Exemplo no 11. Exemplo de linguagem empolada e gongórica

AutorJosé Fiker
Ocupação do AutorDoutor em Semiótica e Linguística Geral (com enfâse em Laudos Periciais) pela USP
Páginas201-205

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Neste exemplo, desejamos mostrar o efeito contrário ao da linguagem informal e coloquial focalizada no exemplo no 9, no que diz respeito àquilo que dissemos no CAPÍTULO VIII – AUDITÓRIO – DISCURSO DIRECIONADO.

Neste caso, temos o extremo oposto: linguagem excessivamente rebuscada, que também acaba resvalando no ridículo pelo exagero que denota.

É verdade que se trata de um memorial escrito por advogados e que, portanto, espelha muito mais a linguagem do juiz do que a do perito.

Mas existem peritos que costumam adentrar esse terreno e nem sempre com muito sucesso.

É mais comum ao juiz, quando justifica sua sentença, utilizar-se de termos bombásticos e de efeito retórico retumbante.

A incursão do perito nesse campo pode provocar estranheza ao juiz e pode não ser bem recebida. Ainda mais se o perito não dominar, como em geral não domina, a linguagem gongórica, que, aliás, já caiu em desuso. Podem resultar aberrações que distorçam completamente a tese a ser provocada pelo experto.

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Não recomendamos a adoção desse expediente, do qual se aproxima oexemplodadonotextotiradodolivro Imbróglio Avaliatório, já citado.

Melhor que o perito se atenha à linguagem que domina, predominantemente realista, conforme vimos no trabalho, que é a mais adequada aos trabalhos técnicos, sem abdicar dos termos que conferem maior precisão ao discurso, mas não se esquecendo nunca de explicá-los ao juiz.

Contestação

INTRÓITO DESNUDADOR.

1 – O poderoso, porque se lhe delegou função de Estado, entendeu de nos espezinhar, de nos achanar com o tacão.

Tivéramos, em princípios de julho, a democrática veleidade de divergir de proposta de Cr$ 156.340,00. Nem admitiu diálogo ou simples contra-oferta.

Daí, neste Augusto Juízo oferecer agora pelo imóvel a importância de Cr$ 34.646,00, isto é, quase CINCO VEZES MENOS...

Ai do vassalo, se não for covarde, se não se submeter ao guante do Senhor feudal, se não * rastejar aos pés do Suserano. EstamosàsportasdoséculoXXI,emregimedamaisabsolutaliber-dade, com Poder Judiciário vígil, soberano e Justo. Se vivêssemos na eraprofligadapor Beccaria, adesapropriantedeclarar-nos-ia a heresia, mandar-nos-ia às galés e confiscar-nos-ia os bens!!

Em melancólico remate, à A. não merece a atribuição confiada, salvo se este for caso esporádico, ignorado pelos elementos de sua cúpula. Nessa hipótese, deverá punir energicamente os responsáveis pela irrisão e inqualificável peça, sob color de petição...

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