Ganhamos a guerra, não a paz

AutorLeilane Serratine Grubba
CargoProfessora de Direito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/DIR)
Páginas180-201
Revista DIREITO E JUSTIÇA Reflexões Sociojurídicas Ano XIII Nº 22, p. 183-206 Abril 2014
GANHAMOS A GUERRA, NÃO A PAZ
EINSTEIN AND THE SCIENTIFIC ETHIC: THE STRUGGLE FOR PEACE AND
RIGHTS
Leilane Serratine Grubba
1
Sumário: Considerações iniciais. 1 A luta contra a guerra:
ganhamos a guerra, não a paz. 2 Sobre a paternidade da guerra: a questão da
bomba atômica e a responsabilidade moral da ciência. Considerações finais.
Referências.
Resumo: Este artigo tem como objeto o pensamento d e Albert
Einstein e objetiva verificar o posicionamento de Einstein com relação a
instauração da Paz mundial e, essencialmente, a sua defesa contra a guerra e
contra as acusações de que seria responsável, subsidiariamente, pelos atentados
atômicos de Hiroshima e Nagasaki, uma vez que suas pesquisas contribuíram
para a descoberta do encadeamento atômico. Em primeiro lugar, foram
analisadas as ideias de Einstein contra a guerra e a forma pacífica de solução
dos conflitos. Em segundo lugar, analisou-se a ideia da responsabilidade moral
dos cientistas em suas descobertas e a vinculação de Einstein à bomba atômica.
Apesar de ter sido Einstein quem primeiro estabeleceu a relação entre massa e
energia, relação esta que serviu para conduzir as descobertas da liberação da
energia atômica e, muito embora tenha sido ele quem redigiu a carta ao
Presidente estadounidense Roosevelt, alertando sobre a necessidade de não se
abandonar a pesquisa sobre a bomba atômica; o pensador em nada contribuiu
para a formação da bomba e posterior uso em território nipônico.
Palavras-chave: Direito. Ciência. Ética. Paz. Einstein.
Abstract: This article is about the of Albert Einstein‟s thought and
objectively verifies the positioning of Einstein regarding the establishment of
world peace and essentially his defense against war and against the charges that
would be responsible, alternatively, by t he atomic bombings of Hiroshima and
Nagasaki, due to the fact that his research has contributed to the discovery of
the atomic chain. First, it was analyzed Einstein's ideas against war and
peaceful settlement of conflicts. Second, i t was analyzed the idea of moral
responsibility of scientists in their discoveries, linking Einstein to the atomic
bomb. Although it was Einstein who first established the relationship between
mass and energy, a relationship that served to drive the findings of the release
of atomic energy, and even th ough it was he who wrote the letter to the
American President Roosevelt, warning of the need not to abandon research on
the atomic bomb; he did not contribute to the bomb creation and the later use in
the Nipponese territory.
Keywords: Law. Science. Ethic. Peace. Einstein.
Considerações inicias
1 Professora de Direito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/DIR). Doutoranda em Direito
(UFSC/PPGD) e Mestre em Direito (UFSC/PPGD).
Revista DIREITO E JUSTIÇA Reflexões Sociojurídicas Ano XIII Nº 22, p. 183-206 Abril 2014
Einstein foi um cientista co mpletamente vinculado à realidade social, um
observador da realidade e de seu tempo. Nesse sentido, epistemologicamente, ele
assumiu a atitude r ealista o realismo científico. Em sua vida, o pensador defendeu
causas humanitárias. Principalmente a partir dos atentados atô micos, Einstein passou
os últimos vinte anos de sua vida, nos Estados U nidos, lutando ativamente contra a
guerra e a favor da instauração da paz a nível mundial.
Segundo Russel (1994b, p. 9), Einstein foi o cientista mais genial da sua
geração. Concomitantemente, ele também foi um sábio. Duas coisas que nem
sempre caminham conjuntamente, disse Russel.
Einstein nasceu em 14 de março de 1879, na cid ade de Ulm, mas passou sua
mocidade em Munique. Já adulto, o físico Einstein, criar das teorias da relatividade
geral e especial, revolucionou o conhecimento humano ao afirmar que o espaço-
tempo não é algo a que se possa atribuir uma existência separada e “[...]
independente dos objetos da realidade física. Objetos físicos não estão no espaço.
Estes objetos são espa cialmente estendidos. Assim, o conceito de „espaço vazio‟
perde seu significado”. (1999, p. 9).
Einstein argumentou que não existe um tempo real, uma vez que não há um
tempo absoluto. O tempo se aplica ao local em que está sendo medido
(STRATHERN, 1998, p. 55). De fato:
Einstein sugeriu um teste prático. De a cordo com sua teoria, a luz
das estrelas distantes deveria sofrer um desvio ao pas sar pelo potente campo
gravitacional do sol. Infelizmente, essa luz só podia ser observada durante um
eclipse do Sol e o próximo só aconteceria em 1919. O mundo teria que esperar
para descobrir se era parte de um universo curvo ou chato. (STRATHERN,
1998, p. 69).
Em novembro [de 1919], a publicação de uma notícia mudaria para
sempre a vida de Einstein. No início do a no, o astrofísico britânico Arthur
Eddington liderara uma expedição à ilha de Príncipe, no golfo da Guiné, na
África portuguesa, onde havia fotografado o eclipse solar. Est relas antes não
visíveis, devido ao brilho do Sol, podiam agora ser observadas. As fotos
também mostravam que, à medida que a luz das estrelas passava perto do Sol,
curvava-se. Ou seja, a posição dessas estrelas parecia ser diferente de quando
sua luz não passava perto do Sol. As observações de Eddington comprovavam
as previsões de Einstein de que a luz das estrelas distantes era curvada pelo
Sol. A teoria da relatividade geral estava confirmada: por muitos dias, Einstein
viveu em estado de euforia. (STRATHERN, 1998, p. 71).
Mas a reação de Einstein não foi nada se comparada à da imprensa
mundial. Poucos sabiam de fato a que se referia a relatividade (mesmo nos
círculos científicos), mas todos entenderam que o universo parecia ter mudado
para sempre. De repente, o obscuro professor de física de Berlim estava sendo
aclamado como „o maior gênio da Terra‟. (STRATHERN, 1998, p. 71).
Segundo Strathern, Einstein transformou o universo:
Sua teoria da relatividade o consagrou como o maior espírit o
científico desde Newton. A relatividade destruiu noções de espaço e tempo e

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