Movimentos feministas e de mulheres no brasil: (re) construindo as identidades das mulheres em busca de direitos de cidadania e relaçãoes equitativas de gênero

AutorAngelita Maria Maders, Rosângela Angelin
Páginas86-102
MOVIMENTOS FEMINISTAS E DE MULHERES NO BRASIL: (RE)
CONSTRUINDO AS IDENTIDADES DAS MULHERES EM BUSCA DE DIREITOS
DE CIDADANIA E RELAÇÃOES EQUITATIVAS DE GÊNERO
FEMINIST AND WOMEN MOVEMENTS IN BRAZIL: RE-BUILDING WOMEN'S
IDENTITIES IN SEARCH OF CITIZENSHIP RIGHTS AND EQUITABLE GENDER
RELATIONS
Angelita Maria Maders
1
Rosângela Angelin2
Resumo: O presente artigo desenvolve um estudo, através de uma metodologia de
investigação, baseada no método hipotético-dedutivo e histórico, sobre a construção das
identidades femininas e seu reconhecimento no decorrer da história da humanidade. Também
aborda a atuação dos Movimentos Feministas e de mulheres, em especial no Brasil e sua
contribuição para o reconhecimento de direitos de cidadania e melhoria nas relações de
gênero. Sendo as identidades construções sociais, constata-se que ambos os movimentos
influenciaram e seguem atuantes na mudança das relações de gênero, no reconhecimento
social das mulheres, na criação de direitos de cidadania para elas e, na (re)construção da
isonomia nas relações de gênero.
Palavras-chave: movimentos feministas, movimento de mulheres, relações equitativas de
gênero, direitos das mulheres.
Abstract: The present article develops a study, through an investigation methodology based
on the hypothetical deductive and historical method, about the building of feminist identities
and their recognition along mankind's history, as well it approaches the acting of the Feminist
and Women Movements, specially in Brazil, and its contribution to the recognition of
citizenship rights and improvement in gender relations. Being these identities social buildings,
it´s possible to evidence that both movements have been influencing and kept on actively
working on the changing of gender relations, on social recognition of women, on the creation
of citizenship rights for them, and on the rebuilding of isonomy in gender relations.
Keywords: feminist movements, women movements, equitable gender relations, women's
rights.
1 Doutora em Direito pela Universidade de Osnabrück, (Alemanha). Mestre em Gestão, Desenvolvimento e
Cidadania pela Unijuí. Professora do Mestrado em Direito da URI, bem como dos cursos de graduação em
Direito da URI e da UNIJUÍ. Membro do grupo de pesquisa “Tutela dos Direitos e sua Efetividade”, registrado
no CNPq e sustentação da linha de pesquisa Políticas de Cidadania e Soluções de Conflito, do Mestrado em
Direito da URI Santo Ângelo. Coordenadora do grupo de pesquisa “O pensamento complexo e os novos
direitos”, do Mestrado em Direito da URI, Santo Ângelo. Coordenado ra do grupo de pesquisa “Direitos
humanos, cidadania e a consolidação dos direitos sociais: estudos sob a ó tica do constitucionalismo
contemporâneo e da teoria da complexidade de Edgar Morin”. Defensora Pública do Estado na Comarca de
Santo Ângelo/RS. Membro do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do
Sul. E-mail: angmaders@hotmail.com
2 Doutora em Direito pela Univer sidade de Osnabrück (Alemanha). Docente do Mestrado em Direito e da
Graduação em Direito da Universidade Re gional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), Campus Santo
Ângelo-RS. Coordenadora do Grupo de Pesquisa sobre “Multiculturalismo, Direitos Hu manos e Cidadania”
(URI). Membro do grupo d e pesquisa “Tutela dos Direitos e sua Efetividade”, registrado no CNPq e sustentação
da linha de pesquisa Políticas de Cidadania e Soluções de Conflito, do Mestrado em Direito da URI, Santo
Ângelo. Coordenadora do gru po de pesquisa “Direitos humanos, cidadania e a consolidação dos direitos sociais:
estudos sob a ótica do constitucionalismo contemporâneo e da teoria da complexidade de Edgar Morin”.
