Gênero, igreja e dominação

AutorIsabela Vince Esgalha Fernandes
CargoAdvogada e Mestranda em Direitos Humanos pela Universidade de Brasília.
Páginas25-40
Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito
Centro de Ciências Jurídicas - Universidade Federal da Paraíba
V. 8 - Nº 03 - Ano 2019
ISSN | 2179-7137 | http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ged/index
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GÊNERO, IGREJA E DOMINAÇÃO
Isabela Vince Esgalha Fernandes
1
Resumo: A violência de gênero está
presente nos mais diversos aspectos
sociais. Uma das formas mais sutis de
sua materialização está na violência
simbólica, reproduzida na cultura,
educação e tradições presentes em nossa
sociedade. Neste trabalho, será dado
enfoque para o tratamento dado às
mulheres pela Igreja católica, que
configura uma das instituições
responsáveis pelo controle social, e,
portanto, detém grande potencial de
influenciar a construção das
subjetividades, e assim, reproduzir
desigualdades e violências. O trabalho
busca refletir acerca do papel histórico
da Instituição em relação à construção da
desigualdade de gênero, bem como as
estratégias e como aspectos de sua
doutrina que contribuíram e até hoje
contribuem para a manutenção desta
estrutura.
Palavras-chave: Violência de gênero.
Igreja católica. Ideologia. Direitos
Humanos.
1
Advogada e Mestranda em Direitos Humanos pela Universidade de Brasília.
Abstract: Gender violence is present in
the most diverse social aspects. One of
the most subtle forms of its
materialization is the symbolic violence,
reproduced in the culture, education and
traditions present in our society. In this
work, a focus will be given to the
treatment given to women by the
Catholic Church, which constitutes one
of the institutions responsible for social
control, and therefore has great potential
to influence the construction of
subjectivities, and thus reproduce
inequalities and violence. The work
seeks to reflect on the historical role of
the Institution in relation to the
construction of gender inequality, as well
as the strategies and as aspects of its
doctrine that contributed and until today
contribute to the maintenance of this
structure.
Keywords: Gender violence. Catholic
Church. Ideology. Human Rights.
Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito
Centro de Ciências Jurídicas - Universidade Federal da Paraíba
V. 8 - Nº 03 - Ano 2019
ISSN | 2179-7137 | http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ged/index
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A história da humanidade é
marcada por desigualdades. Entre elas,
está a desigualdade
2
em relação às
mulheres. Ao longo dos séculos,
impérios se ergueram e caíram, guerras
foram travadas, sem, no entanto, uma
transformação significativa nesta
particular forma de discriminação.
Desde que podemos nos lembrar,
mulheres foram relegadas ao ambiente
privado e à maternidade, sendo
consideradas inferiores física e
intelectualmente, tendo sido negado seu
acesso a grande parte dos espaços.
O controle sobre o sexo feminino
remonta ao neolítico, momento em que o
homem descobre seu papel na
reprodução, antes atribuído aos deuses.
A perpetuação da herança genética se
torna importante, e assim, o controle
sobre as mulheres (Auad, 2003). Apesar
do decurso do tempo e do
desenvolvimento da humanidade,
diferentes sociedades ainda mantinham,
nas mais diferentes formas, o controle
sobre a mulher.
Em diferentes níveis, a
dominação do homem sobre a mulher
2
O termo aqui, é entendido como a atribuição de
vantagem a uma das partes de uma relação entre
pessoas. Pode ser compreendida a partir da
construção e repro dução das diferenças entre
manteve-se constante, e seus feitos
foram apagados da história pelos únicos
historiadores disponíveis: Os homens
(Pinsky, 2009). A perpetuação da
desigualdade, do pensamento da mulher
como inferior, incapaz e sem voz, foi de
crucial importância para a manutenção
da dominação.
O conceito de gênero ajuda a
explicar a construção dessa dinâmica. A
partir das diferenças sexuais entre
homens e mulheres a sociedade criou
como deveria ser as relações entre os
sexos (o modo de agir, sentir e pensar),
as chamadas representações de gênero
(Camurça e Gouveia, 2004).
Desta forma, o simples fato de ser
homem ou ser mulher implica um
conjunto de significados pré-definidos
culturalmente. Na história, estas
representações foram desenvolvidas
pensando o masculino e feminino como
polos opostos, criando um desequilíbrio,
uma desigualdade entre os sexos. Isto
levou à construção de uma hierarquia aos
poucos naturalizada pelo discurso de
dominação, justificado pelas diferenças
biológicas.
pares categóricos, como negro/branco,
homem/mulher etc., que a todo momento são
reformulados e institucionalizados (Tilly, 1998)

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