Impactos da COVID-19: contradições e enfrentamentos em defesa da vida da população negra

AutorMargarida Cassia Campos, Angela Ernestina Cardoso Brito
CargoGeógrafa. Doutora em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Cursou estágio pós-doutoral na Universidade de Coimbra-Portugal. Professora do curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina e do Programa de Mestrado Profissional de Sociologia em Rede. Email: mcassiacampos@uel.br - Assistente Social. Estágio pós doutoral...
Páginas131-149
IMPACTOS DA COVID-19: contradições e enfrentamentos em defesa da vida da população negra
Margarida Cassia Campos
1
Angela Ernestina Cardoso Brito
2
Resumo
A presente pesquisa objetiva analisar, de forma inter-relacionada, três condicionantes: as fragilidades da implantação da
Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), as condições de vulnerabilidade socioeconômica e o
racismo estrutural na sua vertente de manifestação institucionalc omo determinantespara a compreensão dos índices de
mortalidade pela Covid-19napopulação negra (pretos e pa rdos) no mês de julhode 2020 (semanas epidemiológicas 27ª a
31ª).Como metodologia, elege-se apesquisa quanti-qualitativa, com discussões interpretativas dos conceitose análise de
dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio de 2019 e do Ministério da Saúde (hospitalizados e mortos pela
Covid-19).Os dados evidenciam a presença dos efeitos deletérios do racismo durante a p andemia.
Palavras-chave: Racismo estrutural. Covid-19. População negra
IMPACTS OF COVID-19: contradictions and confrontations in defense of the life of the blac k population
Abstract
This research aims to correlate three conditions: the weakn esses of the implementation of the National Policy for Int egral
Health of the Black Population (PNSIPN), the conditions of socioeconomic vulne rability and structural racism in its
institutional manifestation aspect as determinants for the understanding of mortality rates by Covid-19 in the black population
(blacks and browns) in the month of July 2020 (epidemiological weeks 27th to 31st).
As a methodology, quanti-qualitative research is chosen, with interpretive discussions of the concepts and data analysis of
the 2019 National Household Sample Survey and the Ministry of Health (hospitalized and killed by Covid-19) . The data show
the presence of the deleterious effects of racism during the pandemic.
Keyword: Structural racism. Covid-19. Black population
Artigo recebido em: 13/12/2020 Aprovado em: 17/05/2021
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v25n1p131-149
1
Geógrafa. Doutora em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Cursou estágio pós-doutoral na
Universidade de Coimbra-Portugal. Professora do curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina e do Programa
de Mestrado Profissional de Sociologia em Rede. Email: mcassiacampos@uel.br
2
Assistente Social. Estágio pós doutoral pelo Centro de Estudos Sociais na Universidade de Coimbra (CES/UC), Doutora
em Serviço Social pela Univer sidade Federal Fluminense (UFF). Professora permanente do Programa de Pós-Graduação
em Serviço Social (PPGSS) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). E-mail: angelafr o@yahoo.com.br
Margarida Cassia Campos e Angela Ernestina Cardoso Brito
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1 INTRODUÇÃO
Por que a pandemia da Covid-19 no Brasil impactou de forma diferente e particular alguns
grupos da população brasileira? Sabe-se que o racismo estrutural é responsável pela ordenação das
desigualdades socioeconômicas no Brasil. Discutir hipóteses para responder à pergunta lançada e à
premissa posta exige uma visão do “pensar por dentro” de como o racismo agiu no mês de julho
(recorte temporal da pesquisa) de 2020, de forma a dar uma explicação racional para os impactos da
pandemia no Brasil. Portanto, o objetivo do presente texto é de analisar, de forma inter-relacionada,
três condicionantes: as fragilidades da implantação da Política Nacional de Saúde Integral da
População Negra (PNSIPN), as condições de vulnerabilidade socioeconômica e o racismo estrutural na
sua vertente de manifestação institucionalcomo determinantes para a compreensão dos índices de
mortalidade pela Covid-19 na população negra (pretos e pardos) no mês de julho 2020 (semanas
epidemiológicas 27ª a 31ª).A pesquisa utilizou-se de metodologia quanti-qualitativa, primeiramente
mediante a discussão sobre raça e racismo, de acordo com o pensamento de Gomes (2017) e Almeida
(2018), e, em seguida,efetuando uma análise da construção histórica de políticas públicas, tensionadas
pelo movimento social negro e direcionadas para combater os efeitos deletérios do racismo, sobretudo
apontando as fragilidades e contradições da ainda incipiente implementação da Política Nacional de
Saúde Integral da População Negra (PNSIPN).Fica evidente, nessa análise, que a conquista de direitos
da população negra sempre foicondicionada por uma ofensiva das forças conservadoras e racistas que
“implodem” por dentro a total implantação e materialidade dessas conquistas.Para a fundamentação
desse ponto, foram eleitos os textos deGomes (2009), Werneck (2016), Barros et al. (2019) e Santos et
al.(2020).
Na última parte, foram utilizados dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios
PNAD (IBGE,2019), com a finalidade de apresentar as diversas vulnerabilidades socioeconômicasàs
quais está sujeita a população negra (considerada nesta pesquisa como a soma entre pessoas que se
autodeclaram pretas e pardas),como segregação socioespacial, que reserva,aos negros, habitações
em bairros com pouca ou quase nenhuma infraestrutura (distribuição de água, presença de rede de
esgoto, unidades de serviços de saúde e educação de qualidade, equipamentos de lazer, entre outros
aspectos), e altos índices de desemprego ou de subemprego. A situação de total desamparo ainda é
agravada pelo racismo estrutural, em sua manifestação institucional, do qual diariamente são vítimas,
visto na presente pesquisa como um processo de instalação de lógicas, procedimentos e condutas,
como nos apresenta Werneck (2016), que está impregnado na cultural institucional, como, por
exemplo, nos serviços de saúde, o que agrava as formas de acesso à prevenção e ao tratamento de
doenças, reservando aos negros o acometimento de altos índices de comorbidades.

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