Homofobia - A Alma do Negócio

AutorDaniel Sampaio
CargoAluno de graduação do Curso de Direito da Universidade de Brasília.

No ano que precedeu meu ingresso na Universidade, uma dúvida me consumia: advogado ou publicitário? Optei pela segunda e o futuro demonstrou acertada a minha escolha. Consegui minha própria agência de propaganda e me tornei um homem bastante respeitado no meu meio. Desde então, pouco contato mantive com o mundo do Direito, salvo minha mulher (que era Procuradora) e uns dois ou três processos a que eu respondia por plágio e uso indevido da imagem. Assim, fiquei surpreso quando fui procurado por um tipo que se identificou como representante de uma Associação de Homossexuais de âmbito nacional e pediu minha ajuda para vender uma idéia: o casamento de gays.

No início, relutei (ia de encontro a muitos dos meus valores morais), mas depois de refletir sobre a proposta (400 mil dólares), acabei me despindo de todos os preconceitos e encampando o projeto. O sujeito então me explicou que um de seus argumentos principais era relativo ao direito sucessório, isto é, a situação mais do que comum em que dois homossexuais vivem juntos durante anos até que um deles morre e a família do de cujus é tida como legítima herdeira da parte que deveria caber ao companheiro (a). "Bem feito, quem manda não deixar testamento" pensei. Meio que adivinhando minhas idéias (e o olhar daquele sujeito me incomodava), ele argumentou que muitos gays morrem jovens e, nessa idade, pouca gente se dá ao trabalho de fazer um testamento; assim, por isonomia, devia regulamentar-se a união entre gays.

Quando o tipo foi embora, liguei para alguns amigos em busca de conselhos. O primeiro, exaltado, me atacou dizendo que gay tem mais é que "levar na .. " e avisou que, caso fizesse o comercial, não precisava voltar à casa dele. O segundo (heterossexual bem definido, mas um tanto restrito no campo das idéias) me garantiu que, conforme sua experiência jurídica (era advogado), bastava uma lei que regulasse especificamente a sucessão nas uniões gays e tudo se resolveria. Entretanto, a verdade eu já sabia: o grande benefício do "casamento" era moral, isto é, pela sua condição (muitas vezes expressa e/ou indisfarçável), os homossexuais recebem um tratamento que não se poderia chamar de diferenciado (seria eufemismo), mas necessariamente pior, seja por desdém, seja por ojeriza. Ainda me lembro de um programa de TV em que o repórter, fingindo-se gay, tentava reservar uma suíte num motel para ele e seu parceiro. Embora houvesse vagas em quase todos, a reserva foi recusada e mesmo a vinda...

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