Making money while making difference : perspectivas do investimento de impacto no Brasil

AutorBianca Fortes Villaça
Páginas11-44

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Introdução

Observou-se, nos últimos anos, a ascensão da geração dos Millennials (ou geração Y). Destaque de estudos1e reportagens,2este grupo, composto pelos nascidos entre os anos de 1982 e 2003, representa hoje cerca de ~ (um terço) da população mundial e mais da metade da força de trabalho.3Com o objetivo de trazer à tona a discussão a respeito do que os líderes do amanhã pensam em relação aos negócios de hoje, a Deloitte organiza anualmente, desde 2012, a pesquisa Millennial Survey.

Em relação à quarta edição elaborada em 2015, o CEO da Deloitte global, Barry Salzberg, pontuou que "a geração Millennial quer mais das empresas do que aquilo que tem sido dado nos últimos 50, 20, ou mesmo 10 anos. (...) Esta geração está a enviar um sinal muito forte aos líderes mundiais de que a gestão das suas empresas e negócios deve ser feita com um propósito".4Diante deste cenário, o ideal de lucro em primeiro lugar - tal como premissa básica do capitalismo tradicional - vai, pouco a pouco, caindo por terra. A esse respeito, Michael E. Porter e Mark R. Kramer frisaram que, ao colocarem o lucro acima de tudo, as empresas acabaram por se distanciar das pessoas e foram "demonizadas", sob a perspectiva de prosperarem à custa da comuni-dade ao seu redor.5Na mesma linha, a Crise Econômica Mundial iniciada nos Estados Unidos em 2008 - considerada a pior desde a Grande Depressão - não só produ-

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ziu efeitos catastróicos para além de suas fronteiras, como também abalou a coniança e gerou indignação por parte dos americanos - e do mundo - em relação ao mercado inanceiro, frente à ganância de Wall Street e das grandes corporações.6Com efeito, players de destaque no mercado enxergaram uma via alternativa para investimentos. Neste contexto, promover os investimentos de impac-to signiica uma mudança de paradigma, partindo de uma ótica bidimensional (risco x retorno) em direção a uma visão tridimensional, isto é, alinhar a noção de impacto7aos conceitos de risco e retorno.8A partir da construção do tripé envolvendo risco - retorno - impacto, nasce a modalidade intitulada impact investing,9 que compreende:

investments made into companies, organizations, and funds with the intention to generate social and environmental impact alongside a inancial return. Impact investments can be made in both emerging and developed markets, and target a range of returns from below market to market rate, depending upon the circumstances.10Em recente levantamento elaborado pela Força Tarefa Brasileira das Finanças Sociais,11com apoio da Deloitte, foi apontado que apenas 3% (três por cento) do total de recursos disponíveis no contexto brasileiro para investimentos no campo social foram efetivamente utilizados, e esse valor, equivalente a 13 (treze) bilhões de reais, tende a quadruplicar nos próximos cinco anos, chegando a 50 (cinquenta) bilhões de reais. Por reconhecer e acreditar no po-

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tencial brasileiro, o presente trabalho tem por objetivo explorar, sem procurar esgotar, as perspectivas do investimento de impacto no Brasil.

Caracteriza-se, portanto, como uma pesquisa qualitativa do tipo exploratório, cujo problema de investigação foi orientado pela seguinte questão: "De que maneira os investimentos de impacto estão sendo (e poderiam ser) estruturados no contexto brasileiro, tendo em vista a experiência internacional?". Os conceitos aqui trabalhados foram coletados em dados secundários por meio de pesquisa bibliográica, incluindo consultas a artigos cientíicos, matérias de jornais, revistas e websites.

Como pontapé inicial, o capítulo 1 foi dedicado à relação entre a geração Y e o movimento da Responsabilidade Social Corporativa, abordando seu con-ceito e sua dupla inluência sobre a cultura empresarial. O capítulo 2, por seu turno, aprofundou o conceito dos investimentos de impacto e explorou a perspectiva histórica - no âmbito global - das iniciativas envolvendo este tipo de investimento, desde a criação da pioneira Força Tarefa de Finanças Sociais do Reino Unido, em 2000, culminando na concepção da Força Tarefa Brasileira de Finanças Sociais, em maio do ano de 2014.

Em seguida, o capítulo 3 destinou-se à abordagem, inicialmente, dos mecanismos inanceiros desenvolvidos internacionalmente para viabilizar in-vestimentos de impacto. O capítulo 4, por seu turno, destacou as iniciativas arquitetadas e precedentes existentes no contexto brasileiro no âmbito do ecossistema dos investimentos de impacto.

Por im, o capítulo 5 apresentará as conclusões inais e relexões sobre o futuro e as possibilidades do investimento de impacto no contexto brasileiro.

