Impressões da contemporaneidade: mercado, finanças, crise e o mundo do trabalho

AutorVagner Luís da Silva
CargoDoutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo
Páginas276-300
1807-1384.2014v11n1p276
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não
Adaptada.
IMPRESSÕES DA CONTEMPORANEIDADE: MERCADO, FINANÇAS, CRISE E O
MUNDO DO TRABALHO
Vagner Luís da Silva
1
Resumo:
Sublinhar alguns aspectos das mudanças sociais contemporâneas é o objetivo deste
ensaio, retomando temas de inequívoca importância na atualidade, bem como as
interpretações mais conhecidas sobre eles produzidas. Assim, destacamos: a
centralidade do mercado, apontando a sua capacidade de, a um só tempo, oprimir o
indivíduo pela construção de novas necessidades e depreciar o poder de
intervenção do Estado; a crescente financeirização da economia, cuja influência no
redirecionamento do processo de acumulação capitalista somente pode ser
compreendida com o aporte das novas tecnologias num mundo globalizado; a
dinâmica das relações de trabalho na contemporaneidade, sobretudo, frente à crise
recente que assola algumas economias centrais.
Palavras-chave: Contemporaneidade. Mercado. Crise. Mundo do trabalho. Capital
financeiro.
INTRODUÇÃO
Nos últimos 30 ou 40 anos as sociedades se viram às voltas com importantes
transformações que atropelaram o homem comum e a visão de mundo, mais ou
menos geral, por ele produzida. Mudanças originadas, sobretudo, no campo da
política e da economia, ora graduais ora coroadas como rupturas inesperadas; esse
conjunto razoavelmente heterogêneo de fatos e episódios ganhou visibilidade e
marcou o discurso mais recente nas ciências sociais. Muito embora, não haja
concordância absoluta em relação aos fatores constitutivos ou motivadores das
mudanças no mundo contemporâneo, podemos afirmar, em torno de algum
consenso, que a atualidade tem sido marcada por transformações demasiadamente
velozes e envolvidas pelo largo espectro da tecnologia e seus muitos
desdobramentos.
O propósito deste curto ensaio é o de expor um quadro geral que auxilie na
observação da dinâmica das sociedades nas últimas décadas momento de
1 Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo. Professor do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: vagnersilva125@gmail.com
277
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.11, n.1, p. 276-300, Jan./Jun. 2014
redefinição da política e das relações de trabalho, do imperativo da economia
financeira, da reestruturação produtiva, da consolidação de um arsenal sem fim de
novas tecnologias, de dissolução dos tradicionais laços de sociabilidade e de
adensamento de novas e incertas relações sociais. Procurar-se-á percorrer, mesmo
que sumariamente, alguns desses elementos que consideramos representativos das
mudanças recentes, bem como apontar algumas linhas de interpretação que têm
ecoado de maneira mais persistente nas discussões teóricas da atualidade.
A exploração da história imediata nos conduz por alguns tópicos inovadores,
como a tecnologia da informação, e por temas já conhecidos, mas experimentados
na contemporaneidade sob novos formatos, tais como as crises de conjuntura e o
poder do capital financeiro. De certo modo, temos a percepção de que se descortina
nas últimas décadas um novo quadro de referências e significados para a
compreensão coletiva. Ocorre que é inevitável algum sentido de que o horizonte
chegou trazendo o definitivo. Compreende-se, assim, que certa leitura do mundo
contemporâneo se debruce sobre o tema “mudança social” coroando a interpretação
deste momento histórico como crucial para a humanidade relativamente difusa no
circuito acadêmico tal leitura se ancora em conceitos como pós-modernidade e pós-
industrialismo.
2
Sem discutir os méritos desse rumo conceitual, nossa avaliação não partilha
da visão geral de que este momento experimentaria um corte histórico permanente e
sem precedentes em outros tempos. Como se o agora fosse o cume das
transformações sociais mais relevantes vividas em sociedade; o instante decisivo da
história humana. Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar. Embora compreendamos a
importância da dinâmica recente da história nas últimas décadas, não abdicamos de
compensá-la numa perspectiva processual. Perspectiva que admite a observação de
avanços e recuos no que diz respeito às ações coletivas, às relações de trabalho, ao
domínio econômico ou político. Assim, procuramos chamar a atenção para as
mudanças contemporâneas, não só pelo que elas têm de singular, mas também pelo
2 O debate em torno da ideia de Pós-Modernidade, embora tenha arrefecido na última década, é
muito diverso, tanto na sua fundamentação quanto no número de autores que nele se engajou. Um
sentido mais geral de ruptura, porém, é o elemento comum que dá alguma unidade ao conceito. Uma
boa introdução ao tema encontra-se em Anderson (1999).

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