Introdução

AutorFlávio Túlio Ribeiro Silva
Páginas11-25

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O Homem contemporâneo já se acostumou com tantos avanços tecnológicos, que traduziram em bem estar a facilidade desfrutada em seu cotidiano. A integração através do transporte permite a troca de mercadorias e otimização da produção e o abastecimento em torno do globo terrestre. A iluminação, que muito faltou anteriormente ao século XX, avançou nas áreas rurais e, principalmente, na urbana, firmando-se como algo comum na vida das pessoas. Alimentar 7,2 bilhões de pessoas na Terra, mesmo com dificuldades, é possível pela enorme evolução do conhecimento sobre insumos e o desenvolvimento de fertilizantes. Boa parte de novas linhas de produtos que nossa civilização utiliza em demasia provém de plásticos, pela praticidade e leveza, permitindo manufaturas mais leves e ampliando a utilização. Os diversos produtos químicos partem da cadeia produtiva e são inseridos em novas combinações, que vão da fabricação de ferramentas a remédios que muitas vezes garantem uma qualidade melhor de vida, quando não, em muitos casos, salvar ela própria.

Países cada vez mais urbanizados, concentrando continuamente em montantes e tamanhas construções de infraestrutura, prédios comer-ciais, industriais, residenciais, rodovias ou ferrovias, cruciais para esta formatação e que, portanto, não poderiam dispensar tijolos e argamassas. Este organograma não poderia esquecer os motores de combustão, alicerces da indústria mundial na cadeia produtiva e na grande maioria do maquinário para mantê-la e ampliá-la, com o uso do óleo, querosene ou gasolina.

Nossa sociedade tornou-se tão dependente desse modo de vida, que os antropólogos chamam-nos de homem hidrocarboneto, na era em

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que o petróleo é a substância mais importante do mundo, pelo modo de vida escolhido pela humanidade. Assim, é difícil imaginar uma adaptação desta atual sociedade ao desaparecimento do petróleo como fornecedor de todas as possibilidades de utilização. É fato que ele sempre existiu, seja nas citações de Homero, sobre uma luz dos barcos de Tróia que não se apagava, na constatação de Marco Polo no oriente próximo, de extensa camada pastosa negra a caminho da China ou nas massas de ajuntes nos palácios da babilônia e nas canoas dos nativos sul america-nos (YERGIN, Daniel. O Petróleo: Uma história de conquistas, poder e dinheiro, p. 25). A mudança é que a utilização dele subiu de patamar, desde o querosene, que ofereceu a luz às cidades do final do século XIX, passando pelos motores de combustão, com o primeiro automóvel Ford em 1896 ou o voo dos irmãos Wright num aeroplano mecanizado em 1903, ele passou a ser fundamental para evolução de negócios, segurança e desenvolvimento desta sociedade. O mundo passou a discutir a garantia de fornecimento deste produto e, a partir desta ótica, superou a categoria de commodities para ser um tema dos mais importantes na história política, com desdobramentos sociais e econômicos. Iniciado este processo, é correto afirmar que dentro da construção desta dependência está uma relação dominante: o capital privado e atuação do Estado como mecanismo de ordenação da utilização, exploração e repartição dos resultados. Como atividade, a indústria petroleira e sua renda são consequências de três fatores que muito influenciam o resultado: o capital, por ser uma produção de valor agregado alto e um tempo de maturação imprevisível entre a pesquisa, a descoberta e a extração; a tecnologia, pois o conhecimento sobre o modo de extração e refinamento tem resultados distintos à medida que pode determinar o montante de gasolina ou querosene a partir de uma quantidade fixa de barril; e a operação em escala ou global, pois a dimensão das companhias permite atender ao volume massivo dos compradores e redução de custos de logísticas. Dentro deste processo a proporção se altera entre a propriedade do estado ou do capital privado na medida dos acontecimentos históricos e, por conseguinte, o valor da renda petroleira. Dentro do cerne da nossa pesquisa, está a análise destes conceitos e sua representação no mundo, até alcançar mais especificamente a nação venezuelana.

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Quando o professor de química da universidade de Yale, em 1856, Benjamin Silliman Jr., produziu um relatório de pesquisa para o qual foi contratado, não podia imaginar que estava fornecendo premissas para a formatação da maior indústria mundial. Na ponta do contratante estava George Bissell, o líder de um grupo de pessoas que buscavam comprovar a utilização daquele manancial do "Óleo de Pedra" que escoava das minas de sal no noroeste da Pensilvânia.

A conclusão do relatório trazia uma informação determinante: "O Óleo podia ser levado a vários níveis de ebulição e com isto ser refinado de modo a resultar em muitas frações, todas compostas de carbono e hidrogênio. Um desses subprodutos era um óleo iluminante de altíssima qualidade" (YERGIN, Daniel. O Petróleo: Uma história de conquistas, poder e dinheiro, p. 22).

A realidade das cidades era de muita escuridão noturna, portanto, é correto dizer que não existiria melhor oportunidade para negócios e um salto de desenvolvimento que muito influenciaria uma época de acumulação de capital e tecnologia. O petróleo passaria a estar incorporado nos estratagemas nacionais, no poder e na política do Estado, dentro de uma utilização global.

O querosene iluminou as cidades, depois da descoberta superaria a escavação, herdando das minas de sal a tecnologia da sondagem e perfuração, o óleo jorrava em grande quantidade e apareceram os novos entraves: armazenagem e logística. Os barris e a estrada de ferro passaram a ser alicerces para uma nova indústria, atividades e trabalho. A Pensilvânia passou a ser detentora da "Region Oil", a bolha explodiu dando lugar a uma especulação ativa e de patamares cada vez maiores de produção.

Uma nova indústria produziu sua primeira grande companhia, a Standard Oil, tendo como seu proprietário um ícone do capitalismo, John Rockefeller. Operou de forma integrada e com massivo volume de capital, comprou terras onde cresciam os carvalhos para fazer os barris de armazenamento, adquiriu carros-tanques para distribuição e barcos para navegar pelo rio Hudson. Acumulou dinheiro o bastante para permitir a não dependência de financiadores e, em 1860, possuía não só a maior refinaria do mundo como era o maior comprador de óleo

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bruto dos Estados Unidos, preparando-se para um período de fusões e aquisições. Valeu-se muitas vezes da oscilação de preços para absorver empresas, reduziu o preço de venda em regiões que fossem estratégicas para excluir concorrentes, fez acordos com ferrovias para aumentar o frete para produtores independentes e comprou fretes inteiros para suas filiais transportarem seus produtos brutos ou refinados. Nesta política, Ferrovias e refinarias operariam como cartéis, repartindo entre eles os mercados e os resultados, facilitando novas aquisições e elevando a escala da empresa matriz. Chegou, então, o...

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