A importância da linguagem para a teoria retórica realista

AutorTatiana Aguiar
Páginas39-57
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CAPÍTULO 2
A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM PARA A
TEORIA RETÓRICA REALISTA
2.1 A linguagem e o giro linguístico – da revelação à
construção da realidade
Como vimos no primeiro capítulo, existe uma íntima re-
lação entre a linguagem e a teoria retórica em estudo, razão
pela qual não haveria como seguirmos em frente, sem nos
aprofundarmos um pouco mais acerca do tema.
Como dissemos anteriormente, a escolha por esse refe-
rencial teórico se deu, dentre outros motivos, por ele ir ao
encontro das premissas que nortearam toda a nossa história
acadêmica, fundadas no construtivismo lógico semântico, que
nos foi magistralmente ensinado pelo Prof. Paulo de Barros
Carvalho.
Durante um longo período da história, viu-se a linguagem
como mero instrumento de comunicação, um elo entre o sujeito
e um objeto. Nesse tempo, concedia-se, à linguagem, a incum-
bência apenas de descrever os fenômenos, de relatar a existên-
cia concreta destes, o que até então era tido como dogma.
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A SUPERPOSIÇÃO DE DISCURSOS VENCEDORES
Com Kant e a sua fenomenologia, quebrou-se um para-
digma: já não se acreditava na possibilidade de se atingir as
coisas em si, mas o máximo que se alcançaria, dizia ele, seria
o que ela aparentava ser.
Impulsionados por essas novas ideias, não propriamente
as de Kant, mas as de pessoas que manifestaram discordância
com aquelas, como Wittgenstein, Ernest Mach, e com os cami-
nhos que o conhecimento científico estava tomando, um gru-
po de estudiosos das mais diversas áreas (física, matemática,
psicologia, direito, sociologia, lógica etc.) passou a se reunir,
sistematicamente em um dos muitos cafés vienenses, sempre
com o espírito aberto às críticas alheias e com a postura anti-
dogmática, para trocar ideias e experiências, as quais culmi-
naram com a criação de uma nova teoria, hoje por nós conhe-
cida como “Neopositivismo Lógico ou Empirismo Lógico”.
Com a heterogeneidade do grupo, mormente com a
presença de alguns lógicos, como Rudolf Carnap e Moritz
Schilick, logo a semiologia passou a fazer parte do seu foco
de interesse. O que, com o amadurecimento da ideia, levou os
Neopositivistas a “fundirem” a Epistemologia com a semióti-
ca, fazendo nascer uma teoria científica que tinha como seu
foco principal a linguagem.
Em outras palavras, o grande diferencial desse grupo de
cientistas era a conclusão que chegaram de que a linguagem
era o único instrumento capaz de levar ao conhecimento,
além de servir de modelo de controle dos conhecimentos por
ela produzidos.
Essa nova visão, que toma como pressuposto o poder
criador da linguagem, dá início a uma nova fase no mundo das
investigações, sejam científicas ou não, tendo servido como
divisor de águas para os estudiosos da época e para nós que
até hoje embasamos nossos estudos em princípios semeados
desde então. De tão impactante e revolucionária, essa revira-
volta intelectual ganhou o nome de giro linguístico.

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