Herbert Marcuse, Paulo Freire e a economia solidária como alternativa emancipatória

AutorDaniel Calbino - Ana Paula Paes de Paula
CargoMestre em Administração e Doutorando em Administração (UFMG) - Mestre em Administração (FGV-SP) e Doutora em Sociologia (Unicamp)
Páginas425-447
Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, Volume 45, Número 2, p. 425-447, Outubro de 2011
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* Herbert Marcuse, Paulo Freire and solidary economy as an emancipatory way.
1 Mestre em Administração e Doutorando em Administração (UFMG). Professor Assistente do IFMG.
Endereço para correspondência: Rua Professor Nelson de Sena, 115, apto. 34, Aeroporto, Belo
Horizonte, MG, 31270-660 (dcalbino@yahoo.com.br).
2 Mestre em Administração (FGV-SP) e Doutora em Sociologia (Unicamp). Professora Adjunta da
UFMG. Endereço para correspondência: Avenida Antonio Carlos, 6627, sala 4033, Pampulha, Belo
Horizonte, MG, 21260-901 (appaula@face.ufmg.br).
Herbert Marcuse, Paulo Freire e a economia solidária
como alternativa emancipatória*
Daniel Calbino1
Ana Paula Paes de Paula2
Universidade Federal de Minas Gerais
O presente artigo visou compre-
ender porque as tentativas de revolu-
ções de caráter socialista “fracassaram”,
utilizando como referência as concep-
ções de Marcuse e Freire. Para realizar
esta tarefa recorremos principalmente à
análise das obras Eros e civilização de
Marcuse (1968) e Pedagogia do opri-
mido de Freire (2006b). Constatamos al-
gumas similaridades nas perspectivas
destes autores. Marcuse (1968) recor-
reu às teorias psicanalíticas de Freud
para compreender este fenômeno, e con-
cluiu que a causa é a repressão das pul-
sões de vida (Eros) que gera indivíduos
aptos a aceitarem uma sociedade repres-
siva e a temerem sua libertação. Freire
(2006b), por sua vez, partiu da premissa
de que os oprimidos carregam dentro de
si o opressor, reproduzindo suas atitu-
des e comportamentos quando chegam
ao poder, pois temem a liberdade de pre-
encher o vazio deixado pela expulsão do
opressor. Para sanar estes problemas,
Marcuse (1968) pregava a luta pela re-
dução do trabalho alienado, e Freire
(2006b) a busca por uma educação dia-
lógica entre o educando e o educador.
This paper aimed to understand
why the attempts of revolution socia-
list “have failed”, using as reference the
ideas of Marcuse and Freire. To accom-
plish this analysis was used the work
Eros and civilization Marcuse (1968)
and Pedagogy of the oppressed Freire’s
(2006b). We found some similarities in
the perspectives of these authors. Mar-
cuse (1968) drew on psychoanalytic the-
ories of Freud to understand this phe-
nomenon, and concluded that the cau-
se is the repression of the instincts of
life (Eros) that generates individuals
able to accept a repressive society and
with fear of his release. Freire (2006b),
in turn, started from the premise that the
oppressed carries within it the oppres-
sor, reproducing their attitudes and
behaviors when to comes to power, be-
cause they fear freedom to fill the void
left by the expulsion of the oppressor.
To remedy these problems, Marcuse
(1968) preached, the struggle for reduc-
tion of alienated labor, and Freire (2006b)
a dialogue between who teach and who
learn. After the exhibition and interpreta-
tion of the readings of the two authors,
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Revista de Ciências
H
Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, Volume 45, Número 2, p. 425-447, Outubro de 2011
Introdução
O presente ensaio teórico tem por objetivo compreender, sob a ótica de
Herbert Marcuse e Paulo Freire, os motivos que conduziram ao “fra-
casso” as revoluções de caráter socialista3, bem como avaliar o potencial
da Economia Solidária enquanto alternativa emancipatória na medida em
que esta se alinha com as recomendações destes autores para empreender
a revolução.
Em seu livro Eros e civilização, Marcuse (1968) aponta que a causa
da instituição da nova opressão é a interiorização instintiva do velho domí-
nio. Este autor se fundamenta nas teorias freudianas, e argumenta que a
dominação tornou-se algo interiorizado, pois o próprio sujeito acaba por
apoiar os senhores e suas instituições. Essa aceitação de uma sociedade
opressiva decorre da repressão das pulsões de vida (Eros) e do temor de
sua própria libertação (LOUREIRO, 2005). Uma alternativa, então, seria a
conversão dos impulsos reprimidos em impulsos de vida, o que seria mate-
rializado com a redução do trabalho alienado. É valido destacar o contexto
que influenciou Marcuse, que foi o pós-guerra, momento no qual as tenta-
tivas de revolução tinham sido derrotadas: nos EUA emergiam o consumo
de massa, o welfare state e a guerra fria, e o projeto socialista da URSS
não representava uma alternativa emancipatória real. Ao estudar Freud,
este autor deduziu que sem compreender como funciona a subjetividade
humana, a revolução seria ineficaz. E que uma revolução bem sucedida
deveria se centrar não apenas nas transformações radicais das bases ma-
teriais da sociedade, mas também na emancipação dos sentidos e na trans-
formação radical da consciência e do inconsciente (LOUREIRO, 2005).
Depois da exposição e interpretação das
leituras dos dois autores, apresentamos
a Economia Solidária como um cenário
para a implementação das saídas suge-
ridas por Freire (2006b) e Marcuse
(1968), o que a torna uma possível nova
via revolucionária.
Palavras-Chave: Economia solidária – Re-
volução – Herbert Marcuse – Paulo Freire
we present the Solidarity Economy as a
backdrop for the implementation of the
outputs suggested by Freire (2006b) and
Marcuse (1968), which become a possi-
ble way to revolution.
Keywords: Solidary economy – Revolu-
tion – Herbert Marcuse – Paulo Freire
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3 Ao se referir ao fracasso das revoluções socialistas, não se nega as contribuições que estas tentativas
geraram para a sociedade. O fracasso aqui se entende pela impossibilidade das mudanças estruturais
e culturais de caráter amplo e global, na qual se propuseram.

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