 2175-8085
Evolução da consciência desenvolvimentista:
da Cepal à Escola de Campinas
Developmentalist consciousness evolution:
from Eclac to Campinas´ School
Fábio Pádua dos Santos
fpadua@gmail.com
Universidade Federal de Santa Catarina
Resumo: A ascensão dos países latino-americanos nas hierarquias mundiais da riqueza e do
poder no interior do sistema internacional é preocupação perene no pensamento
desenvolvimentista. No presente artigo, apresentem-se, de modo didático e objetivo, as
condições teóricas de superação do subdesenvolvimento tanto para o pensamento originário
da CEPAL como para a Escola de Campinas. Argumenta-se que a essência da problemática
da superação do subdesenvolvimento formulada pela CEPAL na década de 1950 continua
presente na Escola de Campinas, muito embora, esta última reconheça que a dinâmica do
capitalismo contemporâneo ampliou os constrangimentos à redução da brecha existente entre
países subdesenvolvidos e desenvolvidos. Para tanto, são apresentadas as semelhanças e
diferenças entre os esquemas analíticos da CEPAL e da Escola de Campinas com relação à
noção de sistema capitalista, aos determinantes da relação centro-periferia e às possibilidades
de superação do subdesenvolvimento. Como conclusão, sugere-se que a Escola de Campinas
propôs uma revisão crítica dos fundamentos teóricos do estruturalismo latino-americano de
modo a fundamentar e instrumentalizar a luta política pela redemocratização com vistas à
inserção nacional soberana no sistema mundial capitalista financeirizado.
Palavras-chave: Capitalismo; Subdesenvolvimento; Relação Centro-Periferia; CEPAL;
Escola de Campinas
Abstract: The rise of Latin American countries in the world hierarchies of wealth and power
in the international system has been an enduring concern in the developmentalism thought.
This paper presents, in a didactic and objective way, the theoretical conditions to overcome
underdevelopment situations in both ECLAC early thought as well as for Campinas’ School.
The present paper argues the subject matter to overcome the underdevelopment formulated
by ECLAC in the 1950s is still alive in the Campinas' School, although this school of thought
recognizes that the dynamic of contemporary capitalism extended the constrains to reduce the
gap between underdeveloped and developed countries. Therefore, in what follows, it will
present the similarities and differences between both analytical frameworks ECLAC and
Campinas' School in relation to the notion of capitalism system, the determinants of core-
periphery relation, and the possibilities to overcome the underdevelopment. By way of
conclusion, it suggests Campinas’ School has proposed a critical review of theoretical
foundations of Latin American structuralism in order to ground and to instrumentalize the
political struggle for redemocratization with a view to sovereign national insertion into the
financialized capitalist world system.
Keywords: Capitalism; Underdevelopment; Core-Periphery Relation; ECLAC; Campinas’
School
Recebido em: 26-10-2017. Aceito em: 15-12-2017.
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8085.2017v20n2p119/
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Rev. Text. Econ., Florianópolis, v. 20 n. 2, p. 119 135, ago/dez. 2017 ISS N 2175-8085
INTRODUÇÃO
A problemática do desenvolvimento nacional é a da superação do
subdesenvolvimento. Conforme Celso Furtado, em Teoria e Política do Desenvolvimento
Econômico, “[...] o subdesenvolvimento não constitui uma etapa necessária do processo de
formação das economias capitalistas modernas. É, em si, uma situação particular, resultante
da penetração de empresas capitalistas modernas em estruturas arcaicas. (FURTADO, 1967,
p. 167). Historicamente, a luta pela superação do subdesenvolvimento tem consistido em
transformar deliberadamente sistemas econômicos nacionais especializados e heterogêneos
em direção a uma maior capacidade autônoma de crescimento, direcionando-os para as
necessidades das respectivas sociedades que conformam unidades políticas nacionais.
(SUNKEL; PAZ, 1970, p. 37). Deste prisma, tais transformações devem ser conduzidas pelo
Estado a partir de reformas estruturais sumarizadas em projetos nacionais de
desenvolvimento. Como bem exprime Furtado,
[...] essas reformas transcendem o quadro do que convencionalmente se chama de p olítica econômica,
pois constituem o coroamento de uma fase de agudas tensões sociais. As reformas surgem não como
uma opção racional, e sim como abandono de certas posições pelos grupos q ue controlam o sistema de
poder, ou como uma modificação da relação de força s dos grupos que disputam o controle do sistema
de poder. (FURTADO, 1967, p. 207)
No presente artigo, apresentem-se, de maneira sistematizada, as condições de
superação da situação de subdesenvolvimento ao pensamento desenvolvimentista, tanto para o
pensamento originário da CEPAL como para a Escola de Campinas. Dito de outro modo, o
artigo busca organizar, de modo didático e objetivo, as percepções de ambas as escolas de
pensamento sobre a possibilidade de ascensão dos países latino-americanos nas hierarquias
mundiais da riqueza e do poder no interior do sistema mundial moderno.
Nessa modesta incursão pelo tema, destaca-se que a essência da problemática da
superação do subdesenvolvimento formulada pelo pensamento originário da CEPAL na
década de 1950, continua válida para o pensamento desenvolvimentista consubstanciado
atualmente na Escola de Campinas. Não obstante, esta última reconheça que a dinâmica do
capitalismo contemporâneo ampliou os constrangimentos à redução da brecha entre os países
periféricos e o mundo desenvolvido.
Argumenta-se que o reconhecimento das maiores dificuldades à superação do
subdesenvolvimento foi possível em função da redefinição da problemática do
desenvolvimento nacional a partir da crítica da Economia Política da CEPAL à luz do

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