O Jornal da Senhora de Noronha

AutorRaúl Antelo
CargoUniversidade Federal de Santa Catarina
Páginas61-82
http://dx.doi.org/10.5007/1984-784X.2012v12n18p61
61
O
J
ORNAL DA
S
ENHORA DE
N
ORONHA
1
Raúl Antelo
Universidade Federal de Santa Catarina
Rio de Janeiro, a mediados del siglo XIX: la Rua do Ouvidor
Torrentes de luz envolvian el mar y las montañas que cincundan la bahia rizada por una brisa
lijera. Una de ellas tiene la forma de un gigante acostado; y la cara de ese coloso no es otra que
la de Luis XVI, cuya nariz borbónica es modelad a por la prominencia de una roca. La ciudad
nos parecia un anfiteatro capric hoso que comparábamos á esos “Nacimientos” que habiamos
visitado en nuestra niñez. Las ondas semejaban de un color en que se confundian el verde, la
plata y el oro. Las líneas, claras unas, y vaporosas otras, de una vegetacion tropical suavizaban
el esplendor de un cuadro casi indefinible, pero que solo puede sentirse íntimamente á los
veinte años.
Fondeado el bergantin, hizo agradable paréntesis á nuestra admiracion la llegada de rápidos
esquifes dirigidos por negros que traian á bordo las primicias de aq uella tierra hospitalaria. Eran
enormes montones de plátanos y de naranjas que los marinos y los pasageros devoran.
2
Con estos elementos, nada exentos de exotismo por cierto, José Tomás, hermano del
poeta Carlos e hijo del general Guido, narra la llegada familiar a Rio de Janeiro en 1841. De
hecho, la capital del Imperio era una ciudad ajetreada que crecía a simple vista. Tenía en ese
momento 270.000 habitantes, de los cuales 110.000 esclavos, pero había, asimismo, un
substancial contingente de extranjeros (impedidos de ingresar antes de la transferencia de la
corte en 1806). Tres mil ochocientos franceses, 1400 ingleses, 3200 alemanes, 200
holandeses, 400 norteamericanos, otros tantos españoles, 1800 prusianos y un número
indefinido de suizos, italianos, austríacos y dinamarqueses, además de 25.000 portugueses.
Todos ellos dotaban a la ciudad no sólo de colorido multicultural sino de instituciones
innovadoras. Uno de sus visitantes, el inglés Gardner, observó que
Uma das mais belas r uas da cidade é a Rua do Ouvidor, não porqu e seja mais larga, mais limpa
ou melhor pavimentada que as outras, mas porque é ocupada principalmente por modistas
francesas, joalheiros, alfaiate s, livreiros, sapateiros, confeiteiros, barbeiros. Todas as casas são
guarnecidas com uma elegância que um estrangeiro não espera encontrar, e muitas têm janelas
1
Este texto, re digido, há muitos anos, a pedido de Paul Verdevoye, para figurar na edição bilíngue do
romance de Joana Manso, que deveria ter saído na coleção Archives da UNESCO, dirigida por Amos Segala,
como exemplo paradigmático de dupla escrita, português/espanhol, vem hoje a público em espanhol, porque
foi a língua escolhida nessa primeira e hipotética edição que nunca chegou a se concretizar e que, ao menos,
teve o mérito de autofantasmagorizar o próprio autor do ensaio.
2
Guido, José Tomás. Escritos. 2. ed. Buenos Aires, Casavalle, 1885, p. 140-1.
http://dx.doi.org/10.5007/1984-784X.2012v12n18p61
62
formadas de grandes painéis de vidr o, semelhantes aos que são agora tão comuns nas grandes
cidades da Grã-Bretanha. É a Regent Street do Rio e aí se encontram quase todos os objetos de
luxo europeus.
Es, en efecto, el momento en que surgen el Jardín Botánico, la Imprenta Real, la
Escuela Médico-Quirúrgica, la Academia Real de Dibujo, Pintura, Escultura y Arquitectura,
la Biblioteca Real, fruto de la transferencia de las colecciones de los Braganza, la Academia
de Marina y el Teatro São João. Ese nuevo e inquieto contingente urbano se agolpa y
circula por unas pocas calles céntricas, en especial, la del Ouvidor, a la que uno de los
narradores más destacados del período, Joaquim Manuel de Macedo, le dedicó un tableau,
las Memórias da Rua do Ouvidor, divulgado por el Jornal do Commercio en 1878 y que se abría
admitiendo justamente que:
A Rua do Ouvidor, a mais passeada e concorrida, a mais leviana, indiscreta, bisbilhoteira,
esbanjadora, fútil, noveleira, poliglota e enciclopédica de todas as ruas da cidade do Rio de
Janeiro, fala, ocupa-se de tudo; até hoje, porém, ainda não referiu a quem quer que fosse a sua
própria história.
Se tão elegante, vaidosa, tafulona e rica no século atual, porventura lhe apraz esquecer o
passado, para não confessar a humildade de seu berço, pois que é do Ouvidor, cerre bem os
ouvidos, porque tomei a peito escrever-lhe a história, mas com tanta verdade e retidão que se
lembrando-lhe seus tempos primitivos, ela tiver de amuar-se pelo ressentimento de sua soberba
de fidalga nova, há de sorrir depois a algumas saudosas e gratas recordações que avivarei em
seu espírito perdidamente absorvido pela garridice e pelo governo da moda.
3
Más allá de la calle peatonal, es en los teatros donde la población local entra en
contacto con modas y hábitos europeos. El São Pedro de Alcântara, el de São Januário, el
São Francisco, el Santa Leopoldina, el Santa Carolina, el del Comercio o el Liceu Francês,
construídos ex profeso o adaptados a partir de antiguos edificios, dan cuenta cabal del
movimiento artístico de la corte. El mismo Macedo, nacido en el interior fluminense, en
Itaboraí, al retratar su ciudad natal, describe las calles de la infancia y en especial la que
3
Macedo, Joaquim Manuel de. Memórias da Rua do Ouvidor. Rio de Janeiro, Tip. Perseverança, 1878. Para
Charles d e Ribeyrolles, en cambio, “a cidade, há pouco emancipada e ainda e m formação, não se tem, por
enquanto, adornado das flôres da arte. Mas, porventura, suas ruas não são museus viventes? Há no mundo
galeria mais rica, mais bizarra, do q ue essa mistura de raças que traficam nos portos, nos mercados, nas praças
públicas? E se o pensador, sempre inquieto de almas, se o pintor, seu irmão na luz, buscam estudo, nada terão
a recolher nessas fisionomias, nessas multidões?”. Apud Bandeira, Manuel y Andrade, Carlos Drummond de.
Rio de Janeiro em prosa e verso. Rio de Janeiro, José Olympio, 1965, p. 274.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT