God wants me to be president': O papel do cinturão bíblico na política contra o terror durante os governos de George W. Bush

AutorFilipe Almeida do Prado Mendonça - Gabriel Almeida Ribeiro
CargoProfessor Adjunto do Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia - Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia
Páginas360-379
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DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2017v24n38p360
“God wants me to be president”: O papel do cinturão bíblico na
política contra o terror durante os governos de George W. Bush
“God wants me to be president”: The role of the Bible Belt in the
policy against terror during the George W. Bush governments
Filipe Almeida do Prado Mendonça1
Gabriel de Almeida Ribeiro2
Resumo: Este artigo busca identicar aspectos da relação entre religião e
política externa nos Estados Unidos. Arma-se que tal relação é determinante
para a compreensão da política internacional do governo de George W Bush
(2001-2009). Isso se dá em grande medida devido o peso eleitoral do cinturão
bíblico (bible belt). Esta região compreende a área do extremo sul dos Estados
Unidos, predominantemente conservadora e cristã. Dessa maneira, armamos
que a religião é decisiva no contexto político estadunidense. Sendo assim,
verica-se que o “cinturão bíblico” exerce inuência também na política
externa, legitimando por meio do discurso parte dos posicionamentos norte-
americanos no cenário internacional e nas estruturas da governança global
(2001-2009).
Palavras-chave: cinturão bíblico, política externa, conservadorismo religioso,
partido Republicano
Abstract: This article seeks to identify aspects of the relation between religion
and foreign policy in the United States. It is believed that this relation is decisive
for understanding the international politics of George W Bush’s government
(2001-2009). It happens due to the biblical weight of the Bible Belt. This region
comprises predominantly conservative and Christian southernmost area of the
United States. In this way, we arm that religion is decisive in the American
political context. Thus, the “biblical belt” also exerts inuence in foreign
Artigo
361
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 360-379, dez. 2017.
policy, legitimizing through discourse part of the American positions in the
international scene and in the structures of global governance (2001-2009).
Keywords: bible belt, foreign policy, religious conservatism, Republican party
Introdução
A sociedade estadunidense é em sua maioria religiosa e o cristianismo
é de longe a principal corrente. Segundo uma pesquisa realizada pela Pew
Research Center3, 70,6% da população daquele país é cristã, sendo 51,3%
protestantes, 23,9% católicos, 1,7% mórmons. Além dos cristãos, 4,7%
professam outro tipo de fé (judaísmo, islamismo, budismo, hinduísmo, entre
outras), enquanto 16,1% se consideram ateus ou agnósticos. Neste contexto,
destaca-se a área conhecida como “o cinturão bíblico” (bible belt) que abrange
o extremo sul e sudoeste do país com percentual de cristãos acima da média
nacional, composto pelos estados federados da Carolina do Sul (78%), Carolina
do Norte (77%), Alabama (86%), Geórgia (79%), Mississipi (83%), Tennessee
(81%), Kentucky (76%), Arkansas (79%), Texas (77%), Missouri (77%),
Oklahoma (79%), Louisiana (84%), Virginia (73%) e parte da Flórida (70%),
Kansas (76%), Illinois (71%), Virgínia Ocidental (78%), Ohio (73%) e Novo
México (75%) com população cristã, defensora de valores tradicionalistas e,
por conseguinte, mais próxima ao partido republicano.
A inuência conservadora/religiosa não se limita aos processos eleitorais,
mas também se manifesta na formulação de políticas, tanto domésticas quanto
internacionais, como parece ter cado evidente durante o governo de George
W. Bush. Existe, portanto, uma relação entre o peso político eleitoral desta
região que compõe o cinturão bíblico com a formulação da política externa
estadunidense, principalmente em momentos de crise. 4
Os atentados terroristas de 2001 potencializaram esta relação: George W.
Bush (2001-2009) elege o combate ao terror como foco de sua política externa
e, dessa forma, dá contornos à doutrina Bush, resgatando e superestimando
valores caros à sociedade norte-americana como o destino manifesto e o
excepcionalismo. A doutrina, portanto, entendia os Estados Unidos como
“protetores” do mundo contra o terrorismo. 5
O destino manifesto tem raízes profundas na história norte-americana.
No século XVIII, a América do Norte serviu como destino de perseguidos
políticos e religiosos, além de se apresentar como região de oportunidades num
cenário de crises econômicas intensas. A partir da tradição cristã/protestante,
gerou-se um sentimento de missão em termos bíblicos onde aqueles que antes
estavam impedidos de praticar sua religião na Europa almejavam por colocar
em prática os ensinamentos religiosos sem discriminações. Segundo Luiza
Mateo6, os puritanos imigrantes, impossibilitados de seguir sua fé na Europa,

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