Capítulo 1: Negócios não são só negócios

1.1. A geração Millennials: Quem são e aonde querem chegar?

Também denominada geração Y, ou da internet, a geração Millennials engloba os indivíduos que nasceram entre o inal do século XX e o início do século XXI (1982 - 2004). William Strauss e Neil Howe foram precursores desta classiica-ção em 1991, com a publicação do livro Generations: The History of America’s Future.12

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Fonte: http://edition.cnn.com/interactive/2011/05/living/infographic.boomer/

Diferentemente dos baby boomers e da geração X, os millennials tiveram, desde seu nascimento, algum tipo de contato com a tecnologia e a mídia virtual, sendo considerados verdadeiros nativos digitais.

Com o objetivo de orientar as empresas e os empresários em meio às mu-danças globais que estão redeinindo as organizações como um todo - inclu-sive no tocante à ascensão dos millennials nos últimos anos - a Deloitte apresentou recentemente dois relevantes estudos: o Global Human Capital Trends 2016 e o The 2016 Deloitte Millennial Survey.

O relatório Global Human Capital Trends 2016 foi realizado junto a mais de 7 (sete) mil executivos espalhados por mais de 130 (cento e trinta) países, e apontou a existência de quatro grandes forças - no âmbito global - ca-pazes de redeinir o ambiente de trabalho, a força de trabalho e o trabalho per se, quais sejam: (i) alterações demográicas da força de trabalho; (ii) a disseminação da tecnologia digital, que modiicou a maneira como as empre-sas concebem, produzem e distribuem quase todos os produtos e serviços;

(iii) velocidade da inovação que, consequentemente, exige mais agilidade por parte das empresas para reagir às mudanças constantes do ecossistema dos negócios; (iv) celebração de um novo contrato social entre empresas e trabalhadores.13Especialmente em relação à questão demográica, o estudo evidenciou que a força de trabalho contemporânea está cada vez mais diversiicada. De um lado, os millennials - representando mais da metade da força de trabalho - com grandes expectativas em relação à experiência de trabalho, alinhada à ideia de propósito e constante aprendizado. De outro, os baby boomers - que continuam a trabalhar aos 70 (setenta), 80 (oitenta) anos - com o desaio de

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se adaptar às novas tecnologias e novos papéis no ambiente de trabalho, inclusive como subordinados a jovens.14Tendo em vista o incremento da sua representatividade no mercado de trabalho, entender o que os millennials pensam e querem é, sobretudo, um esforço necessário para antecipar o panorama do que nos aguarda num futuro próximo.

Neste mesmo passo, o relatório Millenial Survey 2016 coletou respostas de quase 8 (oito) mil participantes, distribuídos por 29 (vinte e nove) países, com o objetivo de trazer à tona a discussão a respeito do que os líderes do amanhã pensam em relação aos negócios de hoje.

Os resultados das entrevistas indicam que as empresas de hoje devem estar focadas nas pessoas e no propósito do por trás do seu negócio, e não apenas nos produtos e no lucro. Ou seja, suas prioridades - segundo a ótica millennial - vão além da maximização dos lucros e expansão dos negócios

(p. ex.: entrada em mercados estrangeiros): as empresas têm a tarefa de (i) oferecer boa remuneração aos seus empregados; (ii) garantir aos seus empregados o melhor ambiente de trabalho possível; (iii) investir na melhoria das habilidades de seus empregados; (iv) fornecer produtos/serviços que façam diferença positivamente na vida das pessoas; e (v) gerar e promover postos de trabalho.15Observa-se, então, a existência de um gap entre o que os millennials acreditam que as empresas deveriam fazer e o que elas - segundo sua percepção - efetivamente fazem. Muito embora prevaleça uma visão positiva quanto ao papel da empresa da sociedade, os entrevistados consideram que o propósito que move os negócios de hoje está muito aquém do que deveria ser.

Outra pesquisa atual que corrobora com este entendimento é a chamada Edelman Trust Barometer 2016, realizada com o intuito de mensurar a conian-ça das pessoas em relação ao Governo, Empresas, Organizações Não Governamentais (ONGs) e Mídia em 28 (vinte oito) países.

Após mais de 33 (trinta e três) mil entrevistas, o estudo apontou que as empresas são vistas como as entidades mais coniáveis para acompanhar o rit-mo rápido de mudanças mundo afora, à frente das ONGs e do Governo. Nesta conjuntura, as pessoas esperam que as empresas gerem lucros ao mesmo tempo em que melhoram as condições socioeconômicas das comunidades onde atuam, bem como veem com bons olhos os Chiefs of Executive Ofice (CEOs)

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que estão mais preocupados em criar impacto positivo de longo prazo, em detrimento dos resultados inanceiros a curto prazo.16Diante do exposto, podemos concluir que as empresas encontram-se no inal de uma estrada, com dois caminhos e uma escolha pela frente: (i) atender aos anseios dos millennials (e da sociedade como um todo), tomando para si a liderança da campanha em direção à humanização do sistema capitalista; ou

(ii) permanecer em "bolhas" isoladas das demandas multidimensionais das novas gerações, fadadas dessa forma ao insucesso. Os resultados obtidos pelos relatórios mencionados reletem que o ideal de lucro inanceiro em primeiro lugar, em prejuízo dos direitos humanos e do meio ambiente, não se justiica...

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