Ferramentas Ergonômicas e AET (Análise Ergonômica do Trabalho)

AutorLenz Alberto Alves Cabral
Ocupação do AutorMédico do Trabalho, especialista em Medicina do Trabalho pela AMB/ANAMT
Páginas283-308

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1. Introdução

Ferramenta é qualquer meio para alcançar um objetivo, ou ainda, qualquer instrumento necessário para o desempenho de uma profissão. Assim, as ferramentas ergonômicas são utilizadas na realização da Análise Ergonômica do Trabalho, porém sem substituir a importância do ergonomista, aliás sem o qual, sequer ela existe. Assim como o seu conceito mais remoto que define ferramentas como sendo “qualquer instrumento de metal empregado em artes e ofícios”, as ferramentas ergonômicas são também “instrumentos” vivos, em uma evolução interminável ao longo da história para atender às necessidades que se sucedem, à mercê da contínua evolução do conhecimento humano que pode ser observado através do surgimento de novas ferramentas, do aprimoramento das antigas e do esquecimento de algumas. Porém, por mais atual que seja, uma ferramenta jamais poderá sobrepor à importância do “ergonomista”, ao ponto de dispensar a sua presença, sem a qual não faz sentido qualquer avaliação do trabalho.

2. Objetivos

• Aprender a realizar a Análise Ergonômica do Trabalho como uma ferramenta eficiente para atender às necessidades diárias do médico do trabalho;

• Conhecer os elementos da Análise Ergonômica do Trabalho, como a sua demanda, a identificação do posto de trabalho, tarefa e produto, a sua elaboração e conclusão;

• Conhecer os critérios de escolha das ferramentas usadas em ergonomia, o seu uso, as suas indicações e as suas limitações na avaliação dos riscos ergonômicos em um posto de trabalho;

• Conhecer as ferramentas usadas em ergonomia, como: Decomposição Analítica da Tarefa, RULA, OWAS avançado, Equação de NIOSH e Voz do Cliente;

• Aprender a elaborar o Laudo Ergonômico resultante da Análise Ergonômica do Trabalho, com foco nas demandas do médico do trabalho.

3. Demanda: referência maior para análise ergonômica do trabalho

A análise Ergonômica do Trabalho tem como objetivo investigar se as condições de trabalho se encontram adaptadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores a elas expostas. Dizemos que não há risco ergonômico quando o posto de trabalho se encontra adaptado ao trabalhador e, ao contrário, que há risco ergonômico quando o posto de trabalho não se encontra adaptado ao trabalhador. A nossa Análise Ergonômica do Trabalho tem por objetivo específico atender às necessidades do médico do trabalho, nas respostas às três perguntas básicas:

• 1ª — Existe o risco laboral?

• 2ª — O trabalhador está apto?

• 3ª — Existe nexo com o trabalho?

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Respondendo a estas três perguntas, as suas conclusões como médico do trabalho estarão bem fundamentadas em critérios técnico-legais sólidos, esteja você representando qualquer ator social da relação tripartite, representada pelo trabalhador, empregador e governo, trazendo mais conforto e segurança jurídica para o seu trabalho seja como médico do trabalho do SESMT, do INSS, perito ou assistente técnico.

4. Elementos da análise ergonômica do trabalho

A estrutura de uma Análise Ergonômica do Trabalho é formada por elementos indispensáveis, como a demanda, a identificação do posto de trabalho, a tarefa, o produto, as ferramentas ergonômicas, a metodologia usada e a conclusão. Com a falta de qualquer um desses elementos, ela pode se tornar:

• Mal dimensionada, podendo ser ora dispendiosa por abordar aspectos sem importância, ora incompleta, por não abordar aspectos indispensáveis em cada situação.

• Falsa, por detectar riscos ergonômicos que não existem, ou ao contrário, não detectar riscos laborais reais.

• Sem fundamentação técnico-legal, pela não adequação da ferramenta usada à situação a ser analisada.

5. Importância em ergonomia de conceitos como: cargo, função, posto de trabalho, tarefa, produto, atividade de trabalho, ritmo e cadência

Sem compreender o trabalho realizado pelo trabalhador, não é possível identificar os seus riscos ergo-nômicos, resultando em uma análise ergonômica com falsas conclusões, podendo prevenir riscos que não existem ou, pior ainda, deixar de prevenir reais riscos. Para compreender o trabalho é também necessária a compreensão de alguns conceitos como: cargo, função, posto de trabalho, tarefa, produto, atividade de trabalho, ritmo e cadência.

Não se preocupe com a rigidez acadêmica que envolve esses conceitos, trazendo até alguma dificuldade na sua compreensão, porque a rigidez que realmente importa ao ergonomista é aquela necessária para realizar uma Análise Ergonômica do Trabalho que identifique rigorosamente todos os riscos ergonômicos, sem escapar nenhum deles.

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6. Estudo individualizado de cada elemento da análise ergonômica do trabalho
6.1. Cargo e função

As expressões cargo e função costumam gerar confusão para o ergonomista. De um modo geral, o cargo se refere à posição corporativa do indivíduo na empresa, como por exemplo, auxiliar administrativo ou auxiliar de produção. Já a função é o resultado do conjunto de responsabilidades e atribuições que estão relacionadas ao cargo. Como se pode ver, trabalhadores com mesmos cargos e funções podem apresentar riscos laborais diferentes, dependendo do processo específico de trabalho, assim como do produto de seu trabalho. Por esta razão, um auxiliar de produção em uma determinada empresa, em um determinado momento pode apresentar diferentes riscos de outro auxiliar de produção de outra empresa, ou mesmo dentro da mesma empresa em épocas diferentes ou mesmo em diferentes locais de trabalho.

Assim, em uma avaliação ergonômica, o cargo e função são importantes apenas na contextualização do trabalho a ser avaliado, mas não traduzem os riscos ambientais a ele inerentes.

6.2. Tarefa

A tarefa é um conjunto de prescrições definidas (externamente) para alcançar um objetivo específico. A tarefa mantém relação estreita com o trabalho através das condições e dos resultados deste(14), e tal forma definindo o processo de produção e o produto a ser alcançado. Ou ainda em outras palavras, a tarefa determina para o trabalhador o que fazer, como fazer, quanto fazer, quando e onde fazer.

Como a tarefa define o conjunto de ações (processo) destinadas a alcançar um objetivo específico (produto), seja um bem, um serviço ou uma informação, ela se relaciona diretamente ao posto de trabalho, de tal forma que para identificar um posto de trabalho devemos identificar a tarefa do trabalhador, ou seja, trabalhadores com a mesma tarefa ocupam o mesmo posto de trabalho.

Assim, na determinação da tarefa são relevantes as informações referentes à organização do trabalho, como as máquinas e ferramentas usadas, o efetivo, a matéria-prima e material, os métodos utilizados, o horário de trabalho, o local de trabalho, a tecnologia usada etc. Assim, riscos laborais são eliminados ou introduzidos

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no ambiente decorrentes de mudanças no processo ou produto, mudanças no horário de trabalho (diurno e noturno), no método usado (trabalho manual e mecanizado) etc.

Daí a importância da exata definição do posto de trabalho, com base nas perguntas: o que faz, como faz, quanto faz, quando faz e onde faz.

• O que fazer

• Como fazer

• Quanto fazer

• Quando fazer

• Onde fazer

6.3. Posto...

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