Guerra dos Farrapos (1835-1845): entre o fato histórico e suas apropriações

AutorÂnderson Marcelo Schmitt
CargoDoutorando em História pela Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC, Brasil. Bolsista CNPq
Páginas358-377
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DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2018v25n40p358
Guerra dos Farrapos (1835-1845): entre o fato histórico e
suas apropriações
Farrapos’ War (1835-1845): between historical fact and its
appropriations
Ânderson Marcelo Schmitt1
Resumo: Neste artigo trataremos da Guerra dos Farrapos – ou Revolução
Farroupilha -, ocorrida no Rio Grande do Sul entre os anos de 1835 até 1845.
Esta guerra civil é o fenômeno histórico mais debatido pela historiograa sul-
rio-grandense, despertando o interesse de vários pesquisadores acadêmicos
e diletantes. Além deste interesse por parte dos pesquisadores, a Guerra dos
Farrapos passou para o calendário de comemorações ocial no Estado do Rio
Grande do Sul, possuindo uma semana com o seu nome – Semana Farroupilha
-, na qual se celebra e se ritualiza as ações de estancieiros, em sua grande
maioria senhores de escravos, que levaram a cabo uma luta fratricida em busca
de maior espaço de representação política e econômica junto ao poder central.
Desta forma, entendemos que a comemoração e ritualização da Guerra dos
Farrapos no 20 de setembro – data que marca o início do confronto – não pode
ser realizada sem compreendermos qual a sua real importância histórica, o que
representou o conito para os contemporâneos e quais os interesses que estavam
em jogo. Dispusemos para esta pesquisa da imensa possibilidade historiográca
que temos à disposição e da documentação primária disponibilizada pelo
Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, bem como dos exemplares do
periódico ocial farroupilha.
Palavras-chave: Crise, Guerra dos Farrapos, Gauchismo.
1 Doutorando em História pela Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC, Brasil.
Bolsista CNPq. E-mail: anderson.schmitt@uffs.edu.br
Artigo
359
Revista Esboços, Florianópolis, v. 25, n. 40, p. 358 - 377, dez. 2018.
Abstract: In this article we will discuss the FarraposWar, which is
also called the Farroupilha Revolution - occurred in Rio Grande do Sul
between the years 1835 to 1845. This civil war is the most debated historical
phenomenon by the sulriograndense historiography, arousing the interest of
several academic researchers and dilettantes. In addition to this interest by
researchers, the Farrapos War went to the ofcial celebrations calendar in the
State of Rio Grande do Sul, having a week in its name - Farroupilha Week -
in which rancher`s old habits are celebrated and ritualized, being mostly of
them slaveholders, who carried out a fratricidal struggle in search of greater
space for political and economic representation in the central government.
Thus, we understand that the celebration and ritualizing of Farrapos War, on
September 20 - the date that marks the beginning of the confrontation - can
not be accomplished without understanding its real historical signicance,
representing the conict to contemporaneity and what interests were at stake.
We have had a great historiographical possibility which is available and the
primary documentation provided by the Rio Grande do Sul Historical Archive,
as well as copies of the Ragamufn ofcial journal.
Keywords: Crisis, Farrapos’ War, Gauchismo.
Palavras iniciais
Embora vários estudos demonstrem o contrário, ainda nos chama a
atenção o quanto a Guerra dos Farrapos, ocorrida na província do Rio Grande
do Sul, entre 1835-1845, passa ano a ano para o imaginário social como um
conito que colocou, de um lado, um Império usurpador e desprezível contra
uma província que pegou em armas para defender seus interesses contra “eles”,
que não respeitavam minimamente a dignidade e honra da população sul-rio-
grandense. Deve se ater ao fato de que a Guerra dos Farrapos não foi uma
guerra da população rio-grandense contra o Império brasileiro, mas sim, de
uma parte dos chefes militares ou para-militares contra outros chefes sul-rio-
grandenses, que continuaram a defender o governo imperial e foram auxiliados,
principalmente a partir de 1842, com levas trazidas de outros cantos do Brasil,
uma vez que neste ano estavam erradicadas rebeliões que agitavam outros
conns do Império - estas sim, muitas vezes com caráter popular.1
Anualmente, informações jornalísticas e midiáticas sobre o fenômeno
farroupilha costumam abarrotar os meios de comunicação rio-grandenses.2
Tão conhecida quanto a inundação de informações pertinentes a essa guerra,
é a constatação nos meios acadêmicos de que estas assertivas sobre o decênio
bélico são cercadas de lutas interpretativas que buscam legitimar uma imagem
do conito.

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