Colaboradora na execução de proj etos junto a ONG Associação Regional de Desenvolvimento e Educação
(AREDE). Integrante da Marcha Mundial de Mulheres. E-mail: rosangelaangelin @yahoo.com.br
Considerações iniciais
No processo histórico-evolutivo da humanidade, a identidade feminina passou por
diversas modificações que rumaram a um desequilíbrio nas relações de gênero. Isso não
implica dizer que as identidades das mulheres não são reconhecidas pela sociedade, mas que
este reconhecimento tem sido equivocado, tanto que ocasionou em desfavor destas uma vida
de submissão frente à dominação masculina e um cenário de desigualdades, justificado pela
naturalização do papel feminino.
As relações de gênero foram firmadas ao longo desse processo, configurando-se
como construções culturais de identidades masculinas e femininas, envolvendo relações de
poder. Um dos resultados desse tipo de relação de poder pode ser vislumbrado na opressão e
inferiorização das mulheres e na ‘naturalização’ dessas identidades, fazendo com que o
reconhecimento social destas seja equivocado.
Diante desse cenário, constata-se que as mulheres, em todos os períodos da história,
resistiram de formas diversas à opressão imposta, em busca da equidade nas relações de
gênero. Mais recentemente, na modernidade, surgiram movimentos organizados capazes de
alterar essa situação, sendo precursores de muitos avanços na melhoria da vida das mulheres.
Estes são denominados movimentos feministas e movimentos de mulheres e deflagraram a
conquista de diversos direitos de cidadania para as mulheres, até então concedidos apenas aos
homens. Ao diferenciar essas formas de organização, pode-se afirmar que os movimentos
feministas apresentam um caráter mais político, no sentido de buscar a equidade nas relações
de gênero e, portanto, abordam temas que envolvem política, direito sobre o corpo,
emancipação, economia etc. Já os movimentos de mulheres, no Brasil, encontram-se ligados
às pastorais sociais das igrejas e se ocuparam mais com demandas voltadas para a melhoria
das condições de vida das famílias, como saneamento básico, direito à saúde, alimentação,
habitação. No caso brasileiro, mesmo com diferentes focos de atuação, esses movimentos se
uniram no final da década de 1970 para lutar por causas comuns envolvendo a busca de
direitos para as mulheres e a consequente mudança identitária da sociedade.
Sendo assim, o presente artigo pretende trabalhar aspectos envolvendo a
(re)construção das identidades das mulheres e seu reconhecimento social, bem como analisar
a trajetória desses movimentos, em especial no Brasil, apontando os avanços jurídicos e os
direitos de cidadania alcançados por elas, em busca de relações de gênero mais equitativas.
1 Afinal, quem são as mulheres? Uma análise do processo de (re) construção das
identidades das mulheres e de seu reconhecimento
A busca pelo reconhecimento das mulheres na sociedade tem sido um processo longo
e árduo. Sabe-se que relações de gênero foram se firmando ao longo da história,
configurando-se como construções culturais de identidades masculinas e femininas,
envolvendo relações de poder e impondo comportamentos aos homens e às mulheres, que
nem sempre se desenvolveram por meio da coerção física, mas foram incutidos na
subjetividade humana “em toda a sua aparente liberdade e privacidade”.
3
Definir identidades envolve pressupostos da forma como o ser humano vive e constrói
sua história, “[...] à forma como vive [...] na sua maneira de idear e de manipular o seu mundo
histórico e, também, o modo como ele constrói sua projeção introspectiva e estética do
mundo”.4 E é por meio desta definição de identidades que este trabalho pretende abordar a
questão das identidades das mulheres.
3EAGLETON, Terry. A ideia de Cultura. São Paulo: Editora UNESP, 2005, p. 76.
4SIDEKUM, Antônio. “Alteridade e interculturalidade”. In: SIDEKUM, Antônio [Org.]. Alteridade e
multiculturalismo. Coleção Ciências Sociais. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003, p. 266.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT