História das emoções, epistolografia e homossexualidades no Brasil: '(...)vocês falam pela minha garganta muda

AutorPaulo Roberto Souto Maior
CargoGraduado em História pela Universidade Federal de Campina Grande
Páginas229-249
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2016v23n35p229
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Paulo Roberto Souto Maior*
 Este artigo objetiva discutir a temática do assumir-se homossexual nas
cartas de leitor presentes no jornal Lampião da Esquina (1978-1981), distribuído
nacionalmente durante sua produção. Dentre os vários temas que constituíram
essa documentação epistolar, elejo a preocupação com a visibilidade pela sua
frequência tanto na seção, como nas demais matérias veiculadas no periódico.
Portanto, escrevo uma história das emoções em torno do binômio calar ou falar
a homossexualidade no Brasil entre as décadas de 1970-80.
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jornal lampião da esquina
*Graduado em História pela Universidade Federal de Campina Grande. Mestre em História
pela Universidade Federal de Pernambuco. É doutorando em História na Universidade Fed-
eral de Santa Catarina (UFSC) e pesquisador do Laboratório de Estudos em Gênero e História
da mesma instituição. É bolsista de doutorado do CNPq. E-mail: paulosoutom@gmail.com .
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Revista Esboços, Florianópolis, v. 23, n. 35, p. 229-249, set. 2016.
Abstract: This article aims to discuss the issue of taking up gay in the player
cards present in the newspaper Lampião da Esquina (1978-1981), distributed
nationally during production. Among the various topics that constituted this
epistolary documentation elect concern for visibility by its frequency both in
the section, as other articles published in the journal. Therefore, I write a story
of emotions surrounding the binomial silent or speak homosexuality in Brazil
between the decades of 1970-80.
Keywords: History of emotions; homosexualities; epistolography; newspapers
lampião da esquina
Fazia muito frio. Na Campina Grande de 1978, o inverno chegou mais
cedo, mais forte. O relógio ainda não marcava dezoito horas, mas já havia
anoitecido. M.C.L., morador(a) daquela cidade conhecida no interior do
Nordeste, caminhou na calçada da Praça da Bandeira. No seu rosto, um olhar
de coragem mesclava-se a um suspiro de receio. Determinado(a) e atento(a),
 Livro 7 para adquirir o novo número do
Lampião da Esquina. Saiu do estabelecimento, observou o comércio fechando.
Sentiu uma noite fria e pouco iluminada pelas nuvens pesadas embaçando o
céu. Caminhou em direção ao seu fusca vermelho, modelo 1976. Lá mesmo
se deleitou na leitura.
Extasiado(a) com o que tinha em mãos, com o conteúdo daquelas páginas,
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que Lampião chegará a Campina Grande todos os meses, garantam”.1 A escolha
dessa carta pelos organizadores da edição aponta para a voz de um sujeito do
qual sabemos apenas as iniciais, permanecendo oculta sua identidade; sua
transcrição explicita o desejo de ler o jornal. A localização aponta para uma
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lugares, e onde os houvesse, o Lampião se esforçava para chegar.
Mas de que se tratava o Lampião da Esquina? Foi um jornal surgido
em abril de 1978, escrita por e destinada em grande medida ao público
homossexual, a qual integrava parte da imprensa alternativa que emergiu no
país, sobretudo após a abertura “lenta e gradual” proposta em 1975 pelo então
presidente Ernesto Geisel.
O periódico circulou ininterruptamente até junho de 1981, quando, de

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