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A heterotopia abolicionista das drogas: as Marchas da Maconha como espaço de liberdade

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Vincent
AutorGuilherme Fernandes de Melo
Ocupação do AutorFormado em História pela Universidade Federal de Minas Gerais
Páginas157-170
ESTUDOS EM HOMENAGEM AOS 10 ANOS DO GRUPO CASA VERDE • 157
A heterotopia abolicionista das drogas:
as Marchas da Maconha como
espaço de liberdade
Guilherme Fernandes de Melo1
Uma introdução ao Proibicionismo
O uso de substâncias alteradoras de consciência é uma cons-
tante na história da maioria das sociedades humanas. As evidências
arqueológicas desse uso remontam a pré-história, e os primeiros re-
gistros escritos, conforme nos mostra o lósofo espanhol Antonio
Escohotado, remontam a obra Histórias (440 a.C.) do historiador
grego Heródoto (ESCOHOTADO, 1998). O livro é tido como um
dos primeiros registros do que viria a ser construído mais tarde como
a disciplina história. Em sua obra, o historiador registra um ritual
atribuído a tribo asiática dos Citas, que usaria a maconha, aquecida
entre pedras dentro de uma tenda, como uma forma de rito religio-
so. A transformação de substâncias de uso ritual e religioso em mer-
cadorias alvo de controle e interdição estatal se deu a partir de um
processo amplo que deniu as drogas como um problema social. Tal
processo teve por base a criminalização e a medicalização do consu-
mo (VARGAS, 2001), ou seja, a proibição e repressão de sua venda,
produção e consumo; o monopólio da medicina sobre sua adminis-
tração e controle e os discursos morais sobre seu uso ou abuso. Edu-
ardo Vargas (2006), ao se referir às políticas antidrogas, alerta para
esses discursos:
Embora seja possível encontrar exceções a essa regra,
as políticas antidrogas emprestaram força de lei a um
consenso moral que se tornou amplamente difundido
e que, sinteticamente, se expressa nos seguintes ter-
mos: drogas causam dependência, fazem mal, quando
não matam pura e simplesmente; usá-las, portanto,
é um absurdo; logo, “diga não às drogas”. (VARGAS,
2006 p. 582)
1 Formado em História pela Universidade Federal de Minas Gerais.

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