Juventude(s) e políticas públicas

AutorReinaldo Pontes
CargoDoutor em Sociologia pela Universidad Complutense de Madrid
Páginas1-2
EDITORIAL
R. Katál., Florianópolis, v. 19, n. 1, p. 09-10, jan./jun. 2016
Juventude(s) e políticas públicas
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A presente edição da Revista Katálysis está centrada no tema juventude, conceito complexo, problemá-
tico, ambíguo e sempre submetido às determinações do contexto sócio-histórico em que se realiza. Logo,
parece mais apropriado falar-se de juventude(s), no plural.
Este conceito historicamente marcado por uma visão biologicista-generalista, uniformiza o tratamento
de fenômenos que envolvem fases da vida humana em fronteiras etárias fixas. A literatura especializada
nacional e internacional tem se inclinado por criticar e buscar a superação desses marcos tradicionais etários,
utilizando o conceito de ciclo de vida dos sujeitos no processo movente e contraditório das determinações que
implicam a passagem da infância (dependência familiar) à incorporação na vida adulta (autônoma). A mudança
nos marcos conceituais foi sendo determinada por processos históricos que produziram importantes transfor-
mações em todos os quadrantes das sociedades contemporâneas, registradas desde a profunda crise cíclica
capitalista deflagrada pela alta do petróleo no inicio dos anos 1970, com profundo impacto inicialmente nos
países industrializados e, posteriormente, se alastrado pelos demais países. As mudanças estruturais no merca-
do de trabalho, fruto da reestruturação produtiva e consequente elevação da escolarização, produziu o fenôme-
no do prolongamento da juventude ou o retardamento da saída da casa dos pais. Inclusive, nessa nova conjun-
tura de forças sociais, políticas e econômicas em âmbito mundial de crise prolongada e agravada, não há mais
um ponto fixo para a saída da juventude e chegada à vida adulta.
O histórico dos estudos nas ciências humanas e sociais apresentava a juventude no início do ciclo
geracional como portador de uma cultura alternativa ou como uma fase de rebeldia propicia a problemas.
Nos anos 1960-1970, a juventude aparecia como revolucionária, encabeçando movimentos pacifistas,
feministas, contra culturais e contestadores da ordem. No entanto, a crise capitalista iniciada a partir de
1974, que colocou um fim na Era de ouro do Welfare State, atinge em cheio o segmento jovem com a
escalada do desemprego estrutural, forçando o prolongamento do tempo de estudo e da relação de depen-
dência familiar, produzindo, desse modo, alteração no foco dos estudos sobre juventudes. O bloqueio que
a crise colocou ao processo de integração à vida adulta fez com que o foco dos estudos sobre juventude,
nas sociedades mais desenvolvidas, girasse em direção aos estudos chamados pós-estruturalistas, que
buscam integrar a percepção entre estrutura e ator, o que reflete, de certa maneira, a realidade de que o
caminho típico de acesso à vida adulta se tornou mais indefinido. E como bem afiança o Relatório final da
pesquisa “Juventude Brasileira e Democracia” realizada pelo Instituto IBASE/POLIS em 2005, “O plural
de referência à Juventude é o reconhecimento do peso específico de jovens que se distinguem e se
identificam em suas muitas dimensões, tais como de gênero, cor da pele, classe, local de moradia, cotidi-
ano e projetos de futuro”.
As diferentes juventudes têm sido afetadas em todos os quadrantes da sociedade globalizada. Dados da
Organização das Nações Unidas (ONU) revelam que a população mundial entre 15 e 24 anos, em 2004, era de
1,2 bilhão; deste contingente quase metade vivia com menos de dois dólares ao dia. Despois da crise de 2008
esse quadro, que era mais agudo nos países mais pobres e em desenvolvimento, atinge os países chamados
mais desenvolvidos, em particular o segmento juvenil. Estima-se em quase 90 milhões o número de jovens
desempregados em todo o mundo, segundo a Organização internacional do trabalho (OIT).
No Brasil, recentes estimativas (IBGE/DATASUS) para o ano de 2012 mostram que o país contava
com um contingente de 52,2 milhões de jovens na faixa dos 15 aos 29 anos de idade. O quantitativo representa
26,9% do total dos 194,0 milhões de habitantes projetados para o país pela mesma fonte. Estudos do PNAD
(2007) apontavam que aproximadamente metade dos desempregados é jovem e recebem metade do salário
dos adultos, sendo que, destes, apenas 27% trabalham de carteira assinada (IPEA/2008).

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