Introdução

AutorMarcella Furtado de Magalhães Gomes
Páginas8-13
INTRODUÇÃO
Os primeiros contatos com a obra de Aristóteles, em especial a
Ética a Nicômacos, apontaram para o problema da formação da
consciência da virtude.
Segundo o estagirita, a causa eficiente do movimento dos
animais, inclusive os homens, é o desejo. O prazer, que advém do
sentir, gravado na memória move-nos em direção ao objeto sensível.
Entretanto, a peculiaridade do homem em relação aos demais
animais, a racionalidade, afeta o nosso movimento, modifica-o como
forma de agir consciente. A razão, visando a ser em ato, evita a
exacerbação do desejo. Enquanto nous capta o fim excelente, o bem da
vida humana; como phronesis delibera acerca dos meios adequados à
realização do fim. De tanto advém o querer reto, que escolhe
exteriorizar o propósito que torna o homem mais próximo da
realização do fim.
Entretanto, é necessário que o querer tenha sido educado para a
virtude, ou seja, que seja querer habitual dos fins bons. Caso
contrário, ele se opõe à razão e realiza o vício. Parece haver uma
contradição no texto aristotélico: para tornar-me bom, devo querer os
fins bons; mas só os reconheço como tais se sou bom. Ademais, diz o
estagirita, só é virtuoso aquele que conscientemente escolhe praticar o
bem, ou seja, aquele que está motivado a agir em função do valor em
si da ação virtuosa.
Nosso problema delineava-se. Se é necessária a educação
formadora do hábito ético para que a ação seja boa, qual é, então, a
paideia adequada à formação da virtude? Se o agir ético é consciente,
como se dá o processo de formação no sujeito da consciência da
virtude de sua ação?
Como muitas vezes a intuição da solução acompanha o
problema, nossa hipótese surgia. A resposta parecia encontrar-se
vinculada à virtude da justiça. Esta é, para Aristóteles, o máximo
ético, na medida em que a praxis do justo é realização das demais
virtudes éticas. Ademais, a lei elaborada racionalmente, ou seja,
reflexão da razão imanente ao ethos grego, é objetivação do justo,
materialização de todas as virtudes éticas. Portanto, a paideia

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