Análise etnográfica e discursiva das relações entre Estado e mulheres indígenas encarceradas no MS
Autor | Simone Becker - Livia Estevão Marchetti |
Cargo | Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados/MS, Brasil |
Páginas | 81-99 |
81
Revista de Ciências HUMANAS, Florianópolis, v. 47, n. 1, p. 81-99, abr. 2013
Ethnographic and Discursive Analysis on the Relationship between
State and the Incarcerated Indigenous Women in
Mato Grosso do Sul State
http://dx.doi.org/10.5007/2178-4582.2013v47n1p81
Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados/MS, Brasil
No presente artigo imergimos em enunciados
que compõem “aldeias arquivos” de condenações
criminais de mulheres indígenas do sul mato-gros-
sense. A partir da análise de discurso, de vertente
foucaultiana
e sugerimos as seguintes conclusões: (1ª) estreita-
-
namento e de aprisionamento; e (2ª) as “violências
das representações” (re)produzidas pelos discursos
jurídicos tendem a se potencializar quando as mu-
lheres indígenas caem na teia do sistema criminal,
ora por questões de gênero, ora por questões ét-
nicas.
: Encarceramento – Mulheres In-
dígenas – Violências Estruturais – Mato Grosso do
Sul.
In this article we immerse in statements that
indigenous women of Mato Grosso do Sul state, in
Brazil. Based on Foucauldian discourse analysis
and on ethnographic analysis, we raise and su-
ggest the following conclusions: (1st) there are
theoretical and practical approximations betwe-
-
ced by legal discourses tend to strengthen when
indigenous women fall into the web of the criminal
justice system, sometimes by gender, sometimes by
ethnicity.
Keywords: Incarceration – Indigenous Women –
Structural Violence – Mato Grosso do Sul.
O presente artigo é fruto de movimentos complementares de pesquisas e
caminhos metodológicos trilhados, cabe destacar quais são esses movimen-
tos. Desde 2012, temos desenvolvido pesquisas que envolvem o entendimen-
jurídicos, sobretudo no que tange ao tratamento do e no sistema carcerário,
em especial, nos seguintes projetos: o Programa PROEXT 2013 - com fo-
mento do Ministério da Educação – MEC - intitulado NPAJ/FADIR/UFGD-
CENTRO DE EXCELÊNCIA EM DIREITOS HUMANOS e o projeto de
pesquisa “Maiorias que são minorias, invisíveis que (não) são dizíveis: etno-
Este artigo resulta, assim, da maturação de parte destes projetos, mais
82
BECKER, Simone; MARCHETTI, Lívia E.
as quais interagimos via entrevistas realizadas pela FUNAI em agosto de
uma de quatro indígenas detentas em Rio Brilhante, com o objetivo de com-
participantes em meio ao II Seminário de Saúde Mental Indígena, realizado
entre os dias 07 a 09 de agosto de 20131.
diz respeito aos aspectos metodológicos. Inicialmente, as entrevistas com as
mulheres indígenas aprisionadas foram realizadas sem a nossa participação,
tendo sido coordenadas pela Regional de Dourados da FUNAI/MS, a cujas
transcrições tivemos acesso por repasse e consentimento da própria Funda-
ção Nacional do Índio. Tratou-se, em síntese, de ação daquela seccional vi-
sando implantação de mapeamento da sociedade indígena encarcerada do sul
que se fez imergindo no lócus do Seminário de Saúde Mental Indígena e em
fontes documentais (processos judiciais), cabe destacar que:
1978), porém, estas aldeias podem ser “arquivos” no sentido
restrito aos “documentos”, e não apenas quando a abordagem
antropológica dialoga com a história. Neste sentido, Leite
(2002: 35), ao remarcar as particularidades do “fazer antropo-
resultado advindo da “memória, do pesquisador com os docu-
mentos e com os seus entrevistados (BECKER; SOUZA; OLI-
VEIRA, 2013, p. 108).
-
so olhar foram os métodos genealógico e arqueológico foucaultianos, face ao
que os autores explicitam em artigo recente:
Por que esta lente e não outra ancorada nos demais métodos de
análise discursiva? Nossa resposta é objetiva quanto a esta es-
colha, uma vez que a categoria analítica escolhida a priori – no
poderes que se (re)fazem perceptíveis no contexto do judiciá-
rio que não apenas tem o condão de produzir sujeitos (Butler
2004), mas também o de (re)atualizar as disputas entre saberes
Feitas estas considerações, mergulhamos no contexto sul mato-grossense
-
naento em reservas2
1 A participação neste evento foi orquestrada pelo colega Conrado Neves Sathler, juntamente com acadêmicos
em diferentes níveis de graduação e pós-graduação, com ou sem envolvimento direto com o PROEXT 2013.
2 e aqui será
utilizado propositadamente como categoria englobada por Terra Indígena, face ao fato de convergir para a explicitação
Para continuar a ler
PEÇA SUA AVALIAÇÃO