Genômica Nutricional

AutorMaria Beatriz de Souza Lima Rizzi e Adriana Caldas do Rego Dabus Maluf
Páginas81-125
CAPÍTULO 3
GENÔMICA NUTRICIONAL
Maria Beatriz de Souza Lima Rizzi
Mestre em Ciências dos Alimentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da
Universidade de São Paulo. Professora de Nutrição do Centro Paula Souza. Membro
da Comissão de Biotecnologia e Biodireito da OAB Secção São Paulo. Nutricionista
em São Paulo.
Adriana Caldas do Rego Dabus Maluf
Mestre e doutora em Direito Civil pela Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo. Professora de Direito Civil e Biodireito da Faculdade de Direito do Centro Uni-
versitário UniFMU, nutricionista e membro da Comissão Biotecnologia e Biodireito da
OAB/seção São Paulo. Advogada e palestrante em direito civil. Colaboradora e membro
de conselhos editorais de revista jurídica, como Revista do Advogado, Revista Brasileira
de Direito Ambiental, Revista Brasileira de Direito Civil, Constitucional e Relações
de Consumo. Autora dos livros Limitações urbanas ao direito de propriedade e Nova
modalidades de família na pós-modernidade, publicadas pela Atlas.
O DNA deixou de ser uma molécula esotérica, interessante apenas
para um punhado de cientistas, e tornou-se o cerne de uma tecnologia
que está transformando muitos aspectos do modo como vivemos.1
James Watson
Andrew Berry
Sumário: 3.1. Considerações iniciais – 3.2. Biologia Molecular: denições e histórico ; 3.2.1.
Gene – conceituação – 3.3. Genômica – a era Pós-genoma; 3.3.1. Genômica Nutricional –
classicação; 3.3.2. Genômica Nutricional: discussão e problematização – 3.4. Possíveis
Soluções 3.5. Referências Bibliográcas
3.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A alimentação é uma necessidade f‌isiológica básica, um direito personalíssimo
do indivíduo, estando sujeito a inf‌luências culturais, crenças e diferenças no âmbito
social, étnico, f‌ilosóf‌ico e religioso.
Alimentação saudável ou equilibrada, segundo o Ministério da Saúde, com-
preende um padrão alimentar adequado às necessidades biológicas e sociais dos
indivíduos de acordo com as fases do curso da vida.2
1. WATSON, James D. DNA: o segredo da vida. São Paulo, Companhia das Letras, 2005. p. 9.
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Secretaria de Atenção Básica. Glossário temático: ali-
mentação e nutrição/Secretaria-Executiva. Secretaria de Atenção Básica. Brasília: Editora do Ministério da
Saúde, 2007. p. 60 – (Série A: Normas e Manuais Técnicos).
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MARIA BEATRIZ DE SOUZA LIMA RIZZI E ADRIANA CALDAS DO REGO DABUS MALUF
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A alimentação equilibrada deve, basicamente, buscar o adequado fornecimento
energético necessário aos processos metabólicos e atividade física, a oferta equili-
brada de macronutrientes (proteínas, carboidratos e lipídeos), a garantia do aporte
suf‌iciente dos micronutrientes (vitaminas, minerais e oligoelementos) e água, im-
portantes para a manutenção da saúde e da qualidade de vida em qualquer idade e
estágios f‌isiológicos.3-4
As questões envolvendo a alimentação e nutrição ocupam hoje um lugar de
destaque no contexto mundial. Percebe-se uma grande preocupação com a nutrição
equilibrada e com as consequências de uma alimentação incorreta – sua relação com
o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).
As últimas quatro décadas foram marcadas por importantes transformações no
perf‌il epidemiológico das doenças no Brasil. Caracterizado, anteriormente, por altas
taxas de morbidade e mortalidade devido às doenças infecciosas e/ou parasitárias,
passou, em um período de tempo relativamente curto, para o predomínio doenças
crônicas não transmissíveis como hipertensão, diabetes, câncer, doenças cardiovas-
culares e respiratórias, entre outras.5 Dessa forma, as DCNT passaram a determinar,
no Brasil, a maioria das causas de morte (72,6%) e incapacidade, ultrapassando as
taxas de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias.6
Importante mencionar que as DCNT se caracterizam por apresentarem uma
etiologia complexa, com vários fatores de risco, com períodos longos de latência,
curso prolongado da doença clínica e de origem não infecciosa.7
3. ALMEIDA, Carlos Alberto Nogueira de; FERNANDES, Geórgia de Castro. A importância do porcionamento
na alimentação balanceada. International Journal of Nutrology, v. 4, n. 3, p. 53-59, sept/dec 2011.
4. MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus; RIZZI, Maria Beatriz de Souza Lima. Uma visão interdis-
ciplinar entre bioética e o início da vida. In: MIGLIORE, Alfredo Domingos Barbosa; SCAQUETE, Ana
Cláudia Silva; LIMA, Cintia Rosa Pereira de; BERGSTEIN, Gilberto (Orgs.). Dignidade da pessoa humana.
São Paulo: LTr, 2010. p. 91.
5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância de Doenças e
Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Prevalência e distribuição de importantes doenças crô-
nicas não transmissíveis no Brasil, 2013: análise da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), p. 201-216. Brasil.
Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos
Não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Saúde Brasil 2014: uma análise da situação de saúde e das causas
externas/Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância de Doenças e
Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. Disponível em: [http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_brasil _2014_analise_situacao.pdf]. Acesso em: 23.06.2018.
6. MALTA, Deborah Carvalho; STOPA, Sheila Rizzato; SZWARCWALD, Celia Landmann; GOMES, Nayara
Lopes; SILVA JÚNIOR, Jarbas Barbosa; REIS, Ademar Arthur Chioro dos. A vigilância e o monitoramento
das principais doenças crônicas não transmissíveis no Brasil – Pesquisa Nacional de Saúde, 2013. Rev Bras
Epidemiol; v. 18 (Suppl 2), p. 3-16, 2015.
7. Brasil. Ministério da Saúde. A vigilância, o controle e a prevenção das doenças crônicas não-transmissíveis:
DCNT no contexto do Sistema Único de Saúde brasileiro. Brasil. Ministério da Saúde – Brasília: Organização
Pan-Americana da Saúde, 2005. Disponível em: [http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/DCNT.pdf].
p. 17. Acesso em: 23.06.2018.
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Capítulo 3 • GenômiCa nutriCional
A transição epidemiológica da saúde não é um fenômeno isolado, ela decorre de
vários fatores como o acesso a serviços de saúde, ao processo de urbanização, sane-
amento básico, e as mudanças culturais signif‌icativas, como a transição nutricional.
A transição nutricional pode ser entendida como modif‌icação do comportamento
alimentar e do estado nutricional da população.
Com aumento do processo de urbanização, a população das grandes cidades tem
optado por práticas alimentares que priorizam a praticidade, a rapidez, a economia.
Esse comportamento acarreta, muitas vezes, a perda da qualidade nutricional, carac-
terizado pelo consumo em excesso de alimentos industrializados, ultraprocessados,
ricos em sal, gorduras e açúcares, e pobres em f‌ibra na dieta alimentar, sem contar a
perda da identidade cultural, social e ética que o alimento representa.8-9
Estudos têm apontado um rápido crescimento das DCNT no Brasil. O sobrepe-
so e a obesidade aumentaram de forma alarmante, segundo dados da Organização
Pan-Americana da Saúde (OPAS), nas diferentes faixas etárias, sendo que 33,4%
das crianças, com idade entre 5anos a 9 anos, apresentaram excesso de peso; 20%
dos adolescentes estão com sobrepeso; 20% dos adultos com obesidade e 57% com
sobrepeso.10 As doenças cardiovasculares, por outro lado, são responsáveis por 33%
dos óbitos com causas conhecidas, sendo a hipertensão arterial responsável por 25%
da prevalência da cardiopatia isquêmica e 40% dos acidentes vasculares cerebrais.11
O número de indivíduos com diabetes mellitus no mundo está na ordem de 387
milhões, podendo alcançar 471 milhões em 2035, sendo entendida, pela Sociedade
Brasileira de Diabetes, como uma epidemia em curso.12
Algumas evidências da associação entre nutrição e doenças crônicas não trans-
missíveis vieram de estudos de correlação entre taxa de mortalidade ou incidência
da doença com os hábitos alimentares.
Assim, estudos sobre padrões alimentares têm demonstrado que o consumo
elevado de alimentos fontes de gorduras saturadas e de ácidos graxos na conf‌iguração
8. RIBEIRO, Cilene da Silva Gomes; PILLA, Maria Cecilia Barreto Amorim. Segurança alimentar e nutricional:
interfaces e diminuição de desigualdades sociais. Demetra, v. 9, n. 1; p. 41-52, 2014. Disponível em: [http://
www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/demetra/article/view/6642]. Acesso em: 23.06.2018.
9. CASOTTI, Leticia; RIBEIRO, Andréa; SANTOS, Claudia; RIBEIRO, Priscila. Consumo de alimentos e
nutrição: dif‌iculdades práticas e teóricas. Cadernos de Debate, v. 6, p. 26-39, 1998.
10. Organização Pan-Americana da Saúde. O enfrentamento da obesidade e doenças crônicas não transmissíveis.
In:___________. Sistemas alimentares e nutrição: a experiência brasileira para enfrentar todas as formas de
má nutrição. Brasília, DF: OPAS; 2017, p. 104-115. Disponível em: [http://www.cfn.org.br/wp-content/
uploads/2017/09/oms.pdf]. Acesso em: 23.06.2018.
11. PASSOS, Valéria Maria de Azeredo; ASSIS, Tiago Duarte; BARRETO, Sandhi Maria. Hipertensão arterial no
Brasil: estimativa de prevalência a partir de estudos de base populacional. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília,
v. 15, n. 1, p. 35-45, mar. 2006.
12. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Epidemiologia e prevenção. In:_______ Diretrizes da Sociedade
Brasileira de Diabetes (2015-2016) / Adolfo Milech...[et. al.]; organização José Egidio Paulo de Oliveira,
Sérgio Vencio – São Paulo: A.C. Farmacêutica, 2016, p. 3-6. Disponível em: [http://www.diabetes.org.br/
prof‌issionais/images/docs/DIRETRIZES-SBD-2015-2016.pdf]. Acesso em: 23.06.2018.
Biotecnologia e Biodireito_vol-02.indb 75 06/02/2019 14:47:29

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