Licenciados e licenciadas em Ciências Sociais na UFSC: Experiências, sentidos e trajetórias

AutorEduardo Vilar Bonaldi
CargoProfessor Adjunto no Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: eduvilarbon@gmail.com.
Páginas147-186
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2019v18n41p147/
147147 – 186
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Licenciados e licenciadas em Ciências
Sociais na UFSC: Experiências,
sentidos e trajetórias
Eduardo Vilar Bonaldi1
Resumo
Este artigo busca abordar e reconstruir trajetórias sociais, educacionais e acadêmicas de licenciados
e licenciadas no curso de Ciências Sociais da UFSC, partindo de um material de 12 entrevistas em
profundidade com egressos do curso durante os anos 2000. Primeiramente, abordamos as diferen-
ças quanto à dinâmica de “escolha” da licenciatura em Ciências Sociais entre entrevistados de
diferentes origens socioeconômicas, atentando, conforme aponta a literatura, tanto para os “reajus-
tamentos de expectativas” que podem conduzir a carreiras de menor prestígio social quanto para
experiências de socialização singulares que inculcam, em alguns dos entrevistados, propensões e
interesses especícos por nossa carreira. Posteriormente, discutimos algumas questões que foram
indistintamente tematizadas por diferentes pers socioculturais de entrevistados, entre elas, por
exemplo, a temática dos “ganhos não materiais” que os entrevistados associam recorrentemente
à formação em Ciências Sociais, a despeito das diculdades de prossionalização reiteradamente
armadas por eles.
Palavras-chave: Socialização. Trajetórias educacionais. Licenciatura. Ciências Sociais.
Introdução
Entre o segundo semestre de 2017 e o primeiro semestre de 2018, o
Núcleo de Estudos sobre Juventude e Cultura (NEJUC) do Departamento
de Sociologia e Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
conduziu uma experiência de pesquisa coletiva, integrando estudantes de
1 Professor Adjunto no Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catari-
na (UFSC). E-mail: eduvilarbon@gmail.com.
Licenciados e licenciadas em Ciências Sociais na UFSC: Experiências, sentidos e trajetórias | Eduardo Vilar Bonaldi
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graduação e de pós-graduação em Ciências Sociais, sob a coordenação dos
Professores Eduardo Bonaldi e Amurabi Pereira2.
Essa experiência de pesquisa consistiu na condução de 19 entrevis-
tas semiestruturadas e em profundidade com licenciados e licenciadas em
Ciências Sociais3, em nossa universidade, durante os anos 2000.
Todas as etapas da pesquisa foram realizadas durante os encontros
quinzenais do NEJUC ao longo desse período. As etapas da pesquisa divi-
diram-se em: A) revisão de literatura, B) discussão de perspectivas teóricas
mobilizadas, C) concepção do roteiro de perguntas, D) realização de três
entrevistas preliminares, E) discussão das entrevistas preliminares, F) Rea-
lização das demais entrevistas, G) Transcrição do material e preenchimento
de chas de resumo de cada entrevista e, nalmente, F) Interpretação do
material de entrevistas.
Todas as etapas da pesquisa foram conduzidas através da participação
e da deliberação coletiva entre os participantes do núcleo. Nesse sentido,
essa experiência objetivou, portanto, a realização coletiva de um estudo
que provesse, aos estudantes que integram o núcleo, a oportunidade de to-
mar parte ativa na concepção e na condução das diferentes etapas de uma
pesquisa de caráter qualitativo.
Dessa maneira, o referido exercício de pesquisa produziu, como vere-
mos, uma reexão empiricamente informada sobre as condições e trajetó-
rias (sociais e acadêmicas) que caracterizam experiências, sentidos e trajetos
vivenciados antes, durante e após a licenciatura em Ciências Sociais (dora-
vante, CS) na UFSC.
Desse modo, ao entrevistar licenciados e licenciadas em CS na UFSC,
os estudantes e os professores envolvidos no projeto foram impelidos a
reetir sobre os condicionantes socioeconômicos e culturais que atuam
2 Deixo aqui um agradecimento tanto aos estudantes de pós-graduação (Marcelo Cigales, Treicy Giovanella,
Tsamiyah Levi, Luana Lopes, Diego Greinert, Carolina Nascimento e Ana Martina Baron Engerohoff) quan-
to aos estudantes de graduação (Anderson Gabriel Cordeiro, Caroline Stresser, Sabrina Smialovski, Diane
Macedo e Inaê Barbosa) que participaram de diferentes etapas do projeto.
3 O presente artigo fundamenta-se nas transcrições de 12 entre as 19 entrevistas, uma vez que as outras sete
transcrições e os resumos de entrevistas ainda estavam sendo elaborados pelo grupo quando ocorreu o convite
para a contribuição com o presente dossiê.
Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 18 - Nº 41 - Jan./Abr. de 2019
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sobre A) a escolha e entrada no curso por parte dos entrevistados, B) suas
experiências dentro do curso e os sentidos que associam a ele e, por m,
C) a projeção dos destinos sociais e ocupacionais enxergados como “possí-
veis” ou “desejáveis” pelos entrevistados após a obtenção do diploma.
De fato, o projeto buscou indagar como diferentes e múltiplos con-
dicionantes sociológicos podem modular diferentes itinerários, experiên-
cias e sentidos associados pelos entrevistados ao “antes”, ao “durante” e ao
“após” a licenciatura em CS.
Com o intuito de expor os condicionantes sociológicos que levamos
em conta tanto para a formulação de nosso roteiro de perguntas, quanto
para a elaboração de nossas “estratégias de entrevistas”, provemos uma des-
crição sintetizada de tais condicionantes. Ademais, também é necessário
armar que, em virtude da pouca experiência na condução de entrevistas
em profundidade por parte dos estudantes, longas discussões foram feitas
para antecipar e simular recursos e estratégias que os estudantes poderiam
empregar para estimular os entrevistados a tematizar questões e assuntos de
interesse da pesquisa, associados aos condicionantes sociológicos expostos
logo em seguida4.
Segue, a seguir, a descrição sintetizada dos condicionantes sociológicos
previstos no roteiro de perguntas:
A) incorporação de diferentes estruturas familiares de capital (econô-
mico e cultural, sobretudo) sob a forma de diferentes propensões com-
portamentais e de diferentes “horizontes” de destinos ocupacionais vistos
como “possíveis” ou “desejáveis” pelos entrevistados após a titulação;
B) seus diferentes trajetos escolares (em estabelecimentos públicos ou
privados, por exemplo) até a escolha da licenciatura em CS na UFSC;
C) a evolução das redes de relações dos entrevistados antes, durante e
após o curso, bem como seus possíveis efeitos sobre as trajetórias sociais ou
educacionais desses entrevistados;
4 Tais discussões foram particularmente produtivas quando, durante o período de realização das entrevistas,
os estudantes expunham, nas reuniões do núcleo, as dificuldades concretamente experienciadas por eles em
algumas dessas entrevistas.

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