Lava Jato, Neogolpismo e Crise de Hegemonia: a função geopolítica da 'luta contra a corrupção'

AutorMateus Mendes, Daniel Máximo Goés de Lima e Pedro de Araújo Fernandes
Páginas119-136
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CAPÍTULO VII
LAVA JATO, NEOGOLPISMO E
CRISE DE HEGEMONIA
MATEUS MENDES
DANIEL MÁXIMO GOÉS DE LIMA
PEDRO DE ARAÚJO FERNANDES
a função geopolítica da “luta contra
a corrupção”
Introdução
As recentes revelações feitas por e Intercept Brasil demonstram
que a Operação Lava Jato (OLJ) tinha por intento interferir na política
brasileira. A substituição de um governo de esquerda e de atuação
internacional autônoma por um de direita e alinhado aos Estados Unidos
da América (EUA) mostra que a OLJ teve êxito em seu objetivo de alterar
os rumos da política brasileira.
O trabalho pretende contribuir para responder à seguinte
pergunta: como a OLJ se relaciona à política internacional? Nossa hipótese
é que a OLJ está inserida em uma estratégia dos EUA para preservação
de sua posição hegemônica. Nesse sentido, o presente trabalho tem por
objetivo analisar o papel que o dito combate a corrupção desempenha na
disputa de poder na esfera internacional, tomando como exemplo o caso
da OLJ e seus reexos geopolíticos.
A primeira etapa do trabalho dedica-se a mostrar o papel que
o “combate à corrupção” desempenha na atual crise de hegemonia.
Na segunda etapa, analisaremos como, tal qual em outros fenômenos
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Estado, democracia e sociedade
contemporaneamente chamados de neogolpes, entidades como o
Ministério Público e a Polícia Federal assumiram papel de destaque
nas apurações e contribuíram para o desgaste de membros da elite
política tradicional junto à opinião pública, incluindo aqueles que em
algum momento ocuparam a Presidência da República. Finalmente,
analisaremos as inuências e as relações de personagens da OLJ com
agências e instituições estatais dos EUA.
A justicativa do trabalho reside em contribuir para a
compreensão de um fenômeno que inuenciou e tem tido reexos na
forma de o Brasil se portar na arena internacional, bem como alterado
a balança de poder em toda a região sul-americana. A metodologia será
um estudo de caso a ser realizado a partir de análise documental.
Hegemonia, imperialismo e “luta contra corrupção
Ao recuperar as origens do conceito de hegemonia, John Agnew
(2005) explica que desde sua concepção, na Grécia Antiga, ele comporta
duas ambiguidades. Uma diz respeito ao campo semântico: hegemonia
poderia signicar tanto “domínio” quanto “liderança. Além disso, seus
métodos poderiam tanto poderiam ser a coerção como o consentimento,
ou ainda uma combinação de ambos.
Silvio Belligni (2010) arma que originalmente hegemonia
signicava “direção suprema”. Para ele, o exercício da hegemonia se
traduz pela preeminência militar, econômica e cultural, ou ainda através
do potencial intimidatório. Em suas palavras, “uma forma de poder
de fato que, no continuum inuência-domínio, ocupa uma posição
intermediária” (p. 579).
Destarte, temos uma questão substantiva ou material e outra
objetiva ou formal. Materialmente falando, hegemonia pode ser liderança
ou domínio, ou ainda estar entre esses polos. Do ponto de vista formal,
a discussão é qual método o hegemon faz uso, se o consentimento ou
a força. Finalmente, há uma correlação entre os aspectos materiais e
formais do conceito: liderança-consentimento e domínio-força.

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