Gestão e LER-DORT

AutorLenz Alberto Alves Cabral
Ocupação do AutorMédico do Trabalho, especialista em Medicina do Trabalho pela AMB/ANAMT
Páginas117-141

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1. Introdução

As fontes de estudo do grupo de distúrbios conhecidos como LER-DORT (distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho), decorrentes de sobrecarga biomecânica, encontram-se pulverizadas em várias especialidades por acometerem vários segmentos corporais em suas estruturas, como músculos, tendões, fáscias, nervos, bolsas articulares e pontas ósseas, resultando em também vários sinais e sintomas, como fadiga, dor, limitação de movimentos, parestesias, podendo evoluir para um síndrome dolorosa crônica, queda de produtividade, incapacidade temporária ou até definitiva.

Como se pode ver, o que este grupo heterogêneo de distúrbios apresenta em comum é a sua causa geradora, sendo decorrente da funcionalidade na forma de uso do segmento corporal, determinando assim a sobrecarga biomecânica. Assim, apresentamos uma classificação funcional (anatômico e funcional) para facilitar a compreensão.

2. Objetivos

Os nossos objetivos específicos são:
- Conhecer os distúrbios osteomusculares mais frequentes, enquadrados no grupo das chamadas LERDORT, as causas mais comuns, o seu diagnóstico clínico e a legislação brasileira referente a estas doenças;

- Conhecer a classificação funcional destas patologias, agrupando-as de acordo com a fisiopatologia de cada uma, com base nas principais sobrecargas biomecânicas relacionadas a cada uma delas;

- A determinação do Nexo Causal com o trabalho será estudada em outra aula específica;

- Lei n. 8.213/1991;

- Determinar o Padrão Operacional diante de patologias do grupo LER-DORT.

3. Ler-dort e a legislação brasileira

Como Legislação de destaque, para ser estudada, podemos citar:

- Instrução Normativa n. 98 do INSS;

- Ordem de serviço 606 do INSS;

- Lista B, do Anexo II do Decreto n. 3.048;

- Sugestões Médico-Trabalhistas da ANAMT.

4. Ler-dort e sua evolução histórica

É importante conhecer o histórico da evolução do nome LER-DORT, porque ele nos ajuda a compreender este complexo grupo de doenças osteomusculares.

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Inicialmente, como o nome LER, ou seja, Lesões por esforços repetitivos, não correspondia à maioria das patologias do grupo, por não apresentarem as tais “lesões”, mas apenas “distúrbios”, assim como o risco ergonômico ambiental não são apenas os “esforços repetitivos”, pois poderiam ser quaisquer outros, ou ainda mais comum, a associação de vários outros (compressão mecânica, postura inadequada, força excessiva ou vibração), o nome foi substituído por DORT, ou seja, Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho, tendo sido mantido LER-DORT apenas por preservação da história da origem deste grupo de patologias. Assim, “lesão” deu lugar à “distúrbio” e “esforços repetitivos” deu lugar a “relacionado ao trabalho”. O nome LER-DORT se manteve por agregar em si tanto um conteúdo histórico da evolução do conhecimento sobre tais patologias como também pelo seu efeito pedagógico.

5. Principais doenças do grupo ler-dort

Este grupo se encontra na lista B, do Anexo II do Decreto n. 3.048, aqui destacando as principais doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho, relacionando cada uma delas com os seus respectivos “fatores de risco de natureza ocupacional” citados nesta legislação.

Chamamos de Patologias Risco-Símile pelo fato da legislação brasileira citar em uma coluna a “patologia” e na outra coluna o “risco” ambiental ocupacional relacionado a tal patologia, daí patologia “Risco-Símile”. Assim, são relacionadas por exemplo, de um lado (na coluna de doenças), a Síndrome do Túnel do Carpo e do outro (na coluna de agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocupacional), os riscos “posições forçada e gestos repetitivos”, conforme quadro abaixo.

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6. Sobrecargas biomecânicas classificação

A biomecânica utiliza leis da física e conceitos de engenharia para descrever movimentos realizados por vários segmentos corpóreos e forças que agem sobre estas partes do corpo durante atividades normais de vida diária. Por esta definição, a biomecânica é uma ciência multidisciplinar que requer a combinação dos conhecimentos das ciências físicas e da engenharia com as ciências biológicas e comportamentais.(18)

As sobrecargas biomecânicas, que são estudadas com mais detalhes nas aulas de Análise Ergonômica do Trabalho, são classificadas em:

- Repetitividade

- Postura inadequada

- Força excessiva

- Compressão mecânica e Vibrações.

7. Classificação funcional das ler-dort

A classificação proposta para o grupo de doenças LER-DORT tem o objetivo de facilitar a sua compreensão.

Assim, vamos classificar as doenças osteomusculares dos membros superiores com base em critérios anatômico, funcional e os princípios da biomecânica.

Dessa forma, podemos classificar o grupo LER-DORT como distúrbios:

- Da Face flexora, ou anterior.

- Da Face Extensora, ou posterior.

- De origem Compressiva, geralmente por compressão decorrente de contato com superfícies duras.

- De origem da Elevação dos braços.

- Outras origens, como vibrações e situações de “recrutamento”.

Na verdade, o que se pode observar na prática é que um distúrbio decorrente de sobrecarga biomecânica geralmente não é causado apenas por um tipo “único” de sobrecarga biomecânica, mas sim por uma

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associação entre eles. Assim, temos geralmente uma associação entre as sobrecargas biomecânicas (repetitivi-dade, força excessiva, postura inadequada, compressão mecânica e vibração) em combinações variáveis tanto quanto ao tipo de sobrecarga, quanto à sua intensidade de cada uma, entendendo tal classificação apenas como um recurso didático que muito tem facilitado a compreensão deste grupo de doenças.

A. Face flexora, ou anterior.

São os distúrbios que acometem as estruturas da face anterior dos membros superiores, geralmente decorrentes de sobrecargas direta ou indiretamente relacionadas à face flexora: flexão dos dedos e punho, seja com repetitividade, força excessiva ou postura inadequada/postura estática. Assim, temos os distúrbios:

- Dedo em gatilho ou tendinite nodular: M65.3

- Fibromatose da fáscia palmar ou moléstia de dupuytren: M72.0

- Síndrome do túnel do carpo(STC): G56.0

- Epicondilite medial: M77.0

B. Face Extensora, ou posterior.

São os distúrbios que acometem as estruturas da face posterior dos membros superiores, geralmente decorrentes de sobrecargas direta ou indiretamente relacionadas à face extensora, seja na sustentação anti--gravitacional do próprio membro superior ou na sustentação de objetos, peças ou ferramentas. A sobrecarga pode ser também decorrente de extensão dos dedos e punho, seja com repetitividade, força excessiva ou postura inadequada, da sua ação estabilizadora do membro durante a flexão ou de movimentos de extensão vigorosos (com aceleração) como a ação de “chapiscar a parede” pelo pedreiro, ou mesmo o backhand executado pelo tenista.

- Tendinite estilo radial ou de DeQuervain: M65.4

- Tendinite ou sinovite crepitante do punho: M70.0

- Epicondilite lateral: M77.1

C. Compressiva, geralmente ocorre por compressão pelo contato com superfícies duras ou com quinas vivas, objetos ou peças duras, ou ainda cabos de ferramentas como facas, alicates etc. Qualquer superfície corporal pode ser injuriada pelo contato prolongado com superfícies (assim como as próprias escaras de decúbito decorrentes de compressão de segmentos corporais por períodos prolongados), em especial, as superfícies duras, algumas regiões se destacam por apresentarem doenças do grupo das LER-DORT, como a compressão do nervo ulnar nas regiões do cotovelo e do punho.

- Síndrome do Canal de Guyon: G56.2

- Síndrome do túnel cubital: G56.2

D. Elevação dos braços.

Aqui, o fator fundamental é a elevação dos membros superiores (seja por abdução ou flexão do braço), comprimindo estrutura importantes, seja por mantê-los elevados por longo período, ou por repetitividade (flexão-extensão e abdução- adução).

- Tendinite do supra espinhoso: M75.1

- Tendinite da cabeça longa do bíceps: G75.2

- Síndrome do desfiladeiro torácico: G54.0 (transtornos do plexo braquial- síndrome da saída do tórax)

E. Outras origens, como “vibrações” e situações de “recrutamento”.

Aqui, duas situações se destacam.

Uma, a vibração como fator de...